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Corrida de camelos é atração que movimenta milhões no Qatar

A velocidade de um camelo em plena forma pode chegar a 65 km/h - Natasha Bin/BOL
A velocidade de um camelo em plena forma pode chegar a 65 km/h
Imagem: Natasha Bin/BOL

Natasha Bin 

Do BOL, em Doha

13/11/2018 12h18

Nem só de futebol vai viver o Qatar na Copa do Mundo 2022. No país sede do próximo Mundial, os camelos são mais do que ícones do deserto: eles entram em campo, ou melhor, na pista, e pulsam o calendário esportivo do país. Competitividade, dinheiro e tecnologia marcam a corrida de camelos, um dos esportes mais tradicionais da região e que poderá ser conferido por quem visitar o país durante o Mundial da FIFA. 

Tradição e tecnologia 

Até a década de 1970, a corrida de camelos era apenas uma atração de grandes festas e celebrações, mas, em 1973, foi organizado o primeiro evento dedicado exclusivamente ao esporte no Qatar. A corrida improvisada contou com a participação de mais de 300 animais. 

Hoje, a estrutura é gigantesca: o complexo Al Shahaniya, localizado no deserto que fica a pouco menos de uma hora do norte de Doha, capital do país, é um dos mais famosos do mundo. Reúne centro de treinamento, clínicas veterinárias, lojas com acessórios para os animais, pistas de corrida com arquibancada e telões para o público acompanhar as competições, contando até com uma emissora de TV exclusiva para transmitir as corridas.  

Camelos correndo - Natasha Bin/BOL - Natasha Bin/BOL
O camelo árabe é chamado de dromedário no Brasil, pois tem somente uma corcova
Imagem: Natasha Bin/BOL
Tecnologia também faz parte do esporte: os camelos são monitorados com microchips, que registram a performance do animal, e montados por jóqueis-robôs, pilotados remotamente pelos donos dos camelos. Os robozinhos controlam as rédeas para que os animais sigam determinados comandos. Até 2005, eram crianças de 4 anos que montavam os animais, mas o governo do Qatar proibiu a prática após pressão de organizações de defesa dos direitos humanos.

Corrida de milhões 

Conhecida por ser o esporte dos xeiques, a corrida de camelos movimenta milhões de rials, moeda local que vale praticamente o mesmo que o real brasileiro. Em competições do início da temporada, nos meses de setembro e outubro, os prêmios são mais "modestos", como carros modelo Land Cruiser. Já nos grandes festivais, que acontecem no início do ano, a premiação ultrapassa milhões e reúne participantes de todo o Golfo Pérsico, principalmente xeiques.

"A negociação mais cara envolvendo camelos que eu me lembro foi de 15 milhões de rials", conta Hamad Bin Jarhab, que participa do esporte há 23 anos, herdando a tradição da família. Em todos esses anos, o catari diz que já criou e vendeu diversos animais, somando o equivalente a 25 milhões de rials com as transações esportivo-comerciais. Atualmente, Bin Jarhab possui 150 camelos, sendo 30 deles corredores e 120 para procriação. "Sabemos da importância da existência de linhagens originais do camelo árabe e preservamos a pureza e a qualidade da prole", conta. O camelo árabe diferencia-se do camelo bactriano, de duas corcovas: ele possui apenas uma e no Brasil é conhecido como dromedário. 

Regras do esporte e saúde dos animais 

Por ser um negócio tão lucrativo, a modalidade tem regras rígidas. Um exemplo é a proibição de apostas, já que o Islã não permite a prática. 

As competições são organizadas por distância: os camelos mais jovens iniciam a carreira em corridas de 2 ou 3 km e, conforme vão amadurecendo no esporte, podem correr distâncias mais longas, sendo o máximo de 10 km de extensão. A velocidade de um animal em plena forma pode chegar a 65 km/h, mas, para isso, saúde e treinamento são levados na rédea curta. 

Camelo Al-Jazeera ao lado do dono, Hamad Bin Jarhab - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Hamad Bin Jarhab participa das corridas com o camelo Al-Jazeera
Imagem: Arquivo Pessoal
"Assim que os camelos ingressam nas corridas, eles recebem atenção e cuidado médico diário, o que inclui uma equipe de veterinários dedicada a aplicar exames semanais e suplementação nutricional rica em vitaminas para compensar o esforço empenhado nos treinos e competições", explica Hamad. Para manter um camelo de alta performance, o investimento mensal pode ultrapassar 30 mil rials, montante que inclui gastos com alimentação, veterinário e treinador. A vida de atleta desses animais se inicia aos dois anos de idade e pode durar até 15 anos.  

Além disso, o Hejen Racing Committee, órgão responsável pelas corridas no Qatar, submete os corredores a exames antidoping após cada competição. Se for constatada alguma substância irregular no organismo do camelo, o dono pode ser multado em até 50 mil rials.  

Atração para a Copa do Mundo 

Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo acontecerá nos meses de novembro e dezembro. E quem visitar o Qatar para o Mundial vai poder acompanhar a corrida de camelo, já que a temporada se inicia em setembro, estendendo-se até o início de maio. Para Hamad, a ocasião vai valorizar o esporte local: "Muitos visitantes que não possuem corrida de camelos em seus países vão poder aprender sobre isso e nós estamos muitos felizes em poder compartilhar nossa tradição". Na opinião dele, a corrida de camelos é uma excelente forma de preservar a identidade do Qatar e promover trocas culturais a partir dos turistas interessados em conhecer o esporte. 

Como é acompanhar uma corrida de camelos 

Acompanhar uma corrida de camelos é uma experiência, no mínimo, inusitada. Nas competições de início de temporada, em que há menos público, os árabes podem inclusive convidar os presentes a espiar a concentração pré-corrida, onde ficam reunidos diversos camelos, treinadores, assistentes e membros da organização. 

Carros acompanhando a corrida - Camilo Badue - Camilo Badue
Após a largada, carros seguem paralelamente para companhar de perto a corrida
Imagem: Camilo Badue
Para espectadores de primeira viagem, a dica é assistir a pelo menos três rounds, sendo um próximo à largada, outro próximo à chegada e um terceiro em movimento. Paralelamente à pista de corrida, posicionam-se inúmeros carros que acompanham a trajetória dos camelos, sendo que a maioria dos veículos leva o proprietário do animal, que, por meio de um controle remoto, pilota o jóquei-robô. E para quem quiser ver todo o corre-corre, o comitê organizador oferece um ônibus que acompanha o percurso. 

A entrada é gratuita e o registro de fotos e vídeos é liberado e incentivado. O esporte promete ser uma das pontes para a troca de cultura entre os cidadãos do país mais rico do mundo e os espectadores vindos de todos os cantos do planeta.

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