Destaques do turno

UOL Esporte elege quem brilhou na primeira metade do Brasileirão: Hulk é o craque e Vojvoda o melhor técnico

Igor Siqueira Do UOL, no Rio de Janeiro Fernando Moreno/AGIF

O glorioso calendário brasileiro, cheio de jogos adiados, impediu que as 190 partidas do primeiro turno do Brasileirão acontecessem antes que a 19ª rodada terminasse. Mas, com 183 confrontos realizados até agora, e o torneio chegando a sua metade, o UOL Esporte analisa o que já ocorreu na Série A 2021. Num campeonato espremido pelo efeito dominó do atraso da edição 2020 — causado pela pandemia — e ainda sem público nos estádios, dá para perceber algumas tendências sobre os objetivos de cada time nos meses que estão por vir.

O Atlético-MG ainda não fez 19 jogos, assim como os principais rivais, mas lidera com quatro pontos de vantagem. O protagonismo atleticano acompanha a robustez dos investimentos nos últimos dois anos, simbolizada por Hulk. O atacante que voltou à seleção brasileira foi eleito pela redação do UOL como o craque do turno.

"A gente teve regularidade. O campeonato exige isso. Até iniciamos perdendo. Depois, a equipe adquiriu maturidade. Houve o entendimento da competição. Está terminando a primeira parte e tem muita coisa pela frente. Pelo menos a gente sabe o caminho. Vamos tentar repetir", disse o diretor de futebol atleticano, Rodrigo Caetano.

Nos cinco jogos da 19ª rodada já disputados, o único concorrente próximo ao Atlético-MG em ação foi o Fortaleza, treinado por Juan Pablo Vojvoda, eleito melhor técnico do turno. Mas o time cearense perdeu por 4 a 2 para o Bahia e chegou ao quarto jogo sem vencer.

"A derrapada é de três empates e uma derrota. Então, não é uma derrapada tão grande. A gente deixou de ganhar alguns jogos mesmo dominando, perdemos pênalti contra Santos e Juventude. Os adversários já sabem mais como a gente está jogando. É o desafio. O campeonato é longo, exige regularidade. Serve como alerta para corrigir a rota e voltar a ganhar", disse o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.

Fernando Moreno/AGIF
Editoria de Arte

A seleção do turno eleita pelo UOL Esporte

Na eleição feita entre repórteres, editores e colunistas do UOL Esporte, o maior número de representantes no time ideal foi do Atlético-MG. Ter Hulk como craque se explica não só pelos sete gols marcados, mas pelo nível de desempenho na campanha atleticana. Esse destaque vem em um momento da carreira no qual o jogador passou a atuar de forma mais centralizada no ataque, sem se restringir à ponta direita, como na primeira passagem na seleção brasileira, por exemplo.

"Eu acompanhei o momento da adaptação. Acho que o mérito do Cuca foi fazer com que ele percorresse um espaço menor de forma mais decisiva. Foi por aí. Mesmo sabendo que ele não é centroavante. Ele é um atacante. Isso também dá chance para que o Cuca possa usá-lo de diferentes formas. Hulk faz gols com Sasha ou Vargas em campo. Isso é bacana, é um cara que consegue exercer mais de uma função", comentou Rodrigo Caetano.

Ainda que tenha um ataque eficiente, o time treinado por Cuca só levou 13 gols e tem a melhor defesa do torneio. Esse desempenho se refletiu na eleição, já que entraram no time ideal o goleiro Everson, os laterais Mariano e Arana, além do zagueiro Nathan Silva. O palmeirense Gustavo Gomez completou o sistema defensivo.

No meio-campo, outro atleticano: Nacho Fernández, argentino experiente que já tinha brilhado em campanhas recentes da Libertadores pelo River Plate. O setor ainda tem Edenilson, do Internacional, também convocado para a seleção no momento, e Arrascaeta, do Flamengo. Na frente, além de Hulk, aparece a dupla Bruno Henrique e Gabigol, protagonistas de longa data no Flamengo e que têm somado gols e boas atuações neste Brasileirão também.

A meta sempre foi ir para a Sul-Americana. Não vou mudar a meta. Mas eu quero pontuar, ganhar jogos. Aí, vamos ver o que as rodadas vão dizendo. Os adversários já sabem mais como a gente está jogando. E cabe a gente se reinventar. É o desafio."

Marcelo Paz, presidente do Fortaleza

A concorrência é saudável, cada clube tem que fazer dever de casa para viabilizar a montagem de elenco competitivo. É saudável para o futebol, aumenta o número de postulantes a título. Há um projeto para o Atlético-MG ser protagonista."

Rodrigo Caetano, diretor de futebol do Atlético-MG

Fernanda Luz/AGIF

Quem pode alcançar o líder Galo?

