No Hospital da Mulher...

No hospital da Mulher
- Que este nome já incomoda
Pois não são só elas que gestam
Que possuem vagina e útero
Que homens também (não os cis)
Mereciam devido respaldo.
Neste Hospital genital
Que mesmo na binaridade
Deveria acolher a mulher
Cis na sua maternidade
Falha na própria proposta
Assim com a regra de gênero

Ainda que tente guardar
Zelar pelo bem da estrutura
Resguardar a vida futura, que nasce
- E a da mãe -
Vem sempre o macho falido
De falo folgado esculpido
Cuspir na delicadeza
E foder com a vida de alguém

No Hospital da Mulher
Que o Homem se vê no direito
Que tão rodeado de fêmeas
Sentiu que não teria efeito
Foder com as vidas alheias
Dopar cada mãe que paria
Dopar cada filha que iria
Mais uma pro mundo trazer

Dopava, o filho da outra,
Que provavelmente sofreu
Pra no mundo pôr essa desgraça
E ele, que hoje fracassa
No projeto de estupração
Já fez tantas vítimas antes
Que nem saberiam de tudo
Se agora não fossem as outras
Duvidosas do excesso sedante
Registrarem a caralhação

O que fazia ali
No Hospital da Mulher
Um homem cis violento
Em papel tão importante?
Que tal não só o punido
Sair de cena, do ramo
Mas também o nome do espaço?
Que tal aproveitar o fato
E verticalizar a proposta
Quem gesta, ali é bem-vindo
Sendo homem trans, amapô
Os ocós ali não trabalham
Nunca mais serão contratados
As travas auxiliam o processo
- estas mulheres que não gestam,
mas acompanham também esta dor
pois sabem dos males dos homens
que penetram os corpos sem dó -
E eles, sem este espaço
Se mandam direto pra onde
Não têm como nos alcançar

O Hospital da Mulher
Onde tantas sofreram de novo
Por algo já tão repetido
Um mal já tão conhecido
Deveria servir de abrigo
De lição, mesmo que o ocorrido
Já não tenha como apagar
Para que não mais se repita
Para que hoje, enfim, se decida
Ensinar sobre isso na escola
Evitar nas casas, famílias
Nas ruas, em todo lugar
Os maus tratos dos maridos
Dos pais, tios, anestesistas
Dentistas, médicos, primos
Qualquer homem que seja
Pois sabemos que a dor mora perto
Então eles que fiquem espertos
Ao menos uma vez na vida
E nós outras possamos gozar

Gozar de sentirmo-nos livres
Gozar sem o medo da morte
Gozar, pois sempre são eles
Que gozam e dormem depois
Que gozam e vão embora
Que fodem com nossas histórias
Que estupram nossos caminhos
Violentam nossos desejos
Interrompem os nossos avanços

Atrapalham nossa leveza
Estraçalham nossa grandeza
Pelo simples prazer de gozar
Sabendo que seu gozo é crime
Sabendo que é violência
Sabendo que não deveria
Mas não deixam de atacar

Quem sabe num Hospital de Homens
- Cisgêneros, só para eles -
Se cure a doença do mundo
Ou ao menos separe o problema
E eles se violentem
Se sedem e gastem seus vícios
Sem resvalar no caminho
Das que nada tem a ver com isso
Sem tocar nas nossas bocas
Quem tem tanto mais pra dizer
E que deveriam estar vivas
Nem um pouco anestesiadas
Seja para gritar o parto
O gozo
A festa
E não mais para denunciar
Ou chorar por efeito dos machos

Quem sabe se a anestesia
Fosse neles, e geral
Deixando-os imóveis e frágeis
As filhas nasceriam tranquilas
Construiriam suas famílias
Sem medo de serem invadidas
Por aqueles que se valeram
Da imagem de provedores
Pra prover apenas as dores
E não precisarem cuidar

No Hospital da Mulher
- Que muito há de mudar -
Nasceu não só uma criança
Mas a chance de darmos um passo
De estabelecermos um trato
Desta violência cessar
Já é sabido que isso
Não muda tão fácil, tão ágil
Mas mesmo que seja difícil
Abramos os olhos pro vício
Dos machos que nos rodeiam
E ainda mais vigilantes

E muito mais corajosas
Cuidemos umas das outras
Não duvidemos das nossas
E assim como eles têm pacto
Façamos o nosso mais forte
Pra que nem a dor, nem a morte
Torne a nos atormentar
E tudo que eles criaram
- inclusive a destruição -
Permaneça apenas com eles
E num hospital de crimes
Venha a responsabilização.