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Fernando Calmon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Popular' por R$ 126 mil: há 30 anos, carro era ainda mais caro do que hoje

Mille inaugurava categoria de "carros populares" no início da década de 1990; corrigidos, preços da época seriam fortuna hoje - Divulgação
Mille inaugurava categoria de 'carros populares' no início da década de 1990; corrigidos, preços da época seriam fortuna hoje Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

23/03/2022 11h08Atualizada em 23/03/2022 14h31

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As reclamações sobre encarecimento dos veículos são generalizadas e refletem a dura realidade.

Porém em fevereiro houve um pequeno alívio no ritmo dos aumentos. Segundo a filial brasileira da consultoria KBB (Kelly Blue Book), os preços no mês passado subiram 0,25% em média em relação a janeiro deste ano. Quando se compara janeiro de 2022 com dezembro de 2021, os reajustes tinham sido de 1,39%. A redução da alíquota do IPI, anunciada pelo governo federal no final de fevereiro, talvez se reflita moderadamente agora em março.

Estabelecer quanto os carros encareceram ao longo de décadas é tarefa difícil porque a inflação causa fortes distorções. A começar pelo próprio termômetro, ou seja, o índice mais apropriado para fazer as comparações. Vou tomar como exemplo o "carro popular", programa lançado em fevereiro de 1993. Na época, quando se criava o Plano Real, o IPI foi reduzido para simbólico 0,1% e tabelado no equivalente a 7.500 URV ou R$ 7.500 (US$ 7.300 no câmbio da época). Deveria ser mantido, em teoria, até 1996. Mas já em fevereiro de 1995 o IPI passou para 7% e o "popular" saltou para R$ 12 mil.

Seis produtos se enquadraram no início: Uno Mille, Gol, Chevette Júnior, Escort Hobby, Fusca e Kombi. O critério era motor de 1 litro de cilindrada, embora Fusca e Kombi tivessem motor de 1,6 litro.
Atualizado pelo dólar, o "popular" custaria hoje US$ 14.300 (R$ 70.600). Corrigido desde fevereiro de 1995 pelo IPCA, um dos índices de inflação ao consumidor calculado pelo IBGE, deveria estar em R$ 72 mil. Se a correção for pelo IGPM, que reflete os aumentos de custos das empresas em geral, atingiria R$ 126 mil.

Para comprar os veículos mais baratos em 1995 eram necessários 120 salários mínimos.

Agora o que vale é o conceito do automóvel de entrada no mercado, o mais barato possível de adquirir. Estes giram hoje em torno de R$ 60 mil, casos do Kwid e do Mobi. Deve-se frisar, porém, que um carro de entrada atual oferece muito mais em relação há quase 30 anos. Ar-condicionado e direção assistida, por exemplo, passavam bem longe de um "popular". Também nem dá para comparar os recursos de segurança passiva e ativa. No Kwid, controle eletrônico de estabilidade, quatro airbags e assistente de partida em rampa são itens de série.

Houve, ainda, uma evolução substancial em termos de poder aquisitivo. Os modelos mais baratos de hoje podem ser adquiridos na faixa de 50 salários mínimos.

Em 2021 os preços carros novos subiram muito acima da inflação em comparação a 2020. Na média os aumentos ficaram em torno de 20%, dependendo da marca e modelo. Isso ocorreu por desequilíbrio causado pela falta de componentes (basicamente semicondutores) e efeitos da pandemia de covid-19. Há uma perspectiva de melhora no fluxo no próximo semestre, mas alguns executivos falam agora em normalização só em 2023.

Veículos com até três anos de uso, segundo a KBB, subiram 2,86% em fevereiro sobre janeiro. Nos últimos 12 meses, o crescimento dos preços no mercado de usados como um todo ficou próximo ao observado para os veículos novos, ou seja, também em torno de 20%. Significa que, em termos de troca, algum equilíbrio foi alcançado.

Alta roda

+ Planos da Stellantis para o Brasil até 2030 incluem 20% de modelos híbridos e elétricos, somando as marcas do grupo (Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Ram), entre nacionais e importados. Além do italiano Jeep Compass 4xe, que chega em abril, a empresa desenvolve o primeiro flex híbrido em Betim (MG), mas não informou qual produto. Tudo indica que será uma das versões do novo SUV cupê previsto para o segundo semestre deste ano. Hoje, apenas Toyota Corolla e Corolla Cross são flex híbridos.

+ Fábrica da Tesla foi inaugurada em Berlim, Alemanha. Investimento alto de US$ 5,5 bilhões (R$ 27 bilhões) para uma capacidade de 500.000 unidades/ano do SUV cupê Model Y de porte grande. Esta produção só será alcançada em dois anos. Inclui uma fábrica de baterias com capacidade anual de 50 GWh. Por exigências ambientais o projeto atrasou cerca de oito meses. Há rumores de que um segundo produto, menos caro, estaria nos planos.

+ Jeep Renegade recebeu atualizações estéticas já esperadas após sete anos de mercado. Mudanças concentradas na frente, pois o motor 1,3-L turbo de 185 cv (E)/180 cv (G) exige maior captação de ar. Formato semicircular do DRL em LED e lanternas traseiras destacam-se. No interior há um novo volante. Carregar o celular por indução ficou mais fácil com um suporte para fixá-lo e fluxo do ar-condicionado. Desempenho ficou incomparavelmente melhor que o antigo motor de 1,75 litro.

+ Aston Marton aumenta a presença no Brasil com inauguração da concessionária em São Paulo, do grupo UK Motors. Na mesma semana, a marca inglesa apresentou o V-12 Vantage, série especial de 333 exemplares, com preço na origem a partir de US$ 350.000 (R$ 1,8 milhão). Pelo menos um destes, de 700 cv, será destinado ao Brasil. Outro modelo especial, Valhalla, cupê híbrido plugável, limitado a 999 exemplares a partir de 2023, tem cinco encomendas para clientes aqui.