"Meu diploma é o barro": festas do sertão inspiram esculturas de mestres
Carol Scolforo
Colaboração para Nossa
12/07/2022 04h00
Alto do Moura, bairro de Caruaru, em Pernambuco. Tudo começa na infância humilde do menino Ademilson, que aos nove anos começava a fazer os próprios brinquedos, observando o pai, escultor. O pequeno passava a mão numa bola de barro e dali surgia, como mágica, uma escultura nova para ele brincar. A diversão simples marcaria sua vida para sempre.
O pai, Manuel Eudócio, mais tarde seria um mestre importante na região. Mais do que isso, tornou-se pura inspiração para Ademilson não só pelo ofício, mas pela ousadia. "Um dia ele pegou meus brinquedos e levou para a feira de Caruaru para vender. Na volta me deu o dinheiro", conta, saudoso.
A partir dali, Ademilson completou o Ensino Médio e seguiu a carreira na Arte, como Manuel. Hoje, aos 57 anos, tem vivido desse prazer que é moldar esculturas.
Meu diploma é o barro e tenho vivido dele desde criança", conta, feliz.
Nas mãos, as tradições ganham força. "Retratar o dia a dia do sertão e as histórias das nossas raízes é o que me interessa. Meu pai focava muito nisso, foi uma figura humana extraordinária", diz.
Uma lição? Humildade. "Ele respeitava muito os clientes — do governador ao homem simples — e assim me ensinava. O governador na época era colecionador e a gente achava engraçado que ele ligava e papai marcava horário para ele ir ao ateliê, como faria com qualquer outra pessoa", ri, sobre o homem que deixou um legado de 50 mil peças de cerâmica.
"Eu me preocupo muito em fazer um trabalho mais qualificado, porque meu público são os colecionadores, as galerias de arte", diz Ademilson, que hoje participa da Fenearte na cobiçada Alameda dos Mestres.
Por mês chega a produzir 20 esculturas — a maioria já com destino certo, embora também venda pelo Instagram @ademilson_eudocio.
Meu sonho é continuar sobrevivendo da arte, como meu pai. Não me vejo longe dela. Também sonho ver meus filhos perpetuarem isso, mas eles têm o caminho deles. Me sinto realizado, não é todo artesão que chega onde cheguei".
"Sigo quase a mesma temática de meu pai e dentro dela vêm outras criações. Vou evoluindo e crescendo, como ele fez durante toda a sua vida." "O folclore, a própria natureza do Sertão, a vida, o cotidiano...não fujo dessa temática, quero seguir o mesmo roteiro de simplicidade que tanto toca as pessoas."O que me inspira
Manuel Eudócio
O dia a dia no Nordeste