Como móveis feitos de palha artesanal em Alagoas fizeram sucesso em Milão
Carol Scolforo
Colaboração para Nossa
21/06/2022 04h00
Era o fim de uma segunda-feira em Milão, na Itália. Tavinho Camerino (@tavinhocamerino) chegava para essa entrevista exausto, mas com voz de quem estava realizado. Cheio de contatos feitos no Salão Satélite, evento paralelo ao Salão Internacional do Móvel de Milão, fez parte da curadoria de Marva Griffin e sabia: tinha chegado a um lugar especial.
Suas peças chamaram atenção por carregarem a história artesanal de famílias alagoanas, suas raízes. Um investimento alto, sim, mas valioso para sua trajetória. Em meio ao mar de invencionices feitas de impressão 3D, Tavinho chamava atenção pela aposta no trabalho manual, à mira de lojistas do mundo inteiro. Contudo, não foi fácil chegar a essa cena.
Quando as pessoas ouviam que era criação brasileira, feita por uma comunidade e fora do circuito, olhavam diferente para meus móveis"
Há mais de quatro anos, antes de se formar em Arquitetura, tentou participar de uma mostra de decoração em Alagoas. Por não ter ainda diploma, foi barrado. "Então pensei em fazer o design de mobiliário de uma cervejaria dentro da mostra e deu muito certo. Depois, levei uma mesa feita em parceria com o ateliê de João das Alagoas para uma exposição no Rio de Janeiro. Assim, descobri que gostava de design e de trabalhar peças autorais com artesãos", conta.
Em Milão, ele exibiu o banco Ciça e a luminária L.ANp, feitas com fibra de palha de taboa, planta nativa das margens do rio, e alumínio em sua base. É nesse dueto entre artesanal e estrutura industrial que a coleção Taboa, sua mais recente, tem base.
A alegria de Feliz Deserto ecoa
Tavinho adapta seus desenhos às criações das artesãs de Feliz Deserto, buscando o mínimo de interferência. Material e mão de obra vêm de lá, onde vidas podem se transformar a partir dos saberes ancestrais de tramar a palha. "Busco fomentar o artesanato deles, pois vivem disso. Espero dar algo mais fixo, algo com o qual eles possam contar para crescerem", conta.
Difícil é dar escala a isso, mas o alagoano encara o desafio com orgulho. "Sempre tenho em mente a presença da cultura nordestina e dos festejos no meu trabalho. Pense num pessoal forte, arretado da peste? Com tanta adversidade esse povo é feliz, comemora, dança. É esse espírito que quero manter no que eu criar."
Temporada Arraiá
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