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OPINIÃO

"Time de assassinos": vale tudo na arquibancada? Blogueiros opinam

Imagem: Lucas Merçon/FFC

Do UOL, em Santos (SP)

31/01/2020 12h00

Resumo da notícia

  • Torcida do Fluminense entoou gritos de 'time assassino' no clássico
  • Canto dos tricolores relembra a tragédia no CT do Ninho do Urubu
  • Qual a melhor forma de coibir esse gritos? Vale tudo na arquibancada?
  • "Identificar os manifestantes e tirá-los do estádio", analisa Juca
  • PVC: "Não acho que deva haver censura às manifestações populares"

O canto da torcida do Fluminense durante o clássico contra o Flamengo, no último domingo (26), continua repercutindo. Por conta dos gritos de "time assassino" — que relembram a tragédia no CT Ninho do Urubu — proferidos pelos tricolores, o clube rubro-negro avalia se vai ingressar com uma notícia de infração contra o rival. Antes, o próprio Flu emitiu uma nota de repúdio.

Mas qual a melhor forma de coibir gritos desse tipo? Ignorar? Ou tem de haver punição para a torcida? Há de se tentar um monitoramento ou na arquibancada 'vale tudo'? Fizemos essas perguntas aos blogueiros do UOL Esporte. Veja o que eles pensam a respeito:

ANDREI KAMPFF

Assim como acho que o Flamengo precisa entender que a tragédia do Ninho do Urubu vai muito além de uma questão jurídica, as torcidas de outros clubes não entenderam que ela não pode ser usada como "provocação" de estádio. O futebol não pode se dissociar jamais das questões humanitárias. A nota de repúdio do Fluminense ao episódio do clássico é um dos caminhos para se mudar essa tradição. Clubes precisam se posicionar.

Leia o blog Lei em Campo.

JUCA KFOURI

Francamente, não sei como evitar manifestações coletivas, mesmo as de pior gosto possível como vemos nos estádios, tanto nos casos de racismo, homofobia ou como neste tão bem abordado por André Rocha.

Provavelmente, a melhor solução seja pela via de campanhas educativas. Ao malograrem, identificar os manifestantes e tirá-los do estádio.

Leia o blog do Juca.

MARCEL RIZZO

Tem que se cobrar a diretoria do Flamengo pela tragédia no Ninho do Urubu, mas não dessa maneira. O grito, no estádio, acaba direcionado aos atletas, que não são culpados pelo ocorrido. Que se dê responsabilidade a quem tem responsabilidade e pelos meios judiciais. O grande problema é: como dar limite a gritos e cantos fora dos padrões? A Fifa tenta há tempos coibir gritos racistas, xenófobos e homofóbicos nos estádios e pouco resultado consegue, mesmo em alguns casos punindo os clubes. A rivalidade não pode levar a extremos e no futebol, infelizmente, é o que acontece semanalmente.

Leia o blog do Marcel Rizzo.

MENON

Nos casos de racismo, é importante punir os torcedores. É crime. Nos outros casos, parar o jogo.

Leia o blog do Menon.

PERRONE

Não é uma solução simples. Depende de uma série de ações que englobam educação, medidas preventivas, punições (o que pode exigir nova lei), e muito diálogo dos clubes com os torcedores. Trabalho a longo prazo e permanente.

Leia o blog do Perrone.

PVC

Não acho que deva haver censura às manifestações populares. Deveria haver bom senso, educação, compreensão do problema. Mas sempre houve provocações baixas nas torcidas, como forma de desestabilizar o adversário em campo e ajudar seu time a ganhar a partida.

Famoso era o grito das torcidas cariocas para o goleiro Júlio César, lembrando o relacionamento que sua esposa, Suzana Werner, teve com Ronaldo Fenômeno. Também foi famoso [caso] do goleiro Ronaldo, do Corinthians, voltava-se para a torcida do Palmeiras e respondia, quando começava um canto ostensivo com o nome de sua esposa, na época, Andréa. Eram cantos chulos. Fizeram parte da história.

