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Melhor do país, Zarif usa estrutura de "rival" e vence descrédito do COB

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

18/12/2013 15h22

Em diferentes sentidos, o velejador Jorge Zarif, 21, foi a grande surpresa do Prêmio Brasil Olímpico, promovido pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) na noite da última terça-feira. Campeão mundial da classe Finn, ele recebeu da entidade o título de melhor atleta do país em 2013, categoria em que concorria com os badalados Arthur Zanetti (ginástica artística) e Cesar Cielo (natação). Ao desbancar favoritos e ficar com o prêmio, o paulista mostrou que usou bem a estrutura de um “rival” e superou o descrédito.

Zarif é apenas o 36º colocado no ranking mundial da classe Finn. Por isso, não era elegível ao programa Bolsa Pódio – entre os finalistas do Prêmio Brasil Olímpico, o velejador era o único que não contava com repasses federais.

Nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, o paulista foi apenas o 20º colocado na classe Finn. A situação dele ficou ainda mais complicada porque o COI (Comitê Olímpico Internacional) retirou do programa olímpico a classe Star.

A decisão da entidade internacional devolveu à classe Finn o velejador Bruno Prada, tricampeão mundial da Star ao lado de Robert Scheidt. O conjunto também obteve duas medalhas olímpicas (prata em Pequim-2008 e bronze em Londres-2012).

De volta à Finn, classe em que havia conquistado o bronze dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-1999, Prada, 42, passou a ser uma das principais apostas do país para a classe.

Em vez de tomar espaço de Zarif, porém, Prada optou pelo caminho oposto: pediu ao COB a contratação do espanhol Rafael Trujillo, que passou a trabalhar como treinador dos dois atletas. Além disso, divide treinos com o novato.

O resultado foi rápido. Em agosto deste ano, Zarif conquistou a Gold Cup, equivalente ao Mundial de vela. Foi o primeiro brasileiro a vencer o evento desde Jörg Bruder, campeão em 1972.

Um mês antes, Zarif havia sido campeão mundial júnior na classe Finn. O brasileiro é o mais jovem da história a acumular os dois títulos.

“A parte técnica dele no início não era tão boa, mas de uns anos para cá ele tem amadurecido muito. Principalmente depois da Olimpíada, quando ele começou um bom trabalho com o Bruno. Ganhar o Mundial foi algo fantástico”, avaliou Robert Scheidt, um dos maiores nomes da vela brasileira.

“O Bruno [Prada] foi fundamental porque ele [Jorge Zarif] estava praticamente sozinho no Brasil. Ele não tinha com quem treinar porque estava num nível muito diferente dos demais. Então, ele pegou um velejador experiente, olímpico, que trouxe a bagagem e o técnico. Ele passou a ter as duas coisas: um sparring e um técnico”, completou Scheidt.

A relação de Jorge Zarif com a vela é oriunda da família. O avô do atleta, João, tinha um barco oceânico. O pai, também chamado Jorge, competia na mesma classe Finn. Os dois chegaram a se enfrentar nas seletivas para os Jogos Olímpicos de Pequim-2008, meses antes de o progenitor do atual campeão mundial morrer.

Jorge Zarif, o filho, chegou aos Jogos Olímpicos em 2012. No entanto, só começou a ser realmente badalado depois dos resultados deste ano. Prova disso é que ele receberá a partir de janeiro a Bolsa Pódio, benefício do Governo Federal para as principais apostas do esporte nacional.

“Até o Mundial eu bancava muita coisa do bolso. Depois do Mundial eu não pago mais nada. O COB tem dado todo apoio que eu preciso, com fisioterapeutas e preparador físico. O Ministério do Esporte também tem a Bolsa Pódio. Eu não entrei agora porque não estou entre os 20 primeiros do ranking, mas devo entrar em janeiro”, relatou o melhor atleta do Brasil em 2013.

A explicação de Zarif para o ranking ruim é que ele conviveu com problemas físicos em 2013: “Tive uma lesão nas costas e perdi quatro das cinco competições que contam. Mas eu sou o primeiro colocado entre os que têm a mesma quantidade de competições”.

Após ter superado o descrédito e os problemas no ranking, Zarif tem apenas mais um problema para vencer no atual ciclo olímpico: a faculdade. Aluno do quarto semestre de administração na Faap, o velejador foi reprovado em duas disciplinas neste ano.