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Venda de usados segue ritmo próprio, mas é vital para mercado de carros

<b>Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z</b> - Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z
<b>Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z</b> Imagem: Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z

Da Auto Press

07/05/2010 20h36

Em comparação com o frenesi que tomou o mercado de automóveis no Brasil, o comércio de veículos usados parece viver uma realidade à parte. Enquanto os zero-quilômetro vendem ou encalham de acordo com o apelo de impostos, taxas de juros e promoções, o de usados segue um ritmo apontado pelo mercado como um todo: cresce ou mingua junto com a comercialização de novos, mas de forma bem amortecida. Atualmente, cresce 2% a 3% ao ano, no máximo. Só que se trata de um setor fundamental, que representa quase 800 mil unidades/mês. “O mercado de usados não se aquece nem se desaquece, não tem grande mobilidade, mas para o concessionário é muito importante”, ressalta Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição dos Veículos Automotores).

Ou seja, são os usados que fazem o capital girar para o revendedor. Para isso, contudo, ele não pode ficar parado. Carro usado na loja é dinheiro empatado. Por esta razão, é usual as agências de automóveis e revendedores depreciarem entre 20% e 30% o valor do carro que está sendo dado na troca por um novo, como forma de garantir a margem de lucro. No início do ano, ainda com o desconto do IPI para os modelos zero-quilômetro, os veículos usados chegaram a ter uma desvalorização entre 20% e 40%. “Para trabalhar volumes grandes é preciso ter um capital de giro cada vez maior”, acredita Luiz Carlos Mello, consultor do CEA (Centro de Estudos Automotivos).

PECADO CAPITAL
Muitas revendas oficiais optam por “terceirizar” os usados. Ou seja, como a concessionária precisa faturar o carro zero-quilômetro junto à montadora assim que o veículo chega, o modelo seminovo que serviu de entrada é logo repassado para uma agência de automóveis especializada em usados com margem de lucro mínima. Uma forma de com rapidez o valor que deve ser pago ao fabricante. “Um usado que demora para ser vendido representa dinheiro perdido. Quanto o valor do veículo, se fosse aplicado, renderia?”, calcula Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.

Mesmo assim, o que se busca também são margens de lucros. Aliás, vários especialistas divergem sobre essas questões. Para muitos, os revendedores oficiais costumam ter margens maiores com os usados do que as praticadas na comercialização dos carros zero-quilômetro. “As revendas ganham em todos negócios, mas o principal é o carro zero. Houve época que ganharam dinheiro com o usado, mas o carro zero é o principal ainda”, defende Dario Gaspar, da AT Kearney. “O carro usado gira, pelo menos, uma vez por mês. O veículo usado faz parte da rentabilidade do concessionário. A margem de lucro é maior que com o novo”, reconhece Reze, da Fenabrave.

Nesta lógica própria, o setor de usados caminha. E apesar da independência, os números mostram que o mercado de usados também segue o compasso do mercado de novos. Na primeira quinzena de abril, automóveis e comerciais leves usados, segundo a Fenabrave, somaram 355 mil. O número é 13% superior ao registrado em março, último mês de desconto do IPI para os veículos zero, e 26% maior na comparação com a primeira quinzena de abril do ano passado. E o automóvel de passeio usado mais vendido do país também é o Volkswagen Gol -- foram 87.981 unidades comercializadas em março, seguido de Fiat Mille, Fiat Palio e Chevrolet Corsa.

O crescimento no comércio de usados tem sido movimentado pelo mesmo fator que acelera o setor de novos: o crédito. A oferta de financiamento sempre foi abundante para o comprador de veículos novos. E esta facilidade foi até estendida aos chamados seminovos -- carros com menos de dois anos de uso -- exatamente para movimentar a venda de novos. É claro que o crédito oferecido aos usados em geral não tem as condições que as oferecidas aos modelos zero-quilômetro ou aos seminovos, mas já é possível comprar um usado em até 60 prestações. As taxas, porém, são bem maiores e flutuam entre 2% e 4% ao mês contra os juros de 1% ao mês aplicado para veículo. Além disso, naturalmente o veículo zero-quilômetro tem de oferecer um custo/benefício mais atraente. “O mercado de usados está sempre encontrando um novo patamar, pois todos têm de se ajustar às novas realidades de mercado e a realidade atual é que o veículo usado tem de ter um diferencial de preço em comparação com o zero. Caso contrário, não vende”, explica Garbossa, da ADK.

A ampliação do mercado de usados é reflexo direto da nova pirâmide econômica brasileira. As classes D e E estão migrando para a classe C, mas a classe C também aspira consumir como a classe B. Quem não comprava nada, adquire um usado. Já o comprador de usado, parte para um veículo seminovo. E quem comprava um seminovo alcança, finalmente, um zero-quilômetro. “Houve um aumento do poder aquisitivo. Quem não tinha carro, passou a ter. O carro usado não deixou de ser vendido, o tipo de classe que compra esse carro é que mudou”, compara Gaspar, da AT Kearney. (por Fernando Miragaya)