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No Quênia, mulher transforma lixo plástico em blocos de construção

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Imagem: Divulgação

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

27/06/2021 06h00

Uma jovem queniana de 29 anos atraiu atenção global depois que seu projeto de reciclagem de resíduos de plástico se tornou viral. A inventora e empreendedora social Nzambi Matee desenvolveu uma máquina que transforma plástico descartado em pedras de pavimentação duráveis e acessíveis.

A invenção, usada por sua empresa, a Gjenge Makers, é capaz de produzir 1.500 blocos diariamente a partir de mais de meia tonelada de resíduos plásticos. Até agora, ela já transformou 20 toneladas de lixo.

Graças a esse feito, Nzambi foi uma das vencedoras do prêmio "Jovens Campeões da Terra", promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2020.

O trabalho da empresa dá a chance de transformar em algo útil as garrafas de plástico e outros recipientes que acabariam em aterros sanitários ou até nas ruas da cidade. "O plástico é um material mal utilizado e mal compreendido. O potencial é enorme, mas sua vida após a morte pode ser desastrosa", lamenta ela.

Mais fortes que concreto

Segundo o site da empresa, são produzidos três tipos de pavimentos: de alta resistência (com 60 mm de espessura), ideal para estradas e áreas de operação de maquinário pesado ou para áreas de estacionamento; de resistência moderada (40 mm), melhor para instalações comerciais; e de leve resistência (30 mm), para trilhas e complexos domésticos em áreas onde não há tráfego de máquinas pesadas.

Mas não se engane pelo adjetivo "leve". Segundo Nzambi, mesmo o tipo mais simples ainda é duas vezes mais forte do que blocos de concreto comuns.

Ela explicou que não foi fácil descobrir como transformar o lixo em tijolos de construção realmente resistentes. Quando finalmente deu certo, "aquele foi o melhor dia de todos", disse. "Levamos cerca de nove meses apenas para fazer um tijolo", completa. Na sequência, ela construiu uma máquina para produzir em massa os tijolos de plástico.

No Quênia, mulher transforma lixo plástico em blocos de construção - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A jovem tem formação em física e engenharia de materiais e é apaixonada por criar soluções sustentáveis. Em uma entrevista recente à emissora americana CBS, ela revelou que sua principal motivação para se aventurar no projeto era lidar com a poluição do meio ambiente.

Com sede na capital do Quênia, Nairóbi, a sua empresa obtém os materiais plásticos principalmente do aterro sanitário de Dandora, maior depósito de lixo da cidade. Estima-se que o espaço receba, diariamente, mais de 2.000 toneladas métricas de resíduos vindos dos 4,5 milhões de habitantes da capital. Ela também coleta materiais plásticos que flutuam nos rios de Nairóbi.

O nascimento da ideia

Nzambi já tinha uma empresa de coleta e seleção de resíduos plásticos antes da criação do bloco sustentável. A ideia do produto surgiu justamente de uma demanda que a sua equipe encontrou: o volume de lixo coletado para venda era maior do que as empresas de reciclagem podiam comprar e absorver.

Com isso veio o interesse de agregar valor a esse material. Foi assim que a Gjenge Makers nasceu: como uma empresa de fabricação de produtos de construção sustentáveis, alternativos e acessíveis.

Assim, Nzambi Matee não está combatendo apenas um, mas dois problemas. E dos grandes. Além de ajudar a combater a poluição, também está contribuindo para sanar o problema de habitação no Quênia.

"Quanto mais reciclamos o plástico, mais produzimos moradias populares e mais criamos empregos para os jovens", disse ela. Com materiais de construção mais baratos e mais leves de transportar, o valor da produção de imóveis para projetos sociais também é menor. Além disso, a empresa gerou mais de 100 empregos na região.