No Ninho do Urubu, houve um acidente, num período de um ano em que o Rio de Janeiro registrou três grandes incêndios, um deles destruindo a memória do país, no Museu Nacional. Outro afetando pessoas internadas no hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. É um escândalo a Justiça não ter ainda determinado quais foram os culpados e qual a indenização a ser paga pelo Flamengo.

Para o Flamengo, o melhor cenário seria resolver o caso rapidamente. Resvalaria muito menos na imagem do clube, ninguém perguntaria por que o Flamengo gasta R$ 78 milhões para contratar Gabriel, R$ 34 milhões em Michael, R$ 32 milhões em Léo Pereira e não decide qual o tamanho da indenização às dez famílias. Mesmo se tivesse resolvido a questão, o grito poderia aparecer na arquibancada em referência a um ano da tragédia.

Leia o blog do PVC.

RENATA MENDONÇA

Na arquibancada, definitivamente não pode tudo. Aliás, essa foi uma ideia que já perdurou tempo demais. Não dá mais para aceitar o estádio como "tribunal de exceção" onde se falam as mais absurdas barbaridades e todo mundo sai ileso. Acredito que seria preciso encontrar formas de punição e até mesmo parar o jogo — assim como é recomendado para a arbitragem em casos de gritos homofóbicos ou racistas.

É preciso dar uma resposta para que esses torcedores entendam que essas coisas não serão mais admitidas. Até mesmo a eventual punição do clube pode ajudar a coibir esse tipo de manifestação nas arquibancadas. O primeiro passo é que os clubes envolvidos e federações se posicionem para que fique clara a mensagem aos torcedores que insistem nesses gritos: eles não mais serão tolerados. Ignorar não é a solução, principalmente quando os gritos são fortes a ponto de serem audíveis na transmissão. É necessário falar sobre isso e debater sobre quão inaceitáveis essas atitudes são. E aí pensar juntos (clubes, federações) a melhor forma de combater esses gritos.

Leia o blog Dibradoras.

RENATO MAURÍCIO PRADO

O coro "time assassino" é deplorável e, além de tudo, estúpido. Porque se algo e alguém podem ser responsabilizados pela tragédia são o clube e seus dirigentes, jamais o time. De qualquer forma é um absurdo.

Mas, reconheçamos a voz da arquibancada nunca foi preocupada com educação. Basta lembrar os coros medonhos para o goleiro Júlio César, recordando o namoro anterior de sua mulher Suzana Werner com Ronaldo Fenômeno; os cantos preconizando a morte de Valdir (Bigode) e celebrando a de Denner; crueldade idêntica cometida quando Ricardo Gomes sofreu um AVC, e ainda o humilhante coral que saudou uma presidente da República na abertura da Copa, no Itaquerão. Enfim, o problema é velho e, aparentemente, insolúvel.

O que fazer? Punir o clube cuja torcida dispara impropérios inconvenientes, grosseiros ou ofensivos? Como mesurar o que é passível de punição e o que pode ser considerado apenas gozação e provocação aceitáveis? A solução passa, antes de mais nada, pela educação do povo. Esse é o grande e verdadeiro problema e também o desafio do país. Enquanto não avançarmos por aí, qualquer medida será apenas paliativa e não resolverá nada.

Leia o blog do Renato Maurício Prado.

RODRIGO MATTOS

A arquibancada não pode ser vista como terra de ninguém. Aplicam-se ali as regras escritas e não escritas da sociedade e é meio óbvio ser inaceitável usar mortes em uma tragédia para atacar um time rival. Já ocorreu várias vezes no futebol brasileiro e tem que haver indignação quando acontece, ainda mais quando é uma manifestação maciça como foi a da torcida do Fluminense.

Em relação a punições a questão é mais complexa. O sistema legal do futebol brasileiro permite punições por gritos homofóbicos ou racistas, mas não é tão claro sobre outros tipos de manifestação ofensiva como alusões à tragédia. Desordem ou incitação ao ódio seriam enquadramentos possíveis. É certo que esse tipo de grito incita a violência.

Leia o blog do Rodrigo Mattos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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