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Final de campeonato amador tem tiros e bombas em BH; dois homens são presos

Final de campeonato amador tem tiros e bombas em BH - Vila Acaba Mundo/Arquivo Pessoal
Final de campeonato amador tem tiros e bombas em BH Imagem: Vila Acaba Mundo/Arquivo Pessoal

Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL, em Vitória

28/12/2020 19h26Atualizada em 29/12/2020 09h31

A final de uma partida de futebol amador em Belo Horizonte, Minas Gerais, terminou em confusão ontem à tarde. Policiais militares usaram bombas e fizeram disparos ao fim da disputa e dois homens foram presos. O conflito foi filmado por populares, que repudiaram as agressões e chamaram a ação da PM de "truculenta".

O jogo dos moradores do bairro Vila Acaba Mundo, na Praça JK, foi interrompido com a chegada de viaturas da PM. De acordo com informações do diretor da associação da comunidade, eles exigiram que fosse suspensa a queima de fogos durante o campeonato.

"Os policiais chegaram pedindo para acabar com os fogos e prontamente isso foi atendido. Lá eles sentiram cheiro de maconha e abordaram um velho conhecido deles, mas nada foi encontrado. Mesmo assim ele foi levado pela PM. Deram uma gravata e arrastaram ele para dentro da viatura" explicou Laerte.

Os ânimos de alguns participantes ficaram exaltados, começando um bate boca com alguns policiais por causa da condução da PM. Um vídeo gravado por um participante mostra o momento em que o jovem negro é colocado a força na viatura pelo soldado.

Em um outro vídeo, é possível ver um PM lançando uma bomba de gás lacrimogêneo e atirando balas de borracha. Uma mulher chega a implorar para que policiais não atirem, dizendo que existem crianças no local da dispersão. "Parecia uma zona de Guerra. Era tiro para todos os lados, bomba o tempo inteiro e gente correndo. É verdade que desde cedo eles estavam soltando fogos e muita gente estava reclamando do barulho, mas depois eles pararam. Não precisava daquela confusão toda ali. Todo mundo ficou assustado", contou o comerciante Gilberto Aragão.

O diretor da associação dos moradores disse que três pessoas foram atingidas fisicamente pelos disparos. Outras dezenas também inalaram fumaça. Laerte frisou que a comunidade não repudia as prisões, mas a forma que os outros moradores foram tratados pela PM.

Final de campeonato amador tem tiros e bombas em BH - Vila Acaba Mundo/Arquivo Pessoal - Vila Acaba Mundo/Arquivo Pessoal
Imagem: Vila Acaba Mundo/Arquivo Pessoal

"Ninguém aqui questionou as prisões, só que os policiais exageram na forma de tratar a gente. Tinham muitas crianças, pais e mães de família que estavam lá e foram feridos. Houve exagero. Lá na comunidade, quando chamamos para os mesmos problemas, a PM não aparece. Ficamos refém", frisou o presidente da Vila Acaba Mundo.

Após a confusão, o jogo entre Vila Real e Ponte Petra continuou. A partida acabou às 14h e, após uma vitória por 7 a 5, o Vila Real foi campeão.

PM diz que foi agredida por torcedores

Os policiais militares envolvidos na ocorrência relatam foram até o local após solicitações da comunidade sobre perturbação do sossego, de indivíduos suspeitos, de queima de rojões de maneira temerária e de aglomeração de mais de 100 pessoas no bairro Sion.

Ao chegarem à Praça JK, os militares depararam com aglomeração e um indivíduo fazendo uso de drogas no meio da praça. Eles abordaram um rapaz que se negou a cumprir a determinação "inclusive ameaçando os militares". "O autor negou-se a cumprir, inflamando as pessoas ali presentes a jogarem pedras, garrafas e outros materiais em direção aos policiais e viaturas", disse a PM em nota ao UOL.

Os PMs informaram ainda que diversos indivíduos tentaram "arrebatar" o suspeito, sendo necessário o uso diferenciado da força com instrumentos de menor potencial ofensivo para conter os agitadores.

Outro indivíduo também foi conduzido após arremessar pedras em uma das viaturas, quebrando o para-brisa. O autor possui 17 passagens pela polícia, sendo 5 por violência doméstica.

Detidos não pagaram fiança e foram para presídio

Os dois detidos foram identificados como Romário Marcelino dos Reis Basílio, 28, e Rafael Rocha de Oliveira, de 26 anos. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou por meio de uma nota que um deles foi autuado por resistência, desobediência e desacato.

"O outro, de 28 anos, por dano qualificado. Para ambos, a autoridade policial arbitrou fiança, como determina a lei, e como não houve o pagamento, eles foram encaminhados para o Sistema Prisional", finalizou a nota. A reportagem questionou sobre o valor da fiança arbitrada para cada um dos detidos, mas o órgão não informou. O caso segue sob investigação.

OAB-MG pediu apuração dos fatos e cobrou punições

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Minas Gerais, Rômulo de Carvalho Ferraz, tomou ciência do caso ocorrido no ontem à tarde e resolveu se manifestar. Ele protocolou um ofício ao Ministério Público Estadual e à Corregedoria da Polícia Militar para apurar os fatos e saber se houve excesso na ação da PM. Em nota, o órgão ainda pediu que as "devidas providências sejam tomadas".