Topo

Ex-nadadoras denunciam presidente de Federação Amazonense por abuso sexual

Vitor Hugo Lopes Façanha, conhecido como "Botinho", é acusado de abuso sexual - Divulgação
Vitor Hugo Lopes Façanha, conhecido como "Botinho", é acusado de abuso sexual Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

19/12/2020 19h17

Ex-nadadoras amazonenses acusam o atual presidente da Federação Amazonense de Desportos Aquáticos (Fada), Vitor Hugo Lopes Façanha, conhecido como "Botinho", de abuso e assédio sexual. Segundo reportagem da CNN, as jovens eram treinadas por Façanha em um colégio, o Centro Educacional La Salle, e na Vila Olímpica de Manaus.

Façanha teria tocado em partes íntimas das vítimas, pressionado uma delas na parede para tentar um beijo a força, além do assédio para que enviassem fotos íntimas e convites para que as jovens fossem até a casa do treinador para relações sexuais. Uma das vítimas está movendo um processo contra Façanha, que corre em segredo de Justiça.

Das 21 atletas que foram contatadas pela reportagem, 10 negaram qualquer atitude fora do comum do treinador. As demais compartilharam histórias que ocorreram quando tinham faixa etária semelhante - de 11 a 17 anos. Os episódios não eram compartilhados nem mesmo entre as atletas. Pais e familiares só souberam dos abusos quando os primeiros episódios vieram à tona em 2018.

"Uns meses depois que eu entrei para a escolinha, uns três meses depois, (ele) começou a passar a mão nas costas, na bunda, nas pernas. Aí depois foi só piorando. Não só em mim, como em outras atletas. Aos 11 anos, ele tentava me beijar, me chamava para sair. Quando me dei conta, durante quatro anos isso aconteceu e eu não fiz nada. Pesou muito para mim", contou F, de 20 anos, que teve seu nome preservado. Ela começou a treinar com Botinho aos 11 anos.

"Hoje em dia eu nem sinto raiva, eu sinto pena. Uma pessoa doente assim. Eu tinha 14 anos, ele mandava mensagens falando que ia vir para (cidade atual da vítima), me ver, para a gente passear, tentar algo mais, até fazer sexo", conclui.

N, de 23 anos, conta como uma ligação da avó durante uma carona a "salvou" depois do técnico já ter tentado beijá-la em uma outra oportunidade.

"Quase chegando na casa dele, eu recebi uma ligação da minha vó perguntando: 'Você ainda vai demorar?'. (...) Digamos que essa ligação me salvou porque quando eu desliguei, ele falou: 'é melhor eu te levar para casa porque senão ela vai estranhar essa demora, porque ela sabe que a gente vai transar', ele falou."

"Exatamente isso: 'ela sabe que a gente vai transar', então, eu vou te levar logo para casa'. Aí ele só pegou meu carregador e me deixou em casa. E na hora que ele me deixou na porta de casa, ele novamente tentou me beijar na boca. Ele se inclinou e eu simplesmente me fiz de desentendida, abri a porta, agradeci e fui embora. Acho que essa foi a última vez que eu encontrei com ele fazendo parte da equipe".

A jovem que fez a queixa contra Botinho afirma ter recebido convites para frequentar a casa do treinador. "Quando eu estava de maiô, ele tentava várias vezes entrar na sala onde ficavam nossos materiais para ficar lá com a gente. Só que eu tentava sair. Não ficava com ele, junto com ele, porque eu tinha medo", conta.

Outro lado

Vitor Hugo Lopes Façanha negou todas as acusações de assédio. Em sua defesa, ele disse que tem 43 anos de "borda de piscina", "treinou mais de dois mil atletas" e que só teve problema com uma única nadadora. Ele nega qualquer tipo de relacionamento que fugisse à relação professor-aluna.

"Se te falaram, é a palavra deles contra a minha. Pessoas que te falaram isso aí, assim como algumas te disseram alguma bobagem, alguma mentira, outros negaram. Isso aí, inclusive as caronas que eu dava, os pais sabiam disso. Se tivesse tido algum problema, elas teriam falado com os pais e os pais teriam vir me falado. Nada nunca foi relatado", alega.

Sobre a jovem que o processou, ele nega que tenha assediado, e alega que a jovem ia aos treinos com roupas que "chamavam atenção".

"Primeiro tens que conhecer o que foi que houve com a X*. Segundo, quem é a X. E terceiro, tu tens que ver que a X estava mentindo, porque, na época que ela fez isso, (foi) forçada pela mãe. Na época, os pais foram lá na direção do La Salle me defender. A X me procurou em 2017, mandou mensagem para mim, dizendo que queria voltar a nadar. Ela é pobre, entendeu? E eu disse: me procura lá no La Salle e vem com os teus responsáveis'. E ela procurou. Eu não a recrutei, eu tenho isso inclusive até hoje no meu Messenger (aplicativo de troca de mensagens do Facebook), quando ela não tinha meu número e mandou. Mas está lá na minha defesa", conta.

"A X começou a vir com malha de academia muito chamativa. Então ela fazia academia no La Salle antes e depois ia para a natação. Por que tu estás dizendo que é chamativa? Porque o professor da academia me chamou e pediu para que eu falasse com ela, para que ela colocasse um short, botasse uma camisa em cima da malha, porque lá também malhavam pais de atletas. Eu não falei pra ela. Eu chamei a Lúcia (outra professora) e ela falou e ela prontamente colocou", relata.

A mãe da ex-nadadora contesta a versão e diz que Botinho foi quem recrutou a aluna, pedindo mais de uma vez para que ela permitisse que a filha treinasse com ele. "Ele pegava, enganava elas, porque qualquer criança sonha estudar no La Salle, porque tem tudo lá dentro e, principalmente, a criança que pratica esporte".

Botinho alega que sempre fez comemorações com seus alunos e que algumas das ex-nadadoras pode ter entendido errado o sentido dos convites. Ele diz também que nenhum caso foi denunciado. "Elas não estão denunciando. Estão falando isso porque foram procuradas por você", afirmou ao repórter.

"Eu não tenho preocupação nenhuma, não. É claro que isso aí é uma importunação e eu vou ter que me defender. Que estão mentindo, estão. Se tivesse acontecido isso, na época, elas teriam falado, porque eu conheço os pais dos atletas ali. Eu defendo isso, inclusive", conta.

A CBDA afirmou que não pode divulgar informações sobre possíveis técnicos investigados. O Centro Educacional La Salle respondeu que abriu uma sindicância para apurar as denúncias ainda em 2018 e que o professor está afastado.