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Ghosn diz que esperava apoio de Bolsonaro e ressalta que 'ama o Japão'

Ghosn disse que vai provar sua inocência em breve - Joseph Eid/AFP
Ghosn disse que vai provar sua inocência em breve
Imagem: Joseph Eid/AFP

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/01/2020 11h50

Resumo da notícia

  • Executivo criticou falta de apoio do governo brasileiro
  • Ghosn diz ter carinho pelo povo japonês, que o teria apoiado nas ruas
  • Ex-CEO da Renault e Nissan disse que vai 'limpar sua imagem' em breve

Carlos Ghosn disse que esperava mais apoio por parte do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. O ex-CEO de Renault e Nissan fugiu ilegalmente do país e atualmente se encontra no Líbano, onde concedeu uma entrevista coletiva hoje (8).

"O cônsul do Brasil no Japão (João de Mendonça Lima Neto) foi muito querido comigo e cuidou de mim em um período muito complicado. Agora, o presidente Bolsonaro foi perguntado se estava pronto para lidar com as autoridades japonesas e, se me lembro, ele disse que não pretendia atrapalhar as autoridades japonesas. Claro que não gosto desse tipo de declaração, mas respeito. Só que estava esperando um pouco mais de ajuda do governo brasileiro, algo que infelizmente não aconteceu".

O executivo também disse que foi muito bem recebido pelos japoneses mesmo após ser acusado de má conduta financeira.

"Durante o período em que estive preso (Ghosn podia circular livremente, desde que não deixasse o país) andei pelas ruas de Tóquio e fui a cinemas e restaurantes sem guarda-costas. E em todos os lugares ouvi pessoas me dizendo 'sentimos muito pelo que aconteceu com você e espero que você continue amando o Japão'. Nunca fomos incomodados em lugar algum e fomos muito bem recebidos o tempo todo", assegurou.

Ghosn também afirmou que pretende respeitar as autoridades de Japão e Líbano "para não criar ainda mais problemas" e disse por que resolveu ir até Beirute.

"Preciso respeitar as autoridades dos dois países para não criar mais problemas do que já podem acontecer. Perguntei várias vezes aos meus advogados se eu realmente teria um julgamento justo e eles ficaram muito desconfortáveis. Me disseram que fariam de tudo para tentar isso. Só que o tempo estimado de julgamento seria de cinco anos, e neste período todo não poderia ver minha esposa. Quando me disseram que não poderia ver minha esposa por tempo indeterminado e que não havia esperança de ter uma vida normal, conclui que eu não tinha mais o que fazer no Japão e precisava sair de lá".

O executivo admitiu que quebrou as leis japonesas, mas disparou contra o sistema judiciário local.

"Eu era e ainda acho que sou respeitado pela maioria do povo japonês, embora a imprensa não tenha lembrado das coisas boas que fiz. Mas como posso me defender das acusações se não recebo um julgamento justo? Claro que fugir do Japão é um problema por eu ter quebrado a lei do país, mas os promotores quebraram 10 leis no meu julgamento e não se importa com isso. Eu acho que o Japão não merece isso. Passei 17 anos lá e não me arrependo disso, pois os japoneses sempre foram bons comigo. Mas por que preciso ser tratado como um terrorista? O que fiz para merecer isso?".

Convite da GM

Ghosn diz que nunca cogitou sair do país e revelou ter recebido um convite para assumir o comando da General Motors em 2009.

"Minhas crianças foram educadas no Japão e me recusei a abandonar a Nissan porque eu amo a companhia. Sei que as pessoas japonesas não são assim (em relação ao tratamento que recebeu da justiça japonesa). Em 2009, quando GM e Chrysler estavam em baixa, Steve Girsky (que exerceu o papel de conselheiro da alta cúpula da General Motors e foi um dos responsáveis por 'salvar' a empresa da falência) me convidou para ser o CEO da General Motors e ofereceu o dobro do salário que ganhava na Nissan. Eu agradeci a oferta, mas disse a ele que o capitão do navio não lidera o navio só quando ele está afundando. A maioria dos executivos iria sem pensar"

Questionado sobre o que pretende agora que está fora do Japão, Ghosn assegurou que vai restaurar sua reputação em breve.

"Estou acostumado ao que vocês chamam de 'missões impossíveis'. Muita gente me disse que seria impossível salvar a Nissan em 1999, e todos sabem o que aconteceu. Eu vou limpar meu nome e achar uma maneira de mostrar que a verdade venha a tona. Estou orgulhoso de estar aqui por estar cercado de gente que me respeita e preciso delas. Mas não vou só ficar aqui sem fazer nada. Pode esperar que eu tomarei iniciativas nas próximas semanas para limpar meu nome e mostrar evidências para que tudo que fiz seja restaurado".