O flautista e o cantor: as histórias de Hernanes e Jean, amigos há 15 anos
O clássico entre Palmeiras e São Paulo, às 16h deste domingo, no Allianz Parque, será especial para o amigos Jean e Hernanes: os dois, que jogaram juntos entre 2002 e 2010, estarão em lados opostos pela primeira vez.
A dupla se conheceu em 2002, na base do São Paulo, se fortaleceu em 2008, quando Jean voltou de um empréstimo ao Penafiel (POR) e foi promovido ao grupo profissional, e se separou em 2010, ano em que Hernanes foi vendido para a Lazio (ITA).
A amizade se manteve à distância nos últimos sete anos. Hernanes passou todo este período fora do Brasil, em clubes da Itália e, mais recentemente, da China, enquanto Jean foi do São Paulo para o Fluminense e depois para o Palmeiras.
Quando eles se encontrarem neste domingo, o lateral-direito do Palmeiras dará um caloroso abraço no meia do São Paulo. Mas o LANCE! mostra, abaixo, que este também será um abraço entre um cantor e um flautista. Conheça essa e outras histórias.
Hernanes flautista, Jean cantor
- Cara, uma história interessante, bem bacana, foi quando o Hernanes quis aprender a tocar flauta. Quando a gente estava na concentração, ele sempre tocava aquela flauta. Como ele aprendia as coisas rápido e bem, ele tocava lá umas músicas, uns louvores, e eu saía cantando atrás - relembra Jean, que era colega de quarto de Hernanes no Tricolor.
Certa vez, a dupla foi surpreendida enquanto fazia seu "show" musical na concentração. E arrancou risos de um personagem conhecido por ser bem ranzinza:
- Uma vez ele desceu tocando, eu cantando, e de repente a gente deu de frente com o Muricy. O Muricy achou engraçada aquela situação, a gente deu muita risada. A gente não esperava encontrar ele ali, ainda mais com o Hernanes descendo tocando aquela flauta lá e eu cantando. O Muricy acho que vai até lembrar dessa história aí.
Amigos do cientista
Em 2010, Hernanes revelou em uma entrevista coletiva que contava com a ajuda de um amigo cientista na tentativa de se tornar o "jogador completo". Esse guru era J. Alves, ex-técnico da base são-paulina, que faleceu em 2014. Ele foi o autor do livro "Futebol Completo" e também orientava Jean.
- O J. Alves era um cientista do futebol, e a gente aprendeu muito com ele. O Hernanes e eu falávamos muito de futebol e fazíamos aulas com o J. Alves, trabalhávamos muito com ele - diz o palmeirense.
Escovar o dente com o pé, ver TV no mudo...
Antes de ouvir o ensinamentos do cientista, Hernanes fugia do óbvio nas atividades do dia a dia para tentar desenvolver o cérebro.
- Eu pensava: se conseguir desenvolver a escrita com o pé esquerdo, a capacidade do meu cérebro será incrível. Mas depois eu desisti, porque aí entra o J. Alves, que já tinha estudado mais do que eu e falava que as técnicas para o futebol e seu ofício são específicas. Se eu fosse muito bom em escrever com o pé, não queria dizer que dentro de campo eu seria bom no passe ou no chute de pé esquerdo. Mas descobri outra coisa. Técnicas parecidas você consegue melhorar. Por exemplo, eu hoje escrevo com as duas mãos. Treinei para isso também, que eu queria. Uma técnica que desenvolvi. Tanto que meus últimos contratos eu escrevi com a mão esquerda - conta Hernanes.
Jean presenciou várias etapas dessa busca do amigo pelo desenvolvimento cerebral:
- Isso foi mais em 2004, no começo, lá na base. Ele tinha curiosidade com essas coisas de desenvolver o cérebro, queria ver como era. Ele assistia televisão no mudo para fazer leitura labial, escovava os dentes com o pé... São coisas interessantes, chega até a ser engraçado, mas é tudo para aprender alguma coisa. Ele não fazia porque achava engraçado ou porque era legal, era para aprender, ver como era. Ele gosta muito disso e eu também acho que a nossa mente tem uma capacidade extrema, acho que é algo infinito, que o ser humano precisa estudar para saber. O cérebro, com certeza, sempre foi um dos nossos estudos também. Até hoje a gente procura estar desenvolvendo. É muito interessante.
