Renascimento 4.0

Palmeiras se reinventa pela quarta vez com Abel, vence o Água Santa e conquista o bicampeonato paulista

André Martins e Carolina Alberti Do UOL, em São Paulo Marcello Zambrana/AGIF

O Palmeiras de Abel Ferreira renasceu uma vez mais. Após perder a primeira partida da decisão do Paulistão para o Água Santa por 2 a 1, acabando com a invencibilidade no Estadual, o alviverde goleou no Allianz Parque por 4 a 0 e conquistou seu terceiro título paulista em quatro anos, o segundo com o técnico português.

Fosse essa apenas a virada na decisão já seria marcante. Mas não é só isso. A conquista marca a quarta reconstrução do projeto de Abel Ferreira no Palmeiras, o quarto nascimento de um time. O ano começou com as saídas de Danilo e Gustavo Scarpa, dois dos pilares do campeão brasileiro no ano passado.

Sem reforços e em meio a pressão sobre a diretoria, restou a Abel olhar para o seu elenco. Foi lá que encontrou soluções:

  • Zé Rafael se reinventou como primeiro volante e aumentou ainda mais sua importância no elenco.
  • Gabriel Menino mostrou que estava recuperado do 2022 em baixa --e ainda marcou dois na decisão.
  • Raphael Veiga voltou de contusão, assumiu as bolas paradas e poucos sentiram falta de Scarpa, melhor jogador do Brasil em 2022.
  • No ataque, Endrick fez dois na grande decisão, um em cada partida, mas foi seu começou de ano inconsistente que deu espaço para Bruno Tabata e Giovani aparecerem.
Marcello Zambrana/AGIF

Abel e seus jogadores já tinham feito isso antes

  • Veiga e os três porquinhos

    Em 2020, a conquista da Libertadores e da Copa do Brasil veio com a consolidação de Veiga como protagonista do Palmeiras e a ascensão da base ? coroada pela atuação de Gabriel Menino, Patrick de Paula e Danilo, os três porquinhos, nos 3 a 0 em cima do River Plate em Buenos Aires.

    Imagem: Ricardo Moraes/Getty Images
  • Rony, um centroavante

    Em 2021, o Palmeiras abriu a temporada perdendo todos os jogos do Mundial de clubes, a Supercopa (para o Flamengo), a Recopa Sul-Americana (para o Defensa y Justicia) e o Paulistão (para o São Paulo). O renascimento veio no segundo semestre, com Rony como centroavante, a volta de Dudu e o maior uso de Wesley e Verón nas pontas.

    Imagem: REUTERS/Andres Cuenca Olaondo
  • Scarpa assume o protagonismo

    No ano passado, Raphael Veiga via o início de uma campanha pela convocação para a Copa do Mundo quando torceu o tornozelo e teve de ser operado. O Palmeiras sentiu e, sem ele, parou nas semifinais da Libertadores. Mas a ausência transformou Gustavo Scarpa no melhor jogador na campanha do título do Brasileirão.

    Imagem: Divulgação ESPN

As novidades de 2023

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Zé Rafael como 5

Quando chegou ao Palmeiras, ele era meia-atacante. Foi Luxemburgo quem o recuou para atuar como segundo volante. A saída de Danilo o recuou ainda mais e hoje Zé Rafael é um pilar do Palmeiras jogando como um típico camisa 5.

Cesar Greco/Palmeiras/by Canon

Gabriel Menino

Em 2022, poucos se lembravam do jogador dinâmico convocado por Tite para a seleção. Mas Abel apostou em Menino quando uma vaga apareceu no meio e foi recompensado: Menino foi o cara da final do Paulista e se reencontrou.

Ettore Chiereguini/Ettore Chiereguini/AGIF

Tabata e Giovani

Contratado no ano passado para repor a saída de Scarpa, Bruno Tabata virou titular nas quartas e seguiria no time se não tivesse se machucado. Giovani (foto) foi a revelação: um gol e duas assistências em menos de 250 minutos em campo.

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF
Marcello Zambrana/AGIF

Palmeiras atropela no 1º tempo, goleia o Água Santa e é bicampeão paulista

O Palmeiras é o campeão paulista de 2023. O Verdão derrotou o Água Santa por 4 a 0 neste domingo, no Allianz Parque, conquistou o bi e chegou ao 25º título estadual. Os gols foram de Gabriel Menino (2), Endrick e Flaco López.

