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Brasileirão - 2021

Na labuta desde os 5 anos, Anderson sonha com 'colheita de 1ª no América-MG

Zagueiro Anderson, de 26 anos, participou de 13 partidas do América-MG no Campeonato Brasileiro 2021 - João Zebral/América-MG
Zagueiro Anderson, de 26 anos, participou de 13 partidas do América-MG no Campeonato Brasileiro 2021 Imagem: João Zebral/América-MG

Henrique André

Do UOL, em Belo Horizonte

22/09/2021 11h51

Lutar pelos objetivos, valorizando cada conquista do dia a dia. Este é o lema de um sergipano de 26 anos que, atualmente, veste a camisa do América-MG e que, desde a infância, aprendeu a valorizar o trabalho. Titular no empate em 1 a 1 com o Corinthians, na última rodada do Campeonato Brasileiro, Anderson completou 13 jogos na competição mais importante do país e agora espera seguir entre os 11 de Vagner Mancini para ajudar o time mineiro a permanecer na elite. Hoje (22), a partir das 20h30 (de Brasília), o desafio será contra o São Paulo, no Morumbi.

Nascido e criado no povoado Brasília, próximo a Lagarto, cidade natal do atacante Diego Costa - ídolo na Europa e que há um mês retornou ao Brasil para tentar fazer história vitoriosa com a camisa do Atlético-MG -, o zagueiro começou a lida aos 5 anos, quando ajudava os pais na colheita de laranja e acerola.

O senhor Rosival, o Val Preto, e a dona Domingas, com a missão de manter a casa e oferecer o melhor possível aos quatro filhos (Cristiane, Andrieia, Valdo e Anderson), levantavam antes de o galo cantar. Isso, inclusive, não sai da memória do zagueiro.

"Penso muito nisso. É uma coisa que não tem como sair de mim e que faz parte da minha infância e da minha vida, assim como da minha família. Não só como a laranja e a acerola, mas como a mandioca. Foi onde trabalhamos muito. Depois dessa fase, o pai cavava poço (cisterna)", conta o sergipano ao UOL Esporte.

"Comecei com 13 anos a cavar cisterna com meu pai. Mas tirar laranja e acerola, desde os 5 anos. Ia para aula e, quando voltava, ia ajudar o pai e a mãe, que já estavam de pé desde 3h, 4h. Quem chegava primeiro tinha a oportunidade de tirar, deixar debaixo do pé, para ficar na frente quando o trator chegasse com o reboque", acrescenta.

O trabalho era tão árduo, que dona Domingas hoje precisa conviver com uma hérnia de disco. Como ficava muito tempo sentada, geralmente em bancos duros, ela acabou carregando esta 'dolorida herança'.

"Ganhávamos por caixa colhida. Na época, com cada caixa de laranja a gente ganha cerca de R$ 1, R$ 1,50. A acerola pagava um pouco mais, cerca de R$ 3, R$ 4", relembra Anderson.

começo anderson - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Campo em que o zagueiro Anderson, atualmente no América-MG, começou a jogar futebol, no Sergipe
Imagem: Arquivo Pessoal

Começo no futebol

Buscando dar qualidade de vida melhor aos pais, quando tinha 15 anos, Anderson resolveu abraçar a ideia do irmão Valdo, que hoje está no futebol japonês, e tentar a vida no futebol. Com aval dos pais, eles partiram para a capital e, ali, começavam a trilha o caminho no mundo da bola.

Chegada ao América-MG

Contratado pelo América-MG no ano passado, durante a pandemia, Anderson deixou o Bahia atendendo convite de Lisca, então comandante do alviverde mineiro.

Trabalhando por seu espaço, ele precisou de tempo para ganhar a titularidade. Ao lado de Messias, atualmente no Ceará, ele ajudou o Coelho a retornar à primeira divisão do Brasileiro.

