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Anielle Franco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Esperança para seguir e coragem para não deixarmos de lutar

Fernando Frazão/ Agência Brasil
Imagem: Fernando Frazão/ Agência Brasil

17/01/2022 12h04

Escrevo esse artigo em mais um dia 14 e com certa dificuldade. 3 anos e 10 meses sem respostas, e todo esse tempo sem minha amiga, irmã e conselheira. Já falei algumas vezes por aqui como desde 14 de março de 2018 minha vida mudou completamente. Precisei assumir responsabilidades e tomar decisões difíceis e complexas, que jamais poderia planejar.

Tudo que vivi e aprendi desde que Mari se foi me fortaleceu para que eu pudesse seguir em frente, mas confesso que às vezes ainda tenho dúvidas do melhor a fazer. Há alguns dias, em meio a essas dúvidas, peguei meu celular e escolhi seu nome. Já ia ligar, mas então me dei conta de que o apoio que eu buscava não viria.

Marielle dizia "A vida é dura, bebê!", mas eu nunca ia imaginar que podia ser tão dura assim. Assumi para mim o compromisso de seguir carregando o legado de minha irmã, e o que eu achava ser impossível, admirá-la ainda mais, virou realidade quando passei a entender mais e assumir o grandioso trabalho que ela tinha como defensora de direitos humanos. Lutar pelos direitos de grupos minorizados, oferecer apoio a quem mais precisa e combater injustiças, tudo isso hoje é o que me move, mas às vezes ficamos sem chão.

Na última semana vivi alguns dias assim, depois de acompanhar as inúmeras violações que aconteceram com pessoas que, assim como eu hoje, e como Mari até seu último minuto de vida, dedicaram suas vidas lutando por justiça e dignidade para suas comunidades. Minha querida amiga e companheira de caminhada, Bianca Santana, resumiu a urgência de olharmos para o que está acontecendo em seu artigo "Defender quem nos protege" na Folha de São Paulo, onde denunciou o assassinato de Zé do Lago, Márcia e Joene em São Félix do Xingu (PA) e de José Francisco Lopes, da comunidade do Cedro, em Arari (MA). Mortes cruéis, que são o reflexo da situação de risco e ameaça constante que defensores de direitos humanos vivem hoje no Brasil.

Que neste ano que está apenas começando, consigamos ter coragem para atender o chamado de defender a vida daqueles que nos protegem mesmo sem sabermos, disposição para buscar por justiça e honrar aqueles que se foram, e coragem para lutar por uma vida digna e segura para os que seguem na luta pelos nossos direitos.