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Ações conectam feirantes e pequenos produtores a clientes no isolamento

Feirantes e pequenos produtores estão viabilizando meios seguros de entrega no período de isolamento - Arquivo Pessoal
Feirantes e pequenos produtores estão viabilizando meios seguros de entrega no período de isolamento Imagem: Arquivo Pessoal

Juliana Vaz

Colaboração para ECOA, em São Paulo

29/03/2020 04h00

Na última semana, uma cliente da feira livre que ocorre toda terça-feira no Itaim Bibi, em São Paulo, mapeou os comerciantes que realizam entregas. Perguntou se poderia compartilhar nas redes os seus contatos e fotos. Horas depois, artes digitais com imagens das bancas, tipos de alimentos vendidos e bairros atendidos — que vão de Pirituba a São Miguel, passando por Grajaú, Moema e Vila Mariana, entre outros —, bem como os telefones de cada feirante foram compartilhadas em dezenas de grupos WhatsApp.

Diante da necessidade de isolamento social, recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) na prevenção ao coronavírus, trabalhadores informais e pequenos empreendedores estão se organizando para sobreviver, bem como manter o atendimento à população preservando a saúde de todos.

O feirante Jubiratan Marchiori - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O feirante Jubiratan Marchiori
Imagem: Arquivo Pessoal
Um dos comerciantes que teve seu serviço divulgado pela cliente em São Paulo foi Jubiratan Marchiori, dono da Banca Marchiori. Feirante há mais de duas décadas, ele a família comercializam frango e miúdos bovinos nos bairros do Itaim Bibi e de Higienópolis, além fornecer produtos a outros estabelecimentos.

No dia em que Ecoa conversou com Jubiratan, ele estava de pé desde as 4h. Feirantes já estão a todo vapor de madrugada em dia de ir para a rua, é verdade, mas nesse caso era para dar conta do volume de pedidos que recebeu desde a tarde da terça-feira.

"Eu não sei nem quem foi a pessoa que tirou a foto. Queria agradecer! O que recebi de mensagem e ligação, olha, nem estou dando conta. Na quarta-feira, montei rapidinho um cardápio com os produtos e preços com a minha filha para responder mais rápido e fácil às mensagens. Eram umas 300, sem brincadeira. Chamei até meu sobrinho para me ajudar com as entregas", conta.

Inspirado por essa corrente, o publicitário Robson Melchior, de São Paulo, teve a ideia de criar um perfil no Instagram para reunir as imagens que recebeu dos feirantes — e também adicionar outras iniciativas de pequenos produtores e estabelecimentos.

"Busquei a pessoa que divulgou esses primeiros contatos para dar os créditos, mas nada. Mesmo assim, reuni eles na página e aos poucos as pessoas começaram a seguir o perfil, procurar e comentar sobre os seus respectivos comércios e serviços", diz ele.

Do campo para a mesa

Uma das características da cidade do Rio de Janeiro é que nem todos os alimentos da cesta básica são produzidos em seu estado, como o arroz, e em um cenário como o atual, facilmente a população sofreria com uma crise de abastecimento.

Com a determinação de isolamento, já faltam alguns itens e os preços têm subido diante do aumento da demanda. E as feiras livres que foram mantidas na capital operam com apenas metade das barracas.

Iniciativa da Cesta Camponesa se readaptou frente ao isolamento social - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Grupo que organiza a Cesta Camponesa se readaptou frente ao isolamento social
Imagem: Arquivo Pessoal

Diante de itens faltando na prateleira dos supermercados e da redução de feiras, as pessoas têm procurado alternativas. Uma delas é a Cesta Camponesa, uma ação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) do Rio, iniciativa autônoma de âmbito nacional que promove a conexão de famílias de pequenos agricultores com a sociedade.

Além de feiras, há alguns anos o MPA criou uma página com venda online de produtos orgânicos, selecionados de acordo com o que os camponeses têm disponível em cada período. Dois dias antes da entrega, a lista é encerrada para que a cadeia logística consiga se organizar. Na data determinada pelo núcleo de cada bairro que o serviço atende — nas regiões da Tijuca, centro e zona sul —, um ponto de encontro é marcado. Com a nova realidade, o serviço precisou ser adaptado.

"Por mês, recebemos em média 300 pedidos. Do último domingo até hoje (quinta-feira), no entanto, já foram 200, e de sexta até sábado devemos vender mais cerca de 180", compara Beto Palmares, da direção estadual do MPA no Rio de Janeiro.

Para evitar aglomerações, as feiras realizadas pelo movimento foram suspensas e o grupo criou uma parceria com a associação de taxistas do bairro de Santa Teresa, a fim de realizar entregas. "São 70 taxistas que teriam impacto financeiro sem passageiros para transportar. Conseguimos estabelecer essa parceria e eles estão levando as cestas aos clientes, nos bairros já atendidos por nós", diz Beto.

As vendas aumentaram cerca de 30%. "Temos duas pessoas dedicadas a isso nos últimos dez dias e não tem sido suficiente. Abrimos a lista essa semana e em 24 horas todos os produtos esgotaram. Em paralelo, começamos a receber pedidos por WhatsApp", conta.

Para atender a demanda do momento, o movimento composto por quase 150 famílias de agricultores associados conseguiu articular outros 50 produtores para que participassem do abastecimento. "A previsão é de comercializar mil cestas neste mês. Imagina, nossa média era de 200", relata.