O Palmeiras abriu 3 a 0 ainda no primeiro tempo e espantou a zebra depois de perder por 2 a 1 no duelo da ida, na Arena Barueri. A etapa final foi de administração do resultado e ainda deu tempo de Flaco Lopez ampliar.

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Muita gente desacreditou da gente. Na semana passada, mais da metade do time não estava legal. Durante a semana, aguentamos as pancadas, mas a gente sabe que tem esse poder de superação."

Zé Rafael, volante do Palmeias

Foi um lance bonto, merecia o gol. O Gabriel foi feliz na finalização. Nosso grupo é um time forte, cada um se ajuda quando precisa. Os grandes jogadores se destacam nos grandes momentos."

Dudu, falando sobre o drible no segundo gol

Reprodução/Arquivo pessoal

Contrata, Leila?

Com esse histórico, você a torcida deveria saber que, eventualmente, o time se encaixaria, certo? Mas não foi isso que aconteceu. Quem sabe bem disso é a presidente do clube (e dona da patrocinadora), Leila Pereira.

A saída de seus dois principais meio-campistas criou uma pressão forte nos bastidores para que o Palmeiras contratasse. Torcedores olhavam para o Flamengo contratando (Gérson chegou para a vaga de João Gomes, por exemplo), viam que suas saídas não eram repostas e reclamavam.

Em janeiro, Leila foi chamada de "blogueirinha" e pichações pedindo para que ela cumprisse "suas promessas" apareceram na fachada do clube. Anderson Barros, o diretor de futebol, também entrou na mira dos torcedores.

Antes do jogo, a presidente falou sobre isso: "O torcedor me cobra demais por contratações, mas o que o torcedor tem que levar em conta é o número de atletas que nós renovamos. Isso é muito importante, manter o elenco extremamente vencedor. E a nossa filosofia é essa: contratar pontualmente. Esquece esse passado que o Palmeiras contratava em quantidade para ver se alguém dava certo", disse, antes do jogo, ao SporTV.

Quando o Brasileirão começar, porém, o time terá novidades: Richard Rios, destaque do Guarani, foi contratado, mas a cereja no bolo é a volta do atacante Artur, do Bragantino.

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Título após Abel falar em vergonha

Após derrota na Arena Barueri para o surpreendente Água Santa, Abel subiu o tom: "Ou revertemos, ou passamos uma grande vergonha". Durante a semana, o Palmeiras fez de tudo para que isso não acontecesse, incluindo ir para a La Paz, na Bolívia, e estrear com time reserva na Copa Libertadores.

"Primeiro, é preciso perder. Falei 'vergoha', mas alguns confundiram. Sei qual foi minha intenção. Conheço esses jogadores, sei do que eles são capazes. Há duas palavras mágicas: amor e virada. Somos o time do amor e da virada", disse Abel após a conquista, explicando sua estratégia.

Gabriel Menino foi o único a viajar e jogou o segundo tempo na derrota por 3 a 1 para o Bolivar. Em campo, o time mostrou a mesma velocidade que é tradicional no Allianz Parque e, ao contrário do primeiro jogo, abriu o placar rapidamente. O primeiro foi aos 15 minutos, o segundo, aos 27 —ambos com Menino. Com 34 minutos, o jogo já estava 3 a 0, após gol de Endrick.

"Abel falou uma coisa que era verdade: ficamos devendo muito, principalmente na competitividade. Trabalhamos muito firme nessa semana para chegarmos com nível altíssimo de foco. Foi o que aconteceu hoje", admitiu Zé Rafael.

"No primeiro jogo a gente entrou desconcentrado, não entrou como se fosse o Palmeiras. Hoje, a gente deu a volta por cima. Respeitou o Água Santa como deveríamos ter respeitado no primeiro jogo. É um grande time, que possam continuar assim no próximo ano", elogiou Menino.

"Mais uma vez pro pessoal que, por causa de um jogo, desconfia da gente. [É para] calar a boca de muitas pessoas que, por causa de um jogo, acha que está tudo errado", completou Raphael Veiga.

Marcello Zambrana/AGIF

Renasce, Endrick!

Ninguém representa tanto o renascimento quanto Endrick. A joia do Palmeiras começou o ano como titular, mas não marcou na primeira fase do Paulistão. O nervosismo era evidente e o time parecia crescer quando ele saia. Na última rodada da fase de grupos, Abel o tirou do time, para a entrada de Giovani.