Tecnicamente, não dá para dizer que o Atlético-MG foi campeão do turno. O Flamengo tem tantos jogos atrasados (três) que, caso o time mineiro perca o seu jogo correspondente da 19ª, pode ser alcançado. Sem vencer o Brasileirão desde 1971 — o maior jejum vigente para quem já foi campeão nacional —, o começo da maratona é muito promissora para o time de Cuca, mas a perseguição promete ser intensa.

A matemática, a lógica relativa à tabela, os elencos de cada time e o poderio financeiro colocam Palmeiras e Flamengo como os candidatos mais promissores a desafiar a liderança do Atlético-MG. Os três, inclusive, estão nas semifinais da Libertadores, provando que a consistência vai além das fronteiras brasileiras.

O Palmeiras de Abel Ferreira chegou a liderar a Série A por cinco rodadas, mas engatou quatro rodadas sem vencer (sendo três derrotas) e foi ultrapassado. No caso do Flamengo, o começo foi mais complicado, tanto que o atual técnico campeão brasileiro, Rogério Ceni, foi demitido após a oitava rodada. A chegada de Renato Gaúcho trouxe uma série de vitórias e uma melhora na posição da tabela.

Fortaleza e Red Bull Bragantino, atualmente em terceiro e quarto na classificação, são duas surpresas até aqui e correm por fora.

O Corinthians pegou o elevador nas últimas rodadas e ainda não colocou em campo todos os reforços. Giuliano, Renato Augusto e Roger Guedes já estrearam. Mas o time ainda tem Willian, que veio do Arsenal, para colocar em ação. Ontem, a equipe de Sylvinho empatou com o Juventude e Roger Guedes, estreante, fez o gol.

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Como foi o gol de Roger Guedes na estreia pelo Corinthians

Robson Mafra/AGIF

Vojvoda morou no CT do Fortaleza e colhe frutos

Quem no Brasil diria que ao final do primeiro turno o Fortaleza estaria em terceiro, com 33 pontos? Ninguém."

O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, é realista na conversa com o UOL Esporte ao comentar o que seu time alcançou na primeira metade do campeonato. O artífice do time? O argentino Juan Pablo Vojvoda.

Aos 46 anos, o técnico chegou em maio para seu primeiro trabalho no futebol brasileiro. Campeão estadual no começo da caminhada, tem impressionado com o estilo de jogo que imprimiu no time. O Fortaleza, por exemplo, venceu Atlético-MG e Palmeiras no Brasileirão atual.

"Mas nenhuma foi por acaso. Não foi um time que se defendeu e achou um gol. Tem mérito aí. Ele veio para implantar o modelo de jogo que o nosso time, de certa forma, já estava acostumado. Era o modelo agressivo, de um time que vai para cima, busca o gol e não fica jogando por uma bola só", afirma Marcelo Paz.

Quando chegou a Fortaleza, Vojvoda surpreendeu porque decidiu morar no CT do clube. Fez uma "imersão", segundo o presidente, cuja oferta de um apartamento na beira da praia foi rejeitada na ocasião. Vojvoda só mudou de endereço três meses depois, quando a mulher e os três filhos vieram para o Brasil.

O dedo do técnico é visto não só pela proposta de ficar com a bola no pé, pelo mecanismo de construção do jogo, mas também pelas adaptações no posicionamento dos jogadores. As que mais se destacaram foram trazer o lateral-direito Tinga para a zaga e o meia Lucas Crispim para ser ala na esquerda. E mesmo com o bom desempenho no turno, a meta geral do Fortaleza é uma vaga na Sul-Americana.

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Alguns números do turno

  • Certeiro

    O lateral-esquerdo Filipe Luís, do Flamengo, é quem tem o maior percentual de passes certos: 95,52%, segundo o Footstats.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Flamengo
  • Pé bom

    O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, é quem tem a melhor média de finalizações certas. O Footstats traz 1,92 por jogo.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
  • Carrapato

    O volante Fernando Sobral, do Ceará, é o principal ladrão de bola do Brasileirão até o momento. São 61 desarmes certos em 17 jogos.

    Imagem: Gil Gomes/AGIF
  • Garçom

    Gustavo Scarpa, meia do Palmeiras, é o líder de assistências na Série A: foram sete passes para gol em 17 jogos.

    Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images
Dinho Zanotto/AGIF

Chape, a pior versão de um turno

Com metade do campeonato transcorrido, a Chapecoense parece fadada ao rebaixamento. O time catarinense é o último colocado e concluiu o turno sem uma vitória sequer. São sete pontos, uma distância de 14 para sair do Z4.

O desempenho da Chape em 2021 no primeiro turno é pior do que times "históricos" negativamente no formato de pontos corridos com 20 clubes. A campanha é pior que a do América-RN de 2007, que somou 10 pontos nas 19 rodadas iniciais. O Náutico de 2013 também somou sete pontos.

Botafogo de 2020, Avaí de 2019 e América de 2007 fizeram, contando só o segundo turno, uma campanha com os mesmos sete pontos atuais da Chape. Mas a ausência de vitórias torna o desempenho pobre.

