Menina fazendo crossfit viraliza; tudo bem criança praticar modalidade?

Um vídeo de uma menina participando de uma competição de "crossfit kids" fez sucesso no TikTok. A publicação, de agosto deste ano, já atingiu 3 milhões de visualizações e mostra Helena, que na época tinha cinco anos fazendo alguns exercícios da modalidade.

Anna Clara Pires Berner Vieira, 26, mãe de Helena, conta que a pequena se envolveu com o esporte pelo exemplo em casa. "Ela faz tudo comigo, inclusive os treinos. Conforme o crossfit entrou para a nossa rotina, ela foi demonstrando interesse em participar, imitando os movimentos e tentando aprender. Com isso, a colocamos no 'cross kids', que é uma modalidade do crossfit específica para crianças. E ela ama!", diz.

A prática do crossfit trouxe notáveis benefícios para Helena, segundo sua mãe. "Sinto que a autoconfiança é um dos pontos mais marcantes desenvolvidos pela prática do crossfit. Ela fica muito orgulhosa de cada aula, pede que fiquemos olhando e se orgulha de todo o progresso."

Mas crossfit nessa idade não é perigoso?

Anna Clara enfatiza como as aulas de "cross kids" são moldadas para a diversão das crianças. "As crianças têm por natureza o costume de brincar correndo, pulando, se pendurando, rastejando, e uma aula de 'cross kids' acontece com muitos desses movimentos que eles já sabem fazer, de forma funcional", diz. "Para eles, é um momento de prazer, de diversão, de encontrar os amiguinhos e imitar os papais."

Quanto a possíveis resistências por parte de Helena em relação ao esporte, Anna destaca a importância de não criar pressões. "Eu busco criar uma relação prazerosa entre a Helena e o esporte. Acredito que quando fazemos um esporte que amamos, ele não vira uma obrigação, e sim uma parte prazerosa no nosso dia. Então, por aqui não há cobrança."

Marco Aurélio S. Neves, ortopedista, traumatologista e médico do esporte, destaca a importância da supervisão e da adaptação dos exercícios para evitar impactos negativos no crescimento e desenvolvimento da criança. "É preciso ter cuidado com a prescrição de alguns exercícios e a metodologia utilizada para crianças. Exercícios com níveis elevados de força podem prejudicar o crescimento devido ao fechamento das epífises, estruturas anatômicas encontradas nas extremidades dos ossos longos do corpo humano, e a possível lesão das cartilagens ósseas", comenta.

Por isso, o profissional de educação física responsável pelo treino deve se preocupar com a intensidade e metodologia utilizadas.

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Mas quando feito da forma correta, o esporte é importante para o desenvolvimento motor, psíquico e intelectual, sem deixar de ter uma abordagem lúdica nas aulas adaptadas para crianças.

"O planejamento de aula pra crianças segue a mesma estrutura de aula do adulto, mas de forma adaptada para que as crianças consigam realizar todos os exercícios para o melhor desenvolvimento dela", diz Danilo Zacarias, educador físico especializado em treinamento de força.

"No vídeo [viral de Helena no TikTok], vemos todos os desenvolvimentos individuais sendo trabalhados, o incentivo de todos para a criança se sentir confortável e animada para realizar o exercício, a mãe sendo o exemplo e puxando fila para realizar a tarefa", diz Zacarias.

Helena e a mãe, Anna Clara Pires Berner Vieira
Helena e a mãe, Anna Clara Pires Berner Vieira Imagem: Anna Clara Pires Berner Vieira

A chave é o equilíbrio

A pediatra Cecilia Tartari reforça que existem benefícios no "crossfit kids", como o desenvolvimento de habilidades fundamentais, promoção de um estilo de vida ativo e a construção de confiança e disciplina. Mas também abordou preocupações, como o risco de lesões e a importância do acompanhamento médico regular.

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Por isso a necessidade de balancear atividade física e descanso. Além disso, é muito importante haver acompanhamento médico regular e a comunicação aberta entre pais e profissionais de saúde.

"Caso a modalidade seja prescrita com níveis mais altos de intensidade, poderá diminuir o crescimento, podendo causar atraso puberal e desmineralização óssea. Caso seja prescrita com níveis moderados de intensidade, poderá promover flexibilidade, melhora da postura, força e resistência cardiovascular", diz a médica.

Os benefícios também vão além do físico. "Pode diminuir casos de transtornos mentais como ansiedade, depressão, vício em telas, abusos de substâncias lícitas como álcool e tabaco, cada dia mais precoce na sociedade moderna. Outro ponto positivo é a melhora dos relacionamentos interpessoais que a criança desenvolve em um ambiente de atividade física", diz Tartari.

Fontes: Cecilia Tartari, pediatra integrativa e neonatologista da Clinica Mantelli; Danilo Luís Zacarias da Silva, educador físico especialista em treinamento de força; Marco Aurélio S. Neves, ortopedista, traumatologista e médico do esporte da Clinica Movite.

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