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Torcida do Palmeiras responde racismo com homofobia

Hoje, o Palmeiras recebe o Boca Juniors para a segunda partida da semifinal da Libertadores. Sua torcida preparou uma série de provocações para os rivais. Na lógica do vale-tudo para desestabilizar o adversário, teve tanto fogos de artifícios soltados de madrugada perto do hotel onde os argentinos se hospedaram, quanto mensagens mais agressivas direcionadas aos torcedores de lá, como se pode ver pelas pixações de "Fogo nos racistas" e os cartazes espalhados nas ruas por onde irão passar até chegar ao estádio.

Eu, particularmente, acho o cúmulo da hipocrisia o sensacionalismo que fazemos aqui no Brasil para tentar colar a pecha de racista nos argentinos e nos nossos vizinhos, porque é nitidamente o sujo falando do mal lavado. Uma coisa é cobrarmos um compromisso das equipes sul-americanas, assim como da Conmebol, no enfrentamento ao racismo, outra é sairmos apontando dedos como se o problema estivesse só lá e não aqui também (ou como se lá fosse pior do que aqui). Me parece, inclusive, perverso darmos tanto holofote para o racismo presente nesses insultos raciais e nos calarmos com relação a outras formas de racismo perpetradas cotidianamente pelo futebol Brasil, como as que envolvem a elitização das arquibancadas, por exemplo.

A impressão que dá é que querem apenas que esse racismo mais escrachado, o dos insultos, deixe de ser manifestado, porque aí poderão acreditar que o "problema" está resolvido. Se não tiver mais gente gritando ofensas racistas, não temos mais que nos preocupar com racismo, certo? Me digam se estou exagerando.

Mas o objeto central desta coluna será a outra "provocação" espalhada pela torcida do Palmeiras, os cartazes em que vemos simpáticos macaquinhos enrabando o Maradona, que grita (aparentemente) de dor. A gente sai da quinta série, mas ela não sai de nós, né? O que esses cartazes espalhados ao redor do estádio do Palmeiras nos estão dizendo é: "Você me chamou de macaco, então eu sou o macaco que vai comer o seu ce-u, agora aguente". Sério, gente? Em 2023, ainda acreditamos que dar o cu é uma espécie de tortura, de imposição da nossa força e autoridade sobre o outro? Já escrevi alguns meses atrás sobre esse medo que héteros têm de descobrir que é possível sentir prazer com o ce-u, com o próprio ce-u, mas parece que não vamos sair nunca desse lugar tão fácil. E não há como superar a homofobia enquanto não perdermos o medo dos nossos ce-us... já falei lá e repito aqui.

O curioso é que minhas amigas travestis que trabalham ali perto, na Barra Funda, adoram quando tem jogo do Palmeiras, pois sabem que vão surgir vários paizinhos ávidos por uns minutinhos de prazer com elas. No entanto, adivinha qual o prato preferido que eles vão buscar lá? Melhor eu nem dizer, deixar para a imaginação de vocês responderem. Só digo que as minhas manas às vezes passam semanas sem ver um unicozinho ativo que seja, a preferência declarada da maioria delas... se enrabar fosse realmente algo tão desejado assim, me estranha que a prática seja tão pouco solicitada. Enigmas insolúveis desse nosso Brasil do século 21.

Termino mencionando que houve um pronunciamento oficial das duas grandes torcidas LGBTI+ alviverdes: a Palmeiras Livre (da qual fui uma das fundadoras, dez anos atrás) e a Porco-Íris. Ambas estão, agora mesmo, sendo duramente atacadas por terem criticado a homofobia desses cartazes que citei...

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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