Topo

Fim de contratos põem preparação brasileira em risco com Olimpíada em 2021

Caixa patrocina a Confederação Brasileira de Ginástica desde 2006 Imagem: Ricardo Bufolin/CBG

Demetrio Vecchioli

Do Olhar Olímpico

24/03/2020 16h00

É unânime entre dirigentes do esporte olímpico brasileiro a certeza de que os cortes de investimento, que começaram ao fim das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, seriam mais profundos a partir do ano que vem. Com o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóqui, de 2020 para 2021, porém, o Brasil corre o sério risco de ver a reta final da preparação de seus atletas feita com ainda menos dinheiro do que o previsto. Num cenário de provável recessão mundial por causa da pandemia do coronavírus, some o fim de acordos longos de patrocínio para 2020.

A Caixa Econômica Federal é uma das preocupações. O banco estatal cortou investimentos no esporte olímpico/paraolímpico ao fim da Olimpíada do Rio, mas renovou três contratos, com redução nos repasses, com as confederações de atletismo (CBAt) e ginástica (CBG) e com o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB). Todos os contratos vencem no final de 2020 e precisariam ser renovados para cobrirem a preparação para os Jogos em 2021.

O problema é que a Caixa colocou o pé no freio com relação a patrocínio esportivo durante o governo Jair Bolsonaro (sem partido). Dos contratos que venceram desde o início do mandato, nenhum foi renovado. O banco estatal deixou de investir em clubes de futebol, em corridas de rua, e, recentemente, decidiu não renovar com as ligas de basquete — NBB (maculino) e LBF (feminino). A tendência, ao menos até antes de o mundo virar de cabeça para baixo, é que os contratos com atletismo e ginástica não fossem renovados. Procurada, a CBG disse que o momento não é de pensar em patrocínio, mas de cumprir o período de distanciamento social, priorizando a saúde.

Os Correios já deixaram vencer, sem renovar, os contratos com handebol, tênis, rúgbi e esportes aquáticos. Na virada do ciclo, Banco do Brasil manteve, com redução de valores, o contrato com a Confederação Brasileira de Vôlei, que vence em março de 2021. Existe o risco concreto de, mesmo que o contrato venha a ser renovado, os valores envolvidos sejam expressivamente mais baixos.

"A CBV e o BB já iniciaram as tratativas visando à renovação. Preocupação existe, até porque temos agora um novo cenário de crise mundial, mas a excelente relação entre as instituições e o comprometimento da CBV em sempre honrar os compromissos com governança, ética e transparência nos faz otimistas na continuidade da parceria com o BB. A ausência de recursos implica na redução de investimentos em todos os segmentos, inclusive na preparação das equipes olímpicas, mas estaremos trabalhando ao máximo para evitar esse cenário", disse a CBV em nota.

Além das estatais, existe um risco concreto de o Bolsa Pódio deixar de existir, apesar de o governo afirmar que vai lançar novo edital no segundo semestre. O benefício, voltado a candidatos a medalhas olímpicas, faz parte do programa Bolsa Atleta, que custa cerca de R$ 140 milhões ao ano. No Plano Plurianual aprovado para 2020-2023, o governo federal reservou apenas R$ 70 milhões ao ano, inclusive para 2020. Para manter o pagamento até a Olimpíada em 2021, a Secretaria Especial do Esporte precisaria de uma injeção extra de orçamento, num momento em que o país provavelmente estará lutando contra uma recessão.

Os problemas não param por aí. Com as pessoas em casa, a tendência é que as Loterias tenham uma redução na arrecadação, o que significaria menos receitas da Lei Agnelo/Piva para o COB e para as confederações. Contratos privados também vencem, como o acordo entre CBAt e Nike e entre CBDA e Rede Globo, que é o que mantém a confederação de desportos aquáticos ainda operacional. O contrato entre CBVela e Bradesco também vence no fim do ano.

COB, CPB e confederações ainda precisam calcular o prejuízo com a pandemia do coronavírus e o adiamento dos Jogos. Isso porque a regulação da Lei Agnelo/Piva não permite que os recursos das loterias paguem multas. Caso haja multa para remarcação de passagens, por exemplo, elas precisam ser pagas com recursos privados, que são escassos.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Fim de contratos põem preparação brasileira em risco com Olimpíada em 2021 - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Olimpíadas 2020