"Sargento Roth" impõe estilo militar, ignora boas maneiras e assusta atletas
O técnico Celso Roth assumiu o Grêmio há menos de dois meses e já instituiu sua metodologia alternativa de trabalhos. Com pouco tempo, ele transformou o Olímpico em um quartel. No melhor estilo militar, o "sargento Roth" comanda treinamentos intermináveis, grita palavrões, xinga, cobra publicamente, orienta até o posicionamento do sol e amedronta seus comandados com perguntas nunca respondidas. Dono da mais alta patente no campo gremista, ele busca a perfeição e tem conquistado resultados.
Celso Roth faz série de perguntas não respondidas pelos jogadores do Grêmio, motivados pelo medo
Logo no primeiro dia o sargento já mostrou as caras. Douglas errou um lance e recebeu o tratamento adequado. "Recompõe, recompõe m.... Volta porque foi tu que errou, c...." disse o treinador aos gritos. Pouco depois, foi a vez da defesa receber as "boas maneiras". Também no tom alto e grave que lhe é comum, Celso exclamou: "Aqui é forte, com raça, ninguém é menininho de apartamento".
Não foram somente estas vezes que o estilo militar de Celso Roth esteve presente nos treinamentos. Palavrões saltam da boca do técnico com a naturalidade de quem cumprimenta um amigo. E o momento mais temido pelos jogadores se repete a cada atividade.
Roth assiste determinada jogada, não gosta, e apita. Os minutos que antecedem sua chegada até onde estão os atletas parecem horas para eles, que logo serão duramente cobrados. "O que está acontecendo aqui?", pergunta em tom imperativo. Nada é respondido. "Está errado! A marcação não saiu no momento correto. E por que a bola sobrou?", indaga novamente. Nenhum som é ouvido. "Por que o meio não veio ajudar", completa. E assim segue o diálogo sozinho. Ninguém ousa rebater por medo de errar e ser xingado mais ainda.
"Eu não respondo. Ninguém responde. A gente sabe como o Celso [Roth] é. Se acontece de eu errar, como eu fico? Daí sim que iria ouvir mais ainda", disse Mário Fernandes, após um trabalho na última semana.
Os treinos longos também marcam o estilo do comandante. O desta quinta-feira não foi o primeiro que só acabou pois não havia mais luz suficiente. Frio, chuva, nada disso impede a busca pela perfeição.
"Por onde ele passou, sabemos que é assim. Exige a perfeição do time, se não atinge isso, chega bem perto. Ele tem ajudado muito o setor defensivo, mas a cobrança tem sido grande. Esses treinamentos até a exaustão tem que existir. Mesmo cansados, trabalhamos forte. O Celso sempre fala: quem treina forte, joga forte. Se não for assim, não vamos vencer", elogiou Saimon.
Nem mesmo o sol escapou da orientação no quartel de Roth. Ironizando um erro de Fábio Rochemback, que perdeu o domínio da bola atrapalhado pela luz do sol, o treinador virou-se para o céu e esbravejou o astro rei. "Sai! Sai daí sol! Sai!", falou na última quarta-feira.
Nesta quinta, Leandro foi o alvo. "Fica aí parado como um panaca", cobrou Celso ao ver que o jovem atacante não se esforçava para acertar os cruzamentos. "É um panaca mesmo", repetiu até que, talvez motivado pelas agressões verbais, o jovem colocou na cabeça de André Lima, que concluiu para a rede.
Mas não somente de cobranças vive o treinador. Como o bom militar, ele sabe que seu exército precisa receber elogios quando segue as ordens. Mais do que qualquer expressão negativa, o tradicional "Bem!", enaltecendo jogada correta, é repetido constantemente. Brincadeiras também fazem parte do repertório na hora de tentar quebrar o clima de bélico. Nesta quinta, por exemplo, quando Escudero - que é canhoto - conseguiu marcar um gol com a perna direita, o comandante incentivou todos os jogadores que participavam do treino a aplaudir o feito, rindo da falta de habilidade do argentino com a perna trocada.
Correta ou não, a metodologia de guerra adotada por Roth tem dado resultado. Desde que assumiu o time tricolor foram 9 jogos, com 5 vitórias, 3 derrotas e 1 empate, totalizando 59% de aproveitamento. A 12ª posição é a melhor já atingida no Brasileirão, a batalha contra a zona do rebaixamento foi vencida e o próximo capítulo da marcha será em busca da vaga na Libertadores.
O batalhão gremista está no Rio de Janeiro, onde sábado enfrenta o Vasco, pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro. Representante do sargento em campo, Fábio Rochemback volta após cumprir suspensão. A partida está marcada para as 18h (horário de Brasília), em São Januário.
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