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Qual a diferença entre El Niño e La Niña e como isso vai afetar o Brasil

Quando o El Niño está ativo a água do oceano na zona equatorial fica mais quente; fenômeno deve impactar região esse ano  - Cortesia de William Patzert
Quando o El Niño está ativo a água do oceano na zona equatorial fica mais quente; fenômeno deve impactar região esse ano Imagem: Cortesia de William Patzert

Do UOL, em São Paulo*

28/04/2023 15h57Atualizada em 28/04/2023 16h21

Cientistas indicam que o El Niño tem 90% de chances de ocorrer e pode causar fortes mudanças no Brasil ainda em 2023, aumentando as secas no Nordeste e intensificando as chuvas no Sul. O fenômeno define, na verdade, um comportamento específico do Oceano Pacífico, que afeta outras áreas.

O que são?

O El Niño consiste no aquecimento anormal da água do oceano, com a redução da velocidade dos ventos na superfície do Pacífico. Com isso, a área continental próxima ao mar — que corresponde à América do Sul "oposta" ao Brasil — se torna mais quente, gerando evaporação e formação de nuvens de chuva.

No Brasil, isso é sentido no Sul e em parte do Sudeste. Enquanto outras regiões encaram redução da chuva.

Esses mesmos ventos são os responsáveis por empurrar o calor da América do Sul com sentido à Ásia. Nos períodos de normalidade, o Oceano Pacífico é como uma banheira de água fria com um ventilador próximo das torneiras. Ao abrir a torneira de água quente por alguns poucos segundos e ligar o ventilador, a brisa jogará um jato de água quente para o fim da banheira.

Já o La Niña provoca o resfriamento do Pacífico Equatorial. Ao contrário do que acontece no El Niño, em que os ventos sobre o oceano se enfraquecem, nesse caso os ventos ficam mais fortes que o normal.

Os ventos alísios mais fortes que os normais criam o efeito oposto ao do El Ninõ. Os ventos de superfície, muito úmidos, viajam até áreas mais distantes do Oceano Pacífico. Por isso mesmo, no La Niña as regiões Norte e Nordeste do Brasil tem mais chuva e o Sul enfrenta estiagem.

As temperaturas aumentam 0,1°C durante os anos de El Niño. Nos anos de La Niña, elas caem no mesmo padrão. Isso porque menos água fria é puxada das profundezas do oceano próximo ao Peru durante o El Niño, deixando mais água quente na superfície.

O El Niño e a La Niña são fenômenos naturais e não podem ser previstos com exatidão — mas estudos indicam que efeitos ficaram mais fortes com o tempo. Os cientistas ainda não entendem completamente suas causas, mas sabem, pelos recifes de corais e pelos anéis das árvores, que eles sempre variaram. Eventos mais fortes do El Niño foram registrados nas últimas poucas décadas, mas não está claro se isso é apenas casual.

O IPCC descobriu que há "pouca confiança" de que o aquecimento global já tenha mudado os eventos do El Niño. Alguns modelos de computador mostram o fenômeno mais forte no futuro, enquanto outros o veem ficando mais fraco.

Mas também descobriu que os efeitos do El Niño e da La Niña provavelmente serão mais fortes à medida em que o planeta esquentar.

O que aconteceu

Um estudo publicado nesta quarta-feira (19) - que usa métodos estabelecidos, mas não foi revisado por pares - estima que o clima quente padrão do El Niño tem 90% de chances de retornar neste ano.

"Prevemos que será um evento de moderado a forte - acima de 1,5°C", afirmou o principal autor do estudo, Josef Ludescher, do Instituto de Pesquisa do Impacto Climático de Potsdam, na Alemanha.

Os recifes de corais, por exemplo, devem diminuir de 70 a 90% se o aquecimento global passar de 1,5°C. Ultrapassar esse limite, mesmo que por pouco tempo, poderia ter consequências permanentes. "Alguns corais podem não sobreviver a isso. E se eles estiverem mortos, eles não voltam", pontua Ludescher.

Por que El Niño e La Niña são importantes?

Muitas previsões meteorológicas sazonais dependem da previsão correta de fase - e de força - do El Niño e da La Niña. A informação pode ser muito útil para todos, desde planejadores urbanos a agricultores.

Isso não é apenas interesse teórico: é uma informação útil. Isso é sobre nós e nossa preparação, e como sobrevier num mundo em aquecimento. Erin Coughlan de Perez, autora do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pesquisadora do Centro Climático da Cruz Vermelha

*Com DW