Topo

"TV tem obrigação de ser antirracista", diz atriz que viveu Angela Davis

A atriz Naruna Costa caracterizada como Angela Davis - Divulgação
A atriz Naruna Costa caracterizada como Angela Davis Imagem: Divulgação

Beatriz Sanz

De Ecoa, em São Paulo

21/11/2020 04h00

O especial "Falas Negras" exibido ontem (20) pela TV Globo contou a trajetória de 22 personagens históricos para a luta antirracista no Brasil e no mundo.

A atriz Naruna Costa interpretou a filósofa, professora e ativista norte-americana Angela Davis no programa, e acredita que projetos como esse precisam ser recorrentes na TV.

"Eu sinto que é uma obrigação dessas grandes emissoras produzirem materiais antirracistas, incluírem esses corpos negros tanto no conteúdo quanto nos bastidores", afirma.

Para ela, além da representatividade, esses programas têm um valor para a formação educacional e cultural da população brasileira.

Angela Davis e Elza Soaras na bagagem

A atriz Naruna Costa caracterizada como Angela Davis - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Naruna, 37, nascida e criada em Taboão da Serra, periferia da grande São Paulo, apaixonou-se pelas artes cênicas na adolescência. Formada pela EAD-USP (Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo), além de Davis, ela já teve a oportunidade de viver nos palcos outro grande ícone negro: a cantora Elza Soares.

"É um privilégio imenso eu como atriz negra, num país que é estruturalmente racista e tem espaços muito restritos para nossa presença, poder interpretar personagens tão significativos quanto Elza Soares e Angela Davis", resume.

Enquanto para viver Elza no musical, ela precisou fazer testes e audições, a oportunidade para interpretar Davis surgiu como um reconhecimento pelos 15 anos de carreira. O convite veio diretamente de Lázaro Ramos, diretor do projeto.

"Eu já tinha feito alguns trabalhos com o Lázaro, a gente se conhece não muito, mas já fez uns trabalhos juntos", disse. "Ele que pensou imediatamente na Angela Davis para mim, para que eu fizesse a Angela, e obviamente que eu aceitei".

Celebração e lamento

O especial foi ao ar um dia depois da morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro que foi espancado por dois homens brancos em uma loja do Carrefour, em Porto Alegre.

Naruna diz que isso simboliza como "a luta antirracista é feita da balança da celebração e do lamento".

Para a atriz, a discussão do racismo no país é uma questão de prioridade. "Quando a gente fala que o povo negro está sendo exterminado, está sofrendo genocídio, é verdade. Não é uma fala retórica, não é filosofia, é uma realidade concreta", resume.

Segundo ela, inclusive as celebrações das conquistas negras acontecem em função da dor, do apagamento.

Ainda assim, Naruna destaca que é preciso celebrar cada pequeno passo. "Poder celebrar a beleza dessa população e as qualidades das nossas produções é muito significativo, importante e urgente".