Cuidar da casa

Negócios sustentáveis, luta por meio ambiente e povos tradicionais levaram indicados à final do 1º Prêmio Ecoa

Paula Rodrigues De Ecoa, em São Paulo (SP)

O adolescente Rhenan Cauê Barbosa mobilizou cerca de 500 pessoas para revitalizar o córrego Brejinho, que passa pela cidade onde mora, Araguatins, no Tocantins; para Bruno Stefanis, fundador do Instituto Biota de Conservação, em Maceió, cuidar das tartarugas ajuda a sensibilizar a população da costa alagoana sobre a importância de cuidar do meio ambiente; o reaproveitamento de redes de pesca virou negócio dos oceanógrafos Beatriz Mattiuzzo e Lucas Gonçalves, donos da Marulho.

Em comum, todos os quatro cuidam de ruas, cidades, florestas, animais e águas como se fossem suas próprias casas. Uma labuta que se repete dia após dia. Essa relação cotidiana com o meio ambiente e seus desdobramentos com diversas áreas de nossas vidas trouxe esses empreendedores sociais e negócios de impacto às finais do Prêmio Ecoa 2021, que vai revelar os vencedores em 02 de dezembro.

Concorrendo em diferentes categorias de nossa premiação — Causadores, Iniciativas que Inspiram e Empresas que Mudam —, eles também fazem parte de uma maioria de 77% de brasileiros que consideram importante a proteção do meio ambiente, de acordo com a pesquisa "Mudanças Climáticas: a Percepção dos Brasileiros", do Ibope. Se você pertence a esse grupo, certamente vai se inspirar por suas histórias, contadas a seguir.

Rhenan, Bruno, Beatriz e Lucas transformaram preocupação em ação.

O Prêmio Ecoa

O conteúdo de Ecoa, do UOL, destaca o trabalho de pessoas, empresas, organizações, coletivos, movimentos, redes e projetos que agem para transformar o mundo e a sociedade positivamente.

Para potencializar vozes, impulsionar e dar visibilidade às iniciativas, o Prêmio Ecoa surge homenageando transformadoras e transformadores sociais que estão criando soluções para superar desafios e resolver problemas no campo social, econômico e ambiental, promovendo equidade de raça, de classe e de gênero na sociedade.

A lista de indicados é montada a partir de histórias contadas em reportagens publicadas por aqui e é dividida em cinco categorias: Iniciativas que Inspiram, Empresas que Mudam, Causadores, Fizeram História e Vozes que Ecoam — as duas últimas decididas por voto popular.

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Mar e comunidade

Pensando nisso e por uma carência de pesquisas relacionadas à fauna marinha, há doze anos o Instituto Biota de Conservação nasceu em Maceió. A organização social hoje, além de coletar dados para produção de estudos científicos, tem como propósito cuidar e devolver ao mar as espécies resgatadas.

Um dos casos mais emblemáticos de salvamento realizado por voluntários e voluntárias foi o de uma tartaruga coberta do óleo que escorreu por toda costa que vai do Maranhão até o litoral norte do Rio de Janeiro há dois anos.

O bicho é um dos focos de pesquisa e cuidados da organização, inclusive muitas vezes usado como forma de sensibilizar a população. Bruno Stefanis, fundador e diretor do Biota, explica que existe uma dificuldade das pessoas entenderem que são também impactadas pela degradação do meio ambiente e consequências das mudanças no clima. Então, utilizam as tartarugas como uma "justificativa" para sensibilizar a população da costa alagoana sobre a importância de cuidar do meio ambiente.

"Quando estudamos a biologia das tartarugas, vemos a importância delas no ecossistema como um todo. Elas são base de cadeia alimentar da maioria dos peixes que nós comemos, por exemplo. E as consideramos como animais 'guarda-chuva', ou seja, quando protegemos uma tartaruga, estamos protegendo todo o ambiente tanto marinho quanto o que a gente vive", diz Bruno.

Junto com o trabalho de conservação marítima realizado pela iniciativa, que é uma das finalistas do 1º Prêmio Ecoa, o Biota promove atividades relacionadas à educação ambiental na região. São palestras e oficinas com a população, além de um grande envolvimento com a formação de políticas públicas. A ideia é tentar envolver cada vez mais gente nessa luta -- o que parece apresentar resultados já que, segundo dados do próprio instituto, no terceiro trimestre de 2021, a maior parte (64%) das demandas por resgate de animais veio da população.

