Brasilidade em desenhos únicos dão personalidade a cerâmicas de artista
Carol Scolforo
Colaboração para Nossa
22/09/2020 04h00
Quem vê as cerâmicas expressivas de Paula Juchem não imagina o quanto a vida a levou para ziguezaguear antes de encontrar-se com o barro. Para chegar a um trabalho permeado por fluidez e linguagem única, não faltaram também inquietude e coragem.
Gaúcha de Santa Maria (RS), ela chegou a São Paulo, onde se baseia atualmente, em 1996. Dois anos depois, partiu para uma temporada em Milão, na Itália. O plano era ficar seis meses — mas 15 anos se passaram com surpresas boas. Por lá, ela se casou com o fotógrafo Ruy Teixeira, teve dois filhos e descobriu a cerâmica.
Na verdade, um propósito de vida que a transportou do trabalho de design gráfico de revistas para a arte. Antes de chegar ao barro, Paula passou pelo photoshop, por ilustrações, colagens — e já nessa época identificavam o Brasil em seu desenho. "Era o início do que minhas obras expressam hoje, com brasilidade, botânica, frutas", diz.
O chamado
A cerâmica em si foi um chamado: uma amiga que era stylist pediu uma composição de pratos para uma marca e ela gostou do resultado.
Tempos depois, outra amiga veio com a proposta de ensinar a técnica em uma clínica de dependentes químicos em Ravenna, onde tratavam pacientes usando terapia ocupacional e meditação.
A imersão no laboratório de cerâmica descortinou um mundo de possibilidades e ela nunca mais parou. "Pirei na cerâmica. Foi quando encontrei o que queria para minha vida."
De volta ao Brasil com a nova família, ela comprou um pequeno forno. "Depois comprei um forno maior, comecei a estudar e a procurar minha linguagem. Descobri que a ilustração em relevo é a minha expressão."
Inspiração e transpiração
Paula investiu no caminho. Fez feiras como Paralela e Made, e batalhou para ter a obra reconhecida. "Uma das feiras eu fiz com minha bebê de 4 meses no canguru. Um cansaço enorme e não lucrei o suficiente para cobrir os custos. Minha carreira tem muito esforço", ri.
Para ela, sucesso é ter clara a linguagem artística e ocupar casas projetadas por grandes arquitetos — e essa alegria veio aos 46 anos. "Hoje, consigo fazer cinco peças únicas por mês e sigo cada vez mais esse percurso. Fico 15 dias com uma delas. Às vezes leva até quatro queimas para ficar pronto e tudo bem."
O fazer manual
Tudo parte de um desenho, que é observado por horas no ateliê. "Muitas vezes ele não vai se materializar na cerâmica, mas é um início."
A argila — que pode ser canadense, americana ou brasileira — é moldada pelo oleiro.
A partir desse momento, Paula tem dois dias para criar as ilustrações em relevo e os buracos que compõem cada peça. Ao secar, é lixada e passa por fornadas. Por fim, esmalte e cor entram em cena.
Minha ideia com a cerâmica é que não tenha uma funcionalidade. São objetos escultóricos para nos fazerem companhia em casa"
Ousadias
No fazer manual de Paula há muitas perdas. "Coloco muito peso e isso seria um erro na cerâmica. Muitas vezes ela não aguenta. Às vezes preciso ligar um ventilador, tracionar... é uma ginástica grande para que um processo ousado, como a escultura Banquete, nasça."
Mas são exatamente os itens ousados que fazem mais sucesso. "É uma grande paixão, passo o dia pensando no barro, imaginando no que mais o material pode me dar", conta.
Ao evitar a produção em massa, ela coloca sua essência em cada obra. "Busco cada vez mais colocar a minha verdade nas peças. As pessoas não precisam ter muitas coisas, e sim ter coisas verdadeiras, que fazem sentido. Encontramos isso em itens feitos por quem se dedica a mostrar sua verdade."
Clara é uma professora em cores, muito incrível a forma como ela usa as tonalidades. Ela faz design sueco de altíssimo nível e tem uma pesquisa com papel muito legal. Tira uma quantidade de nuances dos tons pastel impressionante. Todas as minhas fotos são feitas por ele com um olhar que valoriza meu trabalho. Ruy se sente um repórter da invenção e de boas ideias. Ninguém olha objetos e formas como ele, que tem imenso poder de interpretação dos objetos.@s que me inspiram
@claravonzweigbergk
@ruy_teixeira