Era o pior momento do garoto de 16 anos desde que subiu para o time titular, no ano passado. No Brasileirão, por exemplo, foram sete jogos, três deles como titular, com três gols e uma assistência.

Após não entrar em campo nas quartas de final e na semifinal, Endrick foi chamada por Abel para o segundo tempo do primeiro jogo da decisão. E o jejum de gols, que naquele domingo chegava a 150 dias, chegou ao fim. Quando ele escorou para as redes a jogada de escanteio, se tornou o mais jovem a marcar em uma final de Paulistão.

Neste domingo, ele voltou ao time titular e ajudou o time na conquista do título: foi o autor do terceiro gol. Após o jogo, ele provocou quem questionou sua titularidade. "São três campeonatos disputados e três conquistas. Estou pronto pra ser titular no sub-20".

Para o Brasileirão, ele vem com uma novidade: troca a camisa 16 pela 9.

Abner Dourado/AGIF  Abner Dourado/AGIF

Vice com honras

O Água Santa fez uma campanha heroica e ficou muito próximo do final dos sonhos, mas acabou sendo mais uma vítima do Palmeiras de Abel Ferreira. Seria o primeiro título do clube de Diadema em sua era profissional, que teve início há apenas dez anos.

A equipe surgiu na periferia de Diadema nos anos 1980 e dominou a várzea da cidade antes de deixar de ser amadora, no final de 2011. A primeira partida oficial do Netuno foi em 2013, pela 'Bêzinha' do Paulista, e o clube conseguiu subir de divisão logo no ano de sua estreia.

Foram, inclusive, três acessos consecutivos, feito inédito em São Paulo, que fizeram com que o time disputasse a elite do Estadual pela primeira vez em 2016. No entanto, o clube foi rebaixado logo de cara e precisou subir mais duas vezes até se firmar na elite, no ano passado.

O representante de Diadema surpreendeu na atual edição, jogou o mata-mata do Estadual pela primeira vez e fez a torcida acreditar, mas bateu na trave. Até saiu vitorioso no jogo de ida, mas não resistiu na casa do atual bicampeão de São Paulo. O "quase", entretanto, serve como combustível para 2024, quando o Netuno irá estrear em competições nacionais.

Grandes espectadores

Marcello Zambrana/AGIF

São Paulo

Campeão em 2021 e vice no ano passado, o São Paulo foi outra vítima da campanha heroica do Água Santa no Paulistão. O Tricolor teve a vantagem do mando de campo nas quartas, mas não saiu do zero com o Netuno no tempo regulamentar e acabou eliminado nos pênaltis.

KAREN FONTES/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO

Corinthians

A expectativa era enfrentar o arquirrival Palmeiras na semi, mas a equipe comandada por Fernando Lázaro também caiu no caminho -- com eliminação semelhante à do São Paulo. O Ituano foi o algoz e fez com o Corinthians ficasse fora da decisão pela terceira vez seguida.

Ettore Chiereguini/AGIF

Santos

A campanha do Santos no Paulistão foi um fiasco mais uma vez. A equipe começou flertando com o rebaixamento e sequer se classificou. Com isso, o Peixe acabou caindo na fase de grupos pelo terceiro ano consecutivo e virou um mero observador durante o mata-mata.

Marcelo Zambrana/Agif Marcelo Zambrana/Agif

Os recordes

  • Mais uma taça

    O Palmeiras venceu os últimos três torneios que disputou: levantou as taças do Brasileirão, da Supercopa do Brasil e do Paulistão nos últimos meses. É a primeira vez no século XXI que isso acontece.

  • Hegemonia no Paulistão

    É a quarta final consecutiva do Estadual. O feito é inédito para o Alviverde com o Paulistão disputado em um mesmo formato. O Corinthians já tinha feito o mesmo entre 2017 e 2020.

  • Abel ainda mais na história

    Abel Ferreira chega ao oitavo título. O português se igualou a Vanderlei Luxemburgo na vice-liderança geral entre os treinadores alviverdes, atrás apenas de Oswaldo Brandão, com dez.

  • Acostumados a finais

    Weverton, Gustavo Gómez, Raphael Veiga e Rony são os atletas com mais finais na história do Palmeiras. Com o Paulistão 2023, o quarteto chegou a 12ª decisão pelo clube.

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