O fazer local

A quilômetros e mais quilômetros da costa alagoana, outra iniciativa começou a chamar atenção por motivos similares no Tocantins. A dedicação de um menino para salvar o meio ambiente se espalhou pelo município de Araguatins. Rhenan Cauê Barbosa, um dos finalistas da categoria Causadores do prêmio Ecoa, mobilizou cerca de 500 pessoas em 2018 para conseguir revitalizar o córrego Brejinho, que passa pela cidade.

Com as limpezas e ações para reflorestar as margens, os resultados já apareceram. "Durante o inverno, os moradores gravaram vídeos mostrando o córrego com muita água no leito e me mandaram. A revitalização do córrego Brejinho fez as pessoas acreditarem que nós somos capazes de fazer a diferença. E reconectou também as pessoas daqui com o meio ambiente, fazendo elas perceberem que também fazem parte disso tudo. Até porque cuidar do meio ambiente é cuidar do nosso corpo. Ter uma vida saudável e bem-estar", conta.

Hoje, aos 14 anos, Rhenan já ganhou reconhecimento e o mundo com essa iniciativa. Foi até para a Armênia contar sobre a experiência de ter aprendido sozinho o que era preciso fazer para recuperar um corpo d'água como o Brejinho. Para ele, até hoje, o primeiro passo para ajudar a cuidar do planeta é olhar ao redor, prestar atenção no seu bairro, na sua comunidade, para pode identificar quais pequenas ações na região podem contribuir com o meio ambiente como um todo.

"As ações locais sempre ativam o protagonismo juvenil também, que é o poder de mudança de todos os jovens que se sentem incomodados com algum problema da sociedade, aí eles chamam os amigos, os pais, chamam os irmãos, os professores para resolver essa problemática porque ninguém faz nada sozinho", diz o garoto.

Envolver a comunidade

Da mesma forma que agem Biota e Rhenan, a Marulho, empresa criada por dois oceanógrafos em Ilha Grande (RJ), tem como prioridade o envolvimento de pessoas para a criação de soluções sustentáveis. Durante a pandemia, Beatriz Mattiuzzo e Lucas Gonçalves se mudaram de vez de São Paulo para a comunidade de Matariz. De cara, sentiram incômodo ao perceber a quantidade de redes de pesca que era descartada, já que a maior atividade da Ilha é a pesca.

O problema é que muitas vezes o destino final desse material é justamente o mar, onde acaba prejudicando a vida marinha. Mas como solucionar essa questão se as pessoas da região precisam continuar com a atividade para sobreviver?

Não é fácil, mas respeitando o estilo de vida e conversando com os moradores da região, os oceanógrafos começaram a traçar um caminho de mudança. "O que a gente tenta fazer para juntar o nosso conhecimento técnico de oceanógrafos com o conhecimento tradicional local e nunca se sobrepor a ele. E quem é a gente pra falar o que é certo e o que é errado, né?", diz Beatriz.

Ela conta que muitos desses saberes já foram perdidos ao longo do tempo nas regiões litorâneas por causa da disputa, principalmente imobiliária, desses locais. Povos indígenas, por exemplo, foram exterminados do litoral, mas seus descendentes continuam por lá, formando populações caiçaras e sendo memória viva de histórias e culturas.

Os principais -- e primeiros -- envolvidos nessa foram justamente os redeiros, profissionais que costuram as redes de pesca. Foi um deles, o seu Filinho, 85, que desenvolveu o principal produto vendido pela Marulho hoje: a Redeco, uma bolsa feita de restos de redes descartadas após uso dos pescadores, que serve para carregar alimentos, pertences pessoais, e o que mais a imaginação e necessidade precisar.

"Continuamos achando que a iniciativa não faz sentido se não envolver as pessoas locais. E ainda mais quando a gente fala de pesca fantasma, já que os pescadores são bastante impactados por esse problema porque isso acaba com o pescado que eles mesmo poderiam estar vendendo e consumindo", finaliza Beatriz.

Você também pode participar!

Duas categorias do Prêmio Ecoa serão definidas totalmente por voto popular. Você pode escolher a personalidade que está usando sua voz para incentivar o público na busca por um mundo melhor na categoria Vozes que Ecoam e também quem será homenageada por ter dedicado sua vida a transformar o país e continua a inspirar mesmo após sua morte na categoria Fizeram História.

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