O sucesso de Fadinha coincidiu com outro fenômeno da estreia do skate: atletas muito jovens competindo em um evento com tanta pressão. Com 13 anos, a brasileira precisou, por exemplo, de uma autorização especial para que sua mãe fizesse parte da delegação brasileira. Medalhista de ouro na prova de Rayssa, Momiji Nishiya, do Japão, também subiu ao pódio com 13 anos. Das seis medalhistas femininas (três no park, três no street), quatro tinham 13 anos ou menos.

A precocidade é grande e um limite de idade já está sendo discutido entre os dirigentes. Preparar uma criança para um esporte de tão alto desempenho e, agora, tanta exposição é algo que preocupa o mundo do skate como um todo.

"Esse tema da idade precoce vai ser um tema importante porque a gente acha, pelas conversas de bastidores nas confederações internacionais, que vão colocar um limite de idade para Paris. É uma possibilidade, não é oficial, mas vários presidentes de federações tocam esse assunto. É uma discussão recorrente lá dentro. Acredito que rapidamente teremos essa definição", revelou Duda Musa.

O Brasil possui, além da seleção principal, um outro selecionado júnior, que vai até 16 anos. Segundo o presidente da CBSk isso ainda é algo que está sendo adequado, visto que a própria Rayssa está na principal com apenas 13 anos. "Estamos trabalhando pessoas nas cidades para que entrem no esquema e entendam essa questão de seleção brasileira. É um pouco mais complicado pela cultura do skate, que é um esporte que sempre foi individual e individualista, no sentido de cada um treinar do jeito que quer e quando quer. Isso necessariamente precisa continuar acontecendo porque as pistas não são iguais", disse.

Como se constrói um campo de futebol? Pega-se medidas oficiais, traça-se as linhas, coloca-se uma trave de cada lado e pronto. Uma quadra poliesportiva? A mesma coisa. E uma pista de skate?

Esse é um dos maiores desafios para difundir o esporte. Para além das diferentes modalidades de skate, não existe uma regra para a construção de uma pista. Mas, se ela for mal feita, pode jogar contra a "iniciativa segundo esporte do país".

Criamos um comitê com os construtores de pistas, porque é um grande problema hoje da comunidade do skate. Não é a quantidade de pistas, mas a qualidade delas. É muito comum você ter várias cidades em que o prefeito está investindo achando que está construindo uma pista de skate, mas ele pode estar fazendo tudo menos uma pista de skate."

"O skate é muito específico e não tem o padrão de uma quadra de vôlei ou basquete, em que você entra na federação, pega o padrão, constrói e pronto. O skate não tem isso e nunca vai ter, graças a Deus. O grande sucesso do skate é essa coisa de cada pista ser uma pista. Sendo assim, tem o lado bom, que mantém a chama do skate acessa, mas tem o lado ruim, que é pra licitações e projetos você demora mais, você não consegue replicar. Se uma quadra de vôlei custa dez reais e você tem 100 reais, você faz dez quadras de vôlei. Essa equação não se aplica ao skate, porque depende do lugar, do tamanho do terreno, e assim por diante", explicou Musa.

Apesar do sucesso do skate, a participação brasileira na modalidade foi também marcada por uma polêmica. Quando Kelvin Hoefler conquistou a medalha de prata do street, a companheira de seleção Letícia Buffoni publicou um vídeo em que dizia que vice-campeão olímpico parecia "não gostar de estar com eles". O "racha" foi confirmado pelo UOL no Japão.

Questionado sobre o afastamento, o medalhista chegou a afirmar que não havia gostado do fato de sua esposa, que é sua técnica, não ter sido liberada para viajar. Duda Musa foi perguntado sobre o assunto e confirmou que Kelvin não tinha gostado da justificativa dada pela CBSk para não levar a esposa a Tóquio. Segundo ele, o número de credenciados foi limitado pelos protocolos de covid e não havia como incluir treinadores individuais.

"Eu lamento muito que nesse momento importante do skate a gente esteja falando sobre isso. Preciso deixar registrado isso. É impressionante como perde-se tempo falando disso, e eu não estou falando da imprensa, mas como o mundo do skate está perdendo tempo falando dessa situação, quando deveríamos estar comemorando e visando o futuro e o momento que é maravilhoso do skate brasileiro", disse.

Ele (Hoefler) disse que foi proibido de ter acesso ao fisioterapeuta da seleção. Um dia depois das Olimpíadas, ele faz um post de agradecimento ao fisioterapeuta da seleção. Então, assim, são contradições que eu prefiro até ficar quieto. Eu só estou falando de fatos que estão na mídia, não estou falando de coisas internas e não vou falar. Poderia colocar N outros pontos, mas até prefiro [não falar] para preservar a imagem dele no momento. Que ele aproveite o tempo comemorando a medalha dele, esse momento maravilhoso. Só que ele tá mirando nas pessoas erradas, na confederação errada e na pessoa errada, que sou eu. Ele tá mirando em pessoas que ajudaram ele nesses três anos."