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É verdade que frutose em excesso causa cirrose não alcoólica?

Imagem: Priscila Barbosa

Rebecca Vettore

Colaboração para VivaBem

01/02/2023 04h00

Apesar de não ser tão divulgada quanto sua "irmã", a cirrose não alcoólica mata e pode ser causada pelo excesso de consumo de frutose, mas calma, não se preocupe com as frutas que você consome, a gente explica. É uma doença silenciosa, que pode demorar até 20 anos para se desenvolver e começa como uma gordura no fígado.

Além da ingestão excessiva de frutose, conhecido como "açúcar das frutas", aumentam os riscos do desenvolvimento e mais rápida será a progressão da cirrose não alcoólica se o paciente não fizer atividade física, ou tiver alguma condição como diabetes, obesidade ou colesterol alto.

Atenção: a frutose é um açúcar que vem das frutas, mas não são elas as causadoras da cirrose, mas, sim, a frutose artificial presente em bebidas e alimentos processados. A frutose industrial é extraída do xarope de milho e não possui nenhuma propriedade nutricional.

Mesmo que você pense: E se eu comer muitas frutas por dia, corro risco de desenvolver cirrose não alcoólica?

De acordo com Rosangela Passos de Jesus, professora da Escola de Nutrição da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Edmundo Lopes, professor de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e ex-presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), não, pois as frutas têm pouca porcentagem de frutose, e a fibra presente nelas ajuda na diminuição da absorção de colesterol, gorduras e açúcares.

Então, definitivamente, as frutas não estão associadas com o desenvolvimento de esteatose e esteatohepatite não alcoólica.

O excesso de consumo de frutas está bem longe da realidade do nosso país. Segundo a OMS, a população adulta deveria ingerir cinco porções de frutas, verduras e hortaliças por dia, mas apenas 24% dos brasileiros costumam comer essa quantidade recomendada.

O que realmente deve gerar preocupação, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem de VivaBem, além das bebidas e alimentos processados, como refrigerantes e enlatados, é o mel, que é feito com quase 40% de frutose, e o xarope de milho, que é um tipo de açúcar artificial utilizado em ampla escala pela indústria como conservante e flavorizante de diversos produtos alimentícios.

Como a doença hepática gordurosa pode evoluir para cirrose?

A cirrose não evolui rapidamente e deriva de uma gordura no fígado conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica. Apesar de a maioria dos pacientes com cirrose não apresentarem sintomas no começo, eles podem sentir muito desconforto abdominal no lado direito, fadiga e cansaço.

Afetando de 25% a 30% da população mundial, a morbimortalidade associada a essa doença tem aumentado junto com o crescimento do excesso de peso na população.

"Conforme evolui, pode virar um esteatose hepática levando a uma inflamação no fígado, que pode gerar a fibrose no fígado, que é uma cicatriz. Conforme a progressão da fibrose pode ser desenvolvida a cirrose", explica Renato Altikes, hepatologista do Hospital Santa Catarina (SP).

Ainda segundo Altikes, conforme a doença vai avançando, além de mudar o funcionamento do fígado, também altera a vascularização dos rins. O sangue terá mais dificuldade de passar na região em razão do endurecimento do fígado e pode gerar a chamada hipertensão portal (aumento anormal da pressão sanguínea na veia que transporta o sangue do intestino ao fígado) gerando consequências mais graves: varizes no esôfago e formação de líquido na barriga com risco de ter sangramento, olhos amarelados e aparecimento de hematomas com facilidade.

O fígado passa a produzir menos proteínas e ter menos capacidade de limpar as toxinas do sangue. Quando a pessoa está com a cirrose mais avançada ainda, os órgãos começam a parar de funcionar porque eles dependem do fígado.

A frutose pode causar a cirrose não alcoólica porque, diferentemente da glicose, outro açúcar que é transformado em energia por qualquer célula presente no nosso corpo, a primeira só pode ser metabolizada pelo fígado.

Mesmo tendo causas diferentes, segundo Lopes, do ponto de vista fisiopatológico, a esteato-hepatite alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica são muito parecidas, tanto que o médico só saberá qual é a doença se o paciente disser que bebe ou não, por exemplo.

Como evitar o desenvolvimento da doença

Assim como as doenças crônicas e o sedentarismo podem acelerar a progressão da cirrose não alcoólica, bebidas alcoólicas também podem. Para evitá-la, o ideal também é evitar ingerir produtos processados e ultraprocessados ao longo do dia.

