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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Só tem vontade de ficar na cama? Entenda os perigos do 'bed rotting'

Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

15/04/2024 04h00

O TikTok tem possibilitado —e alertado sobre— tendências que vêm impactando profundamente o estilo de vida e a saúde de milhões de usuários, principalmente da geração Z —os nascidos entre 1995 e 2010. Recentemente, uma hashtag que tem dado o que falar é a tal de #bedrotting, que pode ser traduzido do inglês como "apodrecendo na cama".

Essa expressão se refere a ficar deitado por longos períodos, quiçá o dia inteiro, sem fazer nada, só mexendo no celular, por opção. Sua origem remonta a uma forma de protesto, ou resistência juvenil, contra a dureza da vida moderna, e com a internet rodou o mundo, tornando-se sinônimo de autocuidado no TikTok.

"Mas é uma distorção, não tem a ver com autocuidado, mas com procrastinação", analisa Henrique Bottura, psiquiatra e diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista (SP). Para o médico, procrastinar é definido como o espaço de tempo entre a autoconsciência de que se tem afazeres e o não agir para solucioná-los.

Fuga para debaixo do cobertor

Quando se estuda ou trabalha demais, permitir-se ter momentos livres vez ou outra é positivo e pode ser interpretado como um ato de autocuidado, pois melhora tanto a saúde física como mental, incluindo a qualidade do sono. Tem a ver com descansar, fazer o que gosta, divertir-se, aumentar o convívio social.

Agora, "apodrecer" na cama é um mau sinal. "é um ato de autossabotagem que nos faz adiar tarefas, encontros, decisões, deixar atividades para última hora, o que resulta em ansiedade, estresse, culpa, perda da produtividade", explica Larissa Fonseca, terapeuta clínica e membro da SBP (Sociedade Brasileira de Psicologia).

Segundo a psicóloga, o "bed rotting", quando adotado como hábito, pode levar a um ciclo vicioso de evasão que impede o enfrentamento e a resolução de desafios. Como consequência, sem saber lidar com responsabilidades, problemas e obrigações, sentimentos conflitantes tendem a se acumular e ficar mais intimidadores.

Celular piora a falta de vontade

Por trás da falta de disposição para levantar da cama e encarar a vida pode haver uma exaustão emocional (sobrecarregados, tendemos a adiar compromissos), ou ainda dificuldade para se organizar e ter foco, medo de falhar, baixa autoestima. Sinais de adoecimento psicoemocional e que podem agravar com uso do celular.

"Passar horas e horas na cama com a tecnologia digital pode gerar dependência. Esta, por sua vez, pode causar perda de interesse pelo mundo real e, em casos graves, transtornos e quadros psicóticos, fora má postura e dores", informa Bruno Pascale Cammarota, psiquiatra e mestre em saúde pública pela Unesa (Universidade Estácio de Sá).

Smartphones ainda são prejudiciais sobretudo se manipulados antes de dormir, pois a luz azul de suas telas reduz a produção de melatonina, o hormônio do sono. Mas mesmo durante o dia, se usado continuamente na cama, o celular pode hiperativar e condicionar o cérebro a conteúdos incessantes e recompensas não funcionais, e fazer você não associar mais sua cama exclusivamente à sensação de descanso.

Como sair da cama e garantir bem-estar

Se a procrastinação advém do desejo de escapar de pressões que podem ser tanto externas como internas, o primeiro passo é reconhecer a presença de problemas e buscar solução para eles. Fazer isso por conta própria pode ser tentador, mas tenha cautela, pois pode gerar desistência se não houver preparação.

"É necessário identificar se o quadro é decorrente de transtorno ou não. Se for, seria importante uma abordagem psicoterápica e medicamentos. Do contrário, identificar qual a motivação e enfrentá-la com suporte profissional", orienta José Brasileiro, psiquiatra e professor do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa).

É igualmente importante equilibrar o tempo livre com atividades físicas, exposição à luz natural, passatempos e interações sociais para preservar tanto a saúde mental quanto a física. Definir também limites para não exceder na produtividade, afinal muitas horas de trabalho levam a mais cansaço, que leva à procrastinação.

Outras mudanças que podem evitar uma fuga para debaixo das cobertas incluem:

Não faça tudo de uma vez: dê pausas entre as tarefas, isso ajuda a recarregar as energias e diminuir o risco de procrastinação.

Fuja do perfeccionismo: a insegurança de falhar ou não corresponder às expectativas pode levar ao adiamento de afazeres.

Mantenha um calendário ou agenda com datas, prazos, prioridades: isso evita sobrecargas desnecessárias.

Organize o local de estudo ou trabalho: isso melhora a produtividade e evita distrações.

Aproxime-se de pessoas ativas, dinâmicas: inspire-se nos hábitos delas.

Desative notificações no celular: vale reservar momentos específicos para verificar mensagens e redes sociais. E evite usar o celular para entretenimento excessivo.

Estabeleça uma rotina diária: ela deve incluir horários fixos para se deitar e levantar.

Em vez de falar sobre o que deseja fazer, aja: comece devagar e progrida.

Aproveite o foco: use os momentos de maior disposição para cumprir o que é trabalhoso.

Fuja um pouco das telas para se divertir: pense em atividades de que você gosta e que não envolvam o uso de telas.

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