Jair Ventura foi demitido, Pintado assumiu como técnico em seguida, mas o calvário continua. A derrota mais recente foi ontem, para o Fluminense.

Sendo assim, restam três vagas para rebaixados. Claro que ninguém as quer. Mas a situação de Grêmio, Sport e América-MG já chama atenção. O time gaúcho, inclusive, é a maior decepção do Brasileirão atual, já que em anos anteriores frequentava a parte de cima da tabela, sendo presença recorrente na Libertadores.

O bloco intermediário está embolado, o que serve de ameaça para muitos times ainda. A pressão é altíssima. No Bahia, primeiro que aparece fora do rebaixamento hoje, a vitória sobre o Fortaleza foi tão significativa que presidente Guilherme Bellintani até passou mal por conta de um pico de estresse. O jogo foi insano porque o atacante colombiano Hugo Rodallega fez quatro gols.

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Está todo mundo chateado com o que vem acontecendo. É por um detalhe que a bola não entra ou entra para outra equipe. A gente não entende muitas vezes. É continuar perseverando que uma hora essa fase vai virar."

Perotti, atacante da Chapecoense

Staff Images / CONMEBOL

Artilharia acirrada

Outra disputa equilibrada ao término do primeiro turno é pela artilharia. Até agora, três jogadores estão empatados com oito gols: Bruno Henrique, do Flamengo, Gilberto, do Bahia, e Edenílson, do Internacional.

Gilberto teve uma boa largada no campeonato, chegando a sete gols em nove rodadas. Mas entrou numa fase ruim, o que contribuiu para que o Bahia despencasse na tabela.

Cobrador de pênaltis do Inter, Edenilson não passou mais do que três jogos sem balançar as redes. O time viveu uma fase complicada, com eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores, e agora tenta se estabilizar no Brasileirão.

Já Bruno Henrique esteve em 12 dos 16 jogos do Fla na Série A até o momento. A melhor atuação até aqui foi contra o São Paulo, quando fez três dos oito gols.

A candidatura à artilharia ainda tem um grupo de jogadores de respeito com sete gols. Hulk é um deles, assim como Matheus Peixoto, que defendeu o Juventude e hoje está no Metalist, da Ucrânia, Robson, do Fortaleza, e Ytalo, goleador do Red Bull Bragantino. E Gabigol? Participou de seis jogos e fez seis gols. A média o credencia a brigar também pelo topo.

Mais números do turno

  • Banheira

    O atacante Éder, do São Paulo, é quem mais ficou impedido no Brasileirão até agora: são 16 vezes.

    Imagem: Erico Leonan/São Paulo FC
  • Ousado

    Gustavo Mosquito, do Corinthians, é o maior driblador do campeonato. Em 17 jogos, foram 45 dribles certos.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Corinthians
  • Dureza

    O meio-campo Pepê, do Cuiabá, é o jogador mais faltoso do Brasileirão até aqui: são 42 faltas, uma média de 2,47 por jogo.

    Imagem: Gil Gomes/AGIF
  • Exigência

    Mailson, do Sport, é o goleiro que fez mais defesas no Brasileirão: foram 60, em 19 jogos.

    Imagem: Reprodução/Divulgação
Lucas Figueiredo/CBF

E essa tabela, CBF?

Não é possível prever quando todos os times terão o mesmo número de jogos realizados no Brasileirão. Majoritariamente, as partidas foram adiadas porque a CBF remediou um problema crônico de calendário que ela mesma cria para si ao não interromper suas competições durante a data Fifa. Com jogadores do futebol nacional convocados, o paliativo é deixar o jogo "na nuvem". É essa a terminologia usada pela diretoria de competições para partidas ainda sem data confirmada.

Os jogos atualmente na nuvem são:

Flamengo x Grêmio (2º rodada)

Athletico x Flamengo (4ª rodada)

São Paulo x América-MG (19ª rodada)

Ceará x Palmeiras (19ª rodada)

Flamengo x Atlético-GO (19ª rodada)

Atlético-MG x Grêmio (19ª rodada)

Internacional x Bragantino (19ª rodada)

Na prática, a CBF fica à espera de uma vaga em meios de semana, caso os times envolvidos fiquem pelo caminho nas competições continentais ou na Copa do Brasil. O Flamengo é quem mais tem jogos adiados porque cedeu jogadores nas duas últimas datas Fifa — em junho e agora em setembro. Isso já impactou na Copa do Brasil, cuja final foi parar após o término da Série A, em 8 dezembro.

Para manter o critério, a CBF deve adiar mais jogos em outubro, quando haverá mais jogos da seleção nas Eliminatórias e provavelmente nomes do futebol nacional serão chamados. Se não conseguir manter o intervalo convencional entre as partidas, a CBF pode embolar uma semana de algum clube, marcando jogos a cada dois dias — em 2020, isso ocorreu com o próprio Flamengo.

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