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Troquei pneu de um F1 em 26s. Algum piloto venceria comigo no time?

Talyta Vespa

Do UOL, em São Paulo

08/10/2021 04h00

Não foi dessa vez que consegui virar mecânica da RedBull Racing. Bem que tentei. Depois de quase perder o mega parafuso que liga os pneus ao carro de Fórmula 1 —enormes e pesados, diga-se de passagem— e chegar perto de decepar a mão com a parafusadeira, finalizei a troca de um pneu em 26 segundos.

A experiência de pitstop de um F1 aconteceu em evento da RedBull em São Paulo na quinta-feira (7). No pavilhão Oca, no Parque do Ibirapuera, na zona sul da capital, havia a parte dianteira do carro da equipe. O espaço comportava, ainda, ferramentas utilizadas no pitstop, com o intuito de simular o box de uma corrida.

Meu primeiro contato com a parafusadeira não foi dos mais agradáveis. Antes mesmo de chegar a minha vez de bancar o Lee Stevenson (chefe dos mecânicos da RedBull e dono do recorde de pitstops), segurei a ferramenta para testar o peso, mas, atrapalhadamente, apertei o botão de parafusar, dei um grito e soltei o aparelho. Aptidão zero para o cargo.

Além do medo de perder um dedo na hora de encaixar o pneu na estrutura do carro, também temi quebrar alguma coisa: um botão, uma ferramenta, o veículo, a mão do amiguinho. Os instrutores que lá estavam tentaram me tranquilizar: "Segura a parafusadeira com as duas mãos porque quando você aperta o botão, ela dá um tranco. Se não segurar bem, você pode virar o braço e até quebrá-lo". Ah, sim, agora estou tranquila.

red bull - Divulgação/RedBull - Divulgação/RedBull
Imagem: Divulgação/RedBull

Na minha vez, não sabia se me preocupava com a segurança de um corpo desastrado como o meu, com a segurança do carro e da ferramenta ou com o tempo —Cacá Bueno e o jornalista Cássio Cortês trocaram o pneu em nove segundos, sabe? Sozinho, o piloto o fez em 14 segundos. Eu sabia que não chegaria a essa marca, só não queria pagar um mico muito grande.

Cacá e Cássio estavam presentes para divulgar o novo podcast dirigido pela RedBull e apresentado pelos dois, o Pod Position. Ainda assim, esfregaram nas nossas meras mortais feições a melhor marca de troca de pneus do evento. Importante relembrar que o recorde da história da Fórmula 1 é da RedBull —1.82 segundos no carro de Max Verstappen em 2019 feitos pelo time chefiado pelo já citado Stevensson.

Chegou a minha vez. Quem é naturalmente atrapalhado começa a dizer que é atrapalhado antes mesmo de cometer alguma trapalhada. É estratégia inconsciente: se der ruim, ninguém se surpreende. Me apresentei alertando a todos ao redor sobre os iminentes riscos da minha pessoa manuseando uma parafusadeira pesadíssima (no caso, quase 3 kg) e segurando um pneu que tem metade do meu tamanho.

Antes de começar, decidi pegar o pneu reserva para sentir o peso — cerca de 10 kg. Quase desisti ali mesmo. A recomendação da instrutora era que a gente o carregasse pelos lados e, não, na vertical —segurar por cima pode fazer com que a gente esmague o dedo na hora de encaixar. Impossível. "Não aguento. É isso, gente, não consigo carregar", ri. A instrutora, então, sugeriu que eu carregasse o pneu por cima e por baixo, mas que, na hora de posicioná-lo, fosse pelas laterais.

Tá, menos pior. Na minha primeira tentativa, deu tudo errado. Apertei o botão que iniciava o marcador de tempo, desrosqueei o parafusão e quase perdi o dedo tentando tirá-lo —ele ainda girava. Tirei o pneu e, com muita dificuldade, o carreguei para um canto. Peguei o outro e demorei um tanto para posicioná-lo no carro. Você tem que levantar um pouquinho para encaixar direito, o pneu é grande, eu sou pequena e vocês sabem como é.

Na pressa, peguei a ferramenta e apontei para o centro da roda —sem lembrar do parafuso, é claro. A lembrança veio quando a instrutora gritou do outro lado "o parafusooo". Aí eu já perdi totalmente o raciocínio e larguei a parafusadeira, peguei o parafuso e tentei encaixar. Não consegui. Tentei apertar sem que ele estivesse no lugar, a ferramenta encostou na lateral e fez um barulhaço de coisa errada. Quase saí correndo.

Já haviam se passado 40 segundos e, ali, eu assumia a posição de pior marca de troca de pneus do evento. Recorde histórico. Apertei o botão que parava o tempo aos 45, esbaforida, como se tivesse corrido numa esteira a 15 quilômetros por hora durante o período. Todos elogiaram —gosto muito do coleguismo, agradeço, mesmo.

Só que uma boa repórter se recusa a dizer em um texto que se conformou com a pior marca entre todos os colegas, então decidi tentar de novo. Ainda desengonçada, arrasei e fiz o pitstop em 26 segundos. Se eu tivesse sido a mecânica a trabalhar no último box de Lewis Hamilton, no GP da Rússia, meu desempenho questionável não teria influenciado na vitória dele, que foi a centésima de sua carreira. Mesmo com a melhora na marca, continuei sendo a pior do evento. Em minha defesa, são três mecânicos por roda nos boxes da F-1. Eu fiz o trampo sozinha. Dá para o gasto, vai?

Agora, se eu vestisse uniforme da RedBull e trabalhasse no box da equipe, Max Verstappen teria perdido o segundo lugar no mesmo circuito. Com sorte, teria chegado em sexto. Comigo no time, Verstappen teria perdido, ainda, o primeiro lugar no GP da Holanda para Hamilton. Se eu fizesse parte do quadro de funcionários, provavelmente, jamais seria consagrada funcionária do mês —e a RedBull, infelizmente, deixaria de compor os nove entre dez pit stops mais rápidos de 2021.

Por isso, UOL, conte comigo sempre.

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