"Cheguei no ano passado, vindo do Bahia. Por causa da pandemia [Covid-19], o clube teve que se desfazer [de jogadores], mas tive a oportunidade de vir para o América, por causa do professor do Lisca. Cheguei para buscar a posição e meu espaço. Quando tive a oportunidade, consegui corresponder e formar uma boa dupla com o Messias, que é um cara sensacional", conta.

"Hoje, o América tem grandes zagueiros. Espero que esse ano eu possa ainda brigar pelo meu espaço, conquistar a posição e ajudar o grupo a permanecer na primeira divisão, jogando ou não e respeitando as decisões do professor Mancini", foi além.

Sobre a oscilação na equipe, alternando momentos entre os titulares e outros na reserva, Anderson se mantém tranquilo. Cara discreto, de poucos amigos, ele não acredita que teve queda de rendimento na temporada e prefere valorizar a qualidade dos concorrentes pela posição.

"Eu sou um cara que tenho a autocrítica muito forte. Às vezes, chego em casa meio cismado e irritado com as minhas atuações e converso muito com minha esposa [Marcela]. Não creio que tenha sido uma queda de rendimento minha, o que é até normal na vida do jogador. Não me vejo tendo prejudicado o América em algum momento. Não culpo ninguém. Quero apenas ser melhor do que eu mesmo a cada dia", explica o zagueiro.

"A gente vinha fazendo bons jogos, mas o resultado não vinha. Nos últimos jogos mudamos isso. Os trabalhos ao longo da semana estão sendo bem proveitosos e nosso time tem se incorporado mais, conquistando os pontos. Sabemos que o Salum e toda diretoria vêm trabalhando, olhando o mercado e contratando peças pontuais", acrescenta.

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Anderson, zagueiro do América-MG, nasceu na mesma cidade que o atacante Diego Costa
Imagem: Arquivo Pessoal

Amizade com Diego Costa?

Apesar de terem nascido em locais próximos, Anderson e Diego Costa não são amigos. Em Lagarto, eles conhecem pessoas em comum, mas pouco conversaram.

"Estive com ele em janeiro, nas minhas férias. Mas nunca tinha tido contado e nunca fomos próximos. Temos amigos em comum. Feliz que ele está em BH, no futebol brasileiro, e torço para que tenha sucesso e conquiste os objetivos. Mas se tiver que acontecer, será bom que esta amizade engrene", diz.

Sonho da Amarelinha

Mesmo se achando "velho" para ser lembrado na seleção brasileira, Anderson mantém vivo o sonho de um dia vestir a Amarelinha. Este, inclusive, é um dos assuntos que sempre vêm à tona com a esposa Marcela.

"Sonhar nunca é demais. Quando eu tinha 22 anos, sonhava muito com a seleção brasileira. Para Deus nada é impossível. Minha esposa até brinca com isso. Ela fala para que eu tenha fé. Acredito ainda. Quero levar o nome do meu povoado o mais longe possível". Com Marcela, Anderson tem o pequeno Pedro Lucas, de 2 anos e meio; do primeiro casamento, ele tem como herdeira Lara Sofia, de 6. A baixinha mora em Sergipe com a mãe.

casa anderson - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Foi nesta casa que Anderson cresceu no povoado de Brasília, em Sergipe
Imagem: Arquivo Pessoal

Saudade do Nordeste

Mesmo completando um ano de Minas Gerais, Anderson ainda não conhece os pontos turístico de Belo Horizonte. Caseiro, ele promete que, em breve, usará as folgas para turistar na capital e também no interior. Ouro Preto é um dos destinos que ele tem em mente.

Contudo, o zagueiro não consegue abandonar as raízes. Nas próximas férias, na esperança de que seja com a manutenção do América-MG na Série A, ele já tem destino certo: ir a Sergipe matar saudade da família e dos amigos e, claro, se deliciar com o cuscuz, sua iguaria predileta.

"Não há lugar melhor que o meu Nordeste", finaliza.