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Quarentão, Hoyama sonha com Pan e despedida em Londres-2012

Maurício Dehò<br/> Em São Paulo

08/05/2009 07h00

Cinco Olimpíadas, 15 Mundiais, seis Pan-Americanos e o recorde de ouros para o Brasil nesta competição continental. Por muito menos, a maioria dos esportistas já consideraria uma aposentadoria, feliz da vida com o resultado. Mas não é o caso do mesa-tenista Hugo Hoyama. O paulista, que completa 40 anos neste sábado, ainda não pensa em pendurar a raquete. Pelo contrário, já traçou objetivos de longo prazo: quer disputar mais um Pan e sonha em encerrar a carreira com a vaga para Londres-2012 e um recorde.

APESAR DE FEITOS, HUGO HOYAMA AINDA SONHA COM MAIS
AFP
Prestes a completar 40 anos, no sábado, Hoyama foi ao Mundial no Japão, neste mês, mas acabou eliminado precocemente
AFP
Maior conquista do mesa-tenista foi no Pan do Rio, batendo recorde de ouros do país
Reuters
Hoyama disputou sua quinta Olimpíada em Pequim, em 2008, e quer chegar a Londres
VEJA IMAGENS DO MUNDIAL DO JAPÃO
CHINESES MONOPOLIZAM OS TÍTULOS
Se conseguir um espaço na seleção brasileira que representar o país nos Jogos Olímpicos na Inglaterra, Hoyama igualara a atual marca de Torben Grael, como esportista com mais participações olímpicas, com seis. Além disso, pode ampliar o recorde no Pan, com seus nove ouros no tênis de mesa - são 14 pódios no total, com uma prata e três bronzes.

Mas este paulista afirma que não são números que o motivam a seguir empunhando a raquete contra garotos com metade de sua idade, mas o gosto pelo esporte. "Eu coloquei um objetivo na minha cabeça e quero estar no próximo Pan e nas Olimpíadas de 2012", disse ele, em entrevista por telefone ao UOL Esporte. Mesmo com a eliminação precoce no Mundial de Tênis de Mesa, na última semana, ele segue no Japão.

O segredo de Hoyama, segundo ele, é que seus objetivos foram traçados ainda no início de sua carreira, permitindo que ele pudesse continuar por muitos anos jogando em alto nível. "O que me ajudou bastante é ter traçado estas metas lá no início da minha carreira, podendo me preparar para suportar muito tempo. Ainda estou bastante animado, motivado e com fôlego para treinar firme e forte, defendendo a seleção brasileira", explicou ele.

O paulista garante ter força física e psicológica para seguir brigando, apesar de admitir que ainda sente aquele frio na barriga antes de estrear em qualquer competição. A luta, aliás, é cada vez mais dura para um dos vovôs do circuito. As limitações da idade no esporte, que exige rapidez e flexibilidade, são apenas o começo, já que os problemas estão do outro lado da mesa.

"É duro enfrentar os mais jovens. Eles colocam na cabeça que o favoritismo é meu. Então, vêm e soltam o braço", contou o torcedor do Palmeiras. "Tenho de usar a experiência, que conta muito no tênis de mesa, inclusive para garantir minha vaga na seleção, já que não tenho lugar cativo."

Entre os talentos mais recentes do Brasil, elogiados por Hoyama, estão nomes como Gustavo Tsuboi e Thiago Monteiro, que nas disputas individuais das Olimpíadas de Pequim caíram logo na primeira fase da competição. Sabendo que a força do Brasil em nível mundial ainda não é suficiente, o mesa-tenista aposta realmente no Pan de Guadalajara, em 2011.

"Com certeza o Pan é meu objetivo maior. Não apenas pelo recorde, mas pelos resultados que sei que posso obter pelo Brasil. Sempre coloco os resultados à frente, quero vencer pelo Brasil", disse ele, detentor na competição de quatro ouros por equipe (1987, 1991, 1995 e 2007), três por duplas (1991, 1995 e 2003) e dois individuais (1991 e 1995).

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Hoyama abraça Gustavo Borges no Pan, após bater o recorde de ouros do nadador
Divulgação
Equipe brasileira, sempre com Hoyama (d), comemora o ouro por equipes no Pan-2003
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Esporte em evolução
Com 23 anos apenas de seleção brasileira - ele começou no tênis de mesa aos sete anos, em São Bernardo do Campo (SP) -, Hugo Hoyama viveu diversas gerações do tênis de mesa nacional e internacional e esteve presente nas mudanças que foram transformando a modalidade.

Entre os rivais, a maior diferença foi o início da naturalização de chineses, que passaram a defender os mais diversos países, um processo que já tem cerca de 15 anos, mas segue incomodando.

Para ele, a maior diferença da década de 1980 para cá é a profissionalização que se deu no que antes era visto pela maioria apenas como o tradicional "pingue pongue". "O esporte mudou, assim como a cabeça dos atletas. Os campeonatos são mais organizados, a premiação é maior... Dá até mais gosto jogar hoje, e a garotada tem de aproveitar", analisou ele, comentando também sobre o fato de atualmente haver um circuito internacional de menores, que prepara os novos talentos.

Com tanto gosto pela raquete e a bolinha de tênis de mesa, Hoyama até evita falar no adeus. "Não penso muito na despedida definitiva. Já disse adeus duas vezes e não deu certo. Já me sinto realizado, há muito tempo. Então, enquanto tiver condições, vou continuar. Mas terei de lutar."