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'O Vasco me dá uma ansiedade que parece infarto': por que isso acontece?

Jairo Neto tem 23 anos e hoje frequenta todos os jogos do Vasco em São Januário e alguns fora do estado do Rio de Janeiro também Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

11/12/2023 08h54

"Eu e o Vasco não temos uma relação das mais saudáveis e eu sou conhecido por ter um histórico de passar mal nos jogos. Minha avó fala que, com oito anos de idade, já chorava vendo o Vasco.

Lembro de passar mal pela primeira vez no estádio vendo o gol do Rafael Silva no jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil entre Vasco e Flamengo. Caí durinho no Maracanã. O ano era 2015 e eu tinha só 15 anos.

E na quarta-feira (6) foi assim. Eu gosto de assistir aos jogos com as torcidas organizadas, mas não ali no meio. Eu fico lá no alto, no último degrau, bem em cima de São Januário.

Por volta dos 20 minutos do segundo tempo, o Vasco tomou o gol de empate do Bragantino e Bahia fez 3 a 1 no Atlético Mineiro, resultado que rebaixaria a gente, ali eu comecei a me sentir muito mal.

Começou com uma dor no peito, meu braço esquerdo começou a formigar, minha cabeça foi para o espaço ou qualquer coisa nesse sentido.

E eu pedi ajuda para meu amigo que estava comigo para descermos dali.

Quando já estávamos perto da enfermaria, eu vi um cruzamento, a rede balançando e a galera gritando. O Vasco fez um gol. Senti uma tremedeira, fiquei tonto e vendo tudo meio turvo.

Nesse momento, eu caí.

Só que antes de chegar ao chão, me seguraram e alguém me levou correndo para a área médica.

Eu chorava, tremia, as pernas formigavam, meu braço esquerdo, que já estava formigando, ficou dormente, eu não o sentia, também não sentia o braço direito e meu rosto. Eu suava frio.

Só que a única coisa que eu pensava, era que esse gol não poderia ser anulado. Eu estava desfalecendo por um gol que, se anulassem, não teria adiantado nada.

O Vasco tem isso, não sei se é resultado dos últimos anos, mas a gente vê muito bombeiro ali pela arquibancada para caso alguém passe mal.

Mas quando cheguei na área médica, era o único paciente. Estavam lá um médico e dois enfermeiros e talvez um paramédico que já me medicaram e fizeram em mim os exames de glicemia, pressão e um eletrocardiograma.

Eles tentaram fechar tudo para que eu não escutasse os gritos no estádio, só que estávamos embaixo da arquibancada, era óbvio que eu estava escutando, mas eu não vi os últimos 20 minutos de jogo.

"Minha relação com o Vasco é muito próxima e até ligada a essa questão de ansiedade. Eu sou sócio do clube desde muito pequeno porque eu pedi isso para minha mãe. E isso foi quando eu tinha entre 14 e 15 anos e, nessa época, eu comecei a ter ansiedade." Imagem: Arquivo pessoal

Não cheguei a infartar ou precisar de ambulância. No dia seguinte, fui no médico que já me acompanha, que por coincidência é um cardiologista, e ele me disse que deve ter sido uma crise forte de ansiedade.

O que aumentou muito a minha pressão e poderia me levar a ter um infarto. Foi um pico de ansiedade que poderia chegar em algo mais grave.

Cerca de 20 minutos depois do fim do jogo, me liberaram. Saí andando com meu amigo e consegui voltar sozinho para casa, tranquilo. Foi só aquele susto.

Se tivesse ficado lá em cima, não sei se não ficaria mais nervoso, mais estressado e teria acontecido algo pior.

Mas felizmente deu tudo certo e acabou virando uma história engraçada."

O risco de infarto é maior entre torcedores?

Jairo Neto, o dono da história narrada acima, tem consciência de que, para quem vê de fora, essa história e tantas outras que envolvem os fãs de futebol, pode parecer uma maluquice.

Mas o esporte movimenta muitas emoções e é capaz de mobilizar nossos hormônios nos preparando para situações de luta ou fuga.

É como se o organismo identificasse que algo pode dar errado —no caso de Jairo, seria o rebaixamento do Vasco para a série B do Campeonato Brasileiro— deixando tudo pronto para a ação.

"Tive um momento um pouco mais traumático e eu ia de tarde para São Januário e ficava sentado na arquibancada mesmo quando não tinha jogo. Isso me ajudava. O Vasco se tornou meu mundo de consolo e de acolhimento." Imagem: Arquivo pessoal

Dessa forma, hormônios como cortisol e adrenalina passam a ser liberados de forma mais intensa, fazendo com que o coração acelere, a boca fique seca e o corpo trêmulo, a sudorese aumente e os níveis da pressão arterial subam. Exatamente o que Jairo sentiu.

"Vou fazer o exame do Mapa de pressão porque meu médico já tinha começado um acompanhamento sobre isso porque o histórico da minha família é inverso, é de pressão baixa", conta Jairo.

No jogo entre Vasco e Goiás em outubro, quando o Vasco tomou um gol no final da partida, minha pressão chegou a 15 por 11. No jogo contra o Corinthians, cheguei a levar comigo um remédio prescrito pelo médico para pressão.

Esse tipo de situação pode ser ainda mais intensa em quem já sofre com ansiedade.

"Tenho e trato ansiedade com remédio, faço terapia toda semana e, para mim, isso é uma coisa controlada. Sou uma pessoa calma apesar dessa doideira, mas o Vasco me dá esse pico de ansiedade que parece um infarto", conta Jairo Neto.

"Eu vivo muito isso, mas também não tem que se transformar em algo danoso, apesar de eu quase ter infartado." Imagem: Arquivo pessoal

Apesar de não ter realmente infartado em São Januário, Jairo Neto correu esse risco, isso porque é, sim, possível torcedores atingirem um nível de estresse tão intenso que se configure em quadros de arritmias, insuficiência cardíaca, infarto ou AVC (acidente vascular cerebral).

Ainda no coração, o alto nível de emoção do torcedor pode fazer com que o órgão bombeie o sangue de forma mais rápida e, por isso, o ritmo dos batimentos cardíacos aumenta.

Não sei se já posso me internar, por exemplo, caso o Vasco jogue um mata-mata, para me acordarem só depois do jogo. Jairo Neto, torcedor do Vasco

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