Apaixonados por leitura
Hernanes e Jean gostam muito de ler. O livro preferido deles é a Bíblia Sagrada, objeto de muito estudo da dupla nas concentrações antes de jogos do São Paulo.
- A gente estudava bastante a Bíblia juntos, líamos muito. Dentro de campo, cada um tinha sua maneira de jogar, de se conduzir, mas fora de campo a gente fazia as mesmas coisas, estudava bastante. Acho que o principal era isso, estudar a Bíblia, a palavra de Deus - lembra Jean.
Uma passagem da Bíblia despertou a curiosidade de Hernanes e pode render, no futuro, um livro escrito por ele:
- Me chamou a atenção um versículo que falava do homem potente. E eu pensei: "Poxa, vou estudar quais são os atributos que fazem de um ser potente". Comecei a estudar sobre isso, pesquisar, ler mais - conta o são-paulino, que aprimorou seus conhecimentos recentemente, quando começou a cursar engenharia.
- Eu me deparei com a fórmula da potência, que é igual a força mais velocidade dividido pelo tempo. E eu sempre quis ser mais forte, veloz. Fazia muito trabalho de velocidade, pique a curta distância, mas sentia que não melhorava. A potência tem duas variáveis, a força e a velocidade. E velocidade é algo puramente genético, ou você tem a fibra rápida ou você não tem. Não adianta, eu posso treinar o que for. Então ainda bem que existe a força. Parei para focar na força. Foi muito legal essa descoberta dessa fórmula, e até penso em escrever um livro depois, com essa fórmula como base para um estilo de vida, do homem potente.
Aventura na Índia
No início de 2007, Hernanes e Jean foram juntos para a Índia, compondo um time alternativo enviado pelo São Paulo para jogar amistosos por lá. O clube mesclou atletas da base - caso de Jean - com outros que não tinham espaço entre os profissionais - caso de Hernanes, que fez alguns jogos na equipe de cima em 2005, mas atuou por empréstimo pelo Santo André em 2006.
- Ele teve mais oportunidades para jogar na Índia. Eu entrei em um jogo ou outro, até fiz um gol, um golaço, acho que bem na estreia. Mas para ele foi uma excursão muito boa, tanto que depois já subiu para o profissional e eu ainda fiquei na base - lembra Jean.
O São Paulo venceu os cinco jogos que fez durante a excursão. Jean marcou um gol no primeiro deles, 3 a 0 sobre o KF East Bengal, mas quem brilhou foi Hernanes, com três gols e grandes atuações nas partidas seguintes. Faltavam seis meses para o término do contrato dele com o São Paulo, que não quis correr o risco: renovou o vínculo ainda na Índia, com os termos registrados inicialmente em um guardanapo. Naquele mesmo ano, Hernanes foi titular e destaque do título brasileiro do Tricolor. Em 2008, formou dupla de volantes com Jean, foi campeão novamente e acabou eleito o craque do torneio.
O reencontro
Assim que o São Paulo anunciou o retorno de Hernanes, os amigos conversaram pelo celular e começaram a imaginar como seria o duelo entre eles. Agora, com o momento se aproximando, evitam tocar no assunto:
- Logo que ele chegou a primeira conversa foi essa: "poxa, vai ter a possibilidade de a gente se enfrentar, algo que nunca aconteceu". A gente nunca jogou contra, sempre jogamos a favor. Foi o que a gente conversou. Recentemente não teve nenhuma conversa sobre a questão profissional, não, foi mais reencontrar mesmo, matar a saudade, um matar a saudade da família do outro também, dos filhos. Não falamos nada sobre o clássico, cada um vai defender o seu escudo, o clube em que está trabalhando, então preferimos nem tocar no assunto - disse Jean.
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