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Mauricio Stycer

Ao falar dos 150 mil mortos pela covid-19, JN "despolitiza" a cobertura

Hélter Duarte e Ana Luiza Guimarães no encerramento do "Jornal Nacional" de sábado (10) - Reprodução
Hélter Duarte e Ana Luiza Guimarães no encerramento do "Jornal Nacional" de sábado (10) Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

11/10/2020 12h43

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O Brasil registrou 150 mil mortos pela covid-19 neste sábado (10), uma triste marca que mereceu algum destaque nos principais telejornais do país. Na comparação com o noticiário exibido há dois meses, quando o país contabilizou 100 mil mortos pela doença, o que mais chamou a atenção foi o tom bem mais contido do "Jornal Nacional".

Em 8 de agosto, o JN dedicou 38 minutos (de um total de 64) para a cobertura, enfatizando a omissão do governo Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia. O presidente foi criticado por "menosprezar a covid" e por ser contra as medidas de isolamento social. No momento mais crítico, o telejornal perguntou se Bolsonaro cumpriu o dever constitucional de "implementar políticas que visem a reduzir riscos de doenças".

Neste 10 de outubro, dois meses depois, o JN dedicou 13 minutos (de um total de 50) à cobertura do assunto. Foi o primeiro assunto na "escalada" (os destaques do dia, lidos na abertura), mas não houve qualquer menção à atuação do governo nem mereceu nenhuma reportagem especial do telejornal.

"O Brasil passa oficialmente de 150 mil vidas perdidas desde o início da pandemia", anunciou Hélter Duarte. O repórter Alan Severiano mostrou que houve uma desaceleração do número de mortes de agosto para cá, mas lembrou que o Brasil se mantém como o segundo país com mais mortes por covid, atrás apenas dos Estados Unidos.

A única associação com o universo da política foi numa nota breve, lida por Ana Luiza Guimarães, informando que o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, foi diagnosticado com o novo coronavírus, assim como o governador em exercício do Rio, Claudio Castro.

O telejornal falou sobre o impacto da pandemia no diagnóstico precoce do câncer de mama, sobre como a doença mudou as celebrações do Círio de Nazaré, informou que Berlim impôs restrições à vida noturna da cidade pela primeira vez em 70 anos e registrou que o presidente americano, Donald Trump, retomou a campanha eleitoral sem informar se está curado.

Ao final do telejornal, diante de uma imagem com as palavras "150.236 vidas perdidas", Duarte disse: "O JN termina aqui com a nossa solidariedade às vítimas da pandemia".