Além da recomendação diária de 30 minutos de atividade física, a OMS indica que a pessoa consuma no máximo 10% das calorias diárias provenientes de açúcar, seja ele de qualquer tipo, inclusive de frutose. Considerando uma dieta de 2.000 calorias, esse percentual equivale a 50 gramas de açúcar por dia (cerca de dez colheres de chá), com cada grama de glicose e frutose produzindo quatro calorias, segundo Lopes.

As frutas secas ou desidratadas como figos, maçãs, uvas, manga e abacaxi são alimentos ricos em frutose concentrada, o que aumenta o nível total de açúcar nessas frutas secas. Uma porção de 100 g de uvas-passas, por exemplo, contém aproximadamente 30 g de frutose.

Apesar das frutas não serem responsáveis pela cirrose, a nutricionista da UFBA chamou a atenção para a tâmara: por ser uma fruta com alto índice de frutose, com 32 g presentes a cada 100 g do alimento, deve ser consumida com moderação.

Mesmo para quem já tem a doença hepática gordurosa não alcoólica, Passos de Jesus recomenda a ingestão de três porções por dia de frutas frescas.

Alimentos com mais frutose

  • Refrigerante
  • Molho de tomate
  • Biscoito
  • Sorvete
  • Chocolates
  • Barra de cereal
  • Pães adocicados
  • Bolos
  • Achocolatados
  • Iogurtes industrializados
  • Ketchup
  • Geleias
  • Cereais matinais
  • Comidas congeladas
  • Enlatados
  • Molhos
  • Caldas e coberturas
  • Sucos naturais ou industrializados de frutas, principalmente elaborados com pera, manga, laranja, tangerina e maçã

Só para ter uma ideia, Passos de Jesus listou a quantidade de frutose artificial em alguns produtos industrializados:

  • Xarope de milho: de 42 g a 55 g.
  • Molho barbecue: 17,5 g.
  • Cereal matinal de milho com açúcar: 12,3 g.
  • Suco de uva: 7,3 g.
  • Cookie de chocolate: 6,3 g.
  • Coca-Cola: de 250ml contém em torno de 20 g.
  • Fatia pequena de goiabada: aproximadamente 8 gramas de frutose.
  • 1 copo de 200 ml de refrigerante ou bebida açucarada tipo néctar: tem aproximadamente 10 gramas de frutose.

Frutose x frutas

Passos de Jesus recomenda dar preferência à ingestão das frutas naturais, de forma equilibrada, em substituição aos sucos, doces e geleias.

Os vegetais como tomate, repolho, aspargos, cebola, pepino, beterraba, cenoura, milho, abóbora e batata doce apresentam baixo teor de frutose em relação a outros alimentos, sendo que geralmente contém aproximadamente 1 g a 2 g de frutose por 100 g de alimento.

Se você seguir a recomendação da OMS, comendo de três a cinco porções de frutas por dia, isso pode propiciar a ingestão entre 6 e 36 gramas de frutose. Tendo isso em vista, é possível entender que a quantidade de frutose proveniente da ingestão de frutas não é elevada quando comparada à ingestão deste açúcar a partir de alimentos industrializados, que apresentam grande concentração de frutose artificial.

Além disso, a profissional listou frutas, verduras e grãos versus a quantidade de frutose presente.

  • Manga: em uma unidade de tamanho médio contém aproximadamente 8 g desse açúcar.
  • Ameixa: a cada 100 g contém 3,8 g de frutose.
  • Caqui: uma fruta de tamanho médio oferece 6,4 g de frutose ao organismo.
  • Maçã: uma unidade média da maçã contém 9,5 g de frutose, sem casca diminui para 6,4 g.
  • Banana: uma fruta de tamanho médio contém 7,1 g de frutose.
  • Laranja: a cada 100 g contém 4,4 g de frutose.
  • Tangerina: proporciona 4,8 g de frutose por unidade de tamanho médio.
  • Caqui sem casca: tem 5,5 g.
  • Milho: uma unidade de 100 g tem 2,5 g de frutose.
  • Tomate: em 100 g do fruto contém 1,3 g.
  • Feijão verde: tem 1,6 g deste açúcar.
  • Batata inglesa pequena: em uma unidade apenas 0,26 g.
  • Melancia: em 100 g tem 4 g.

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