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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Instinto ou intuição? Entenda a diferença e saiba reconhecer essas reações

Imagem: iStock

Alexandre Raith

Colaboração para VivaBem

12/01/2022 04h00

Você já reagiu sem pensar, sobretudo naquelas situações em que se encontrava em perigo? Ou então sentiu uma "voz interior", como se fosse um aviso de que não devia fazer algo? Essas ações ou sensações podem ser definidas como instinto ou intuição, mas a explicação por trás delas não é tão simples.

Professor do Instituto de Psicologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Fabrício de Souza explica que o comportamento é um complexo que envolve tanto fatores biológicos quanto culturais. Por essa razão, ele define o instinto como o "efeito de estruturas biológicas que são independentes de aprendizagem, que estão presentes em todos os elementos de uma mesma espécie, e que favorecem a evolução e o processo de adaptação ao contexto em que ela vive".

Ficou confuso? Ele exemplifica. "Imaginemos que em uma sociedade de formigas as operárias terão certos comportamentos e a rainha, outros. Isso é quase que 100% instintivamente determinado." No entanto, ele acrescenta que o fato de dizer que não existe um caráter puramente instintivo não é sinônimo de desconsiderar os efeitos biológicos e genéticos, pois existe uma mistura desses elementos.

"Não dizemos que no comportamento humano existe um elemento que é puramente instintivo por conta do caráter cultural e de aprendizagem. Por exemplo. Estou falando em português. Isso é biológico ou cultural? Cultural. Entretanto, se nós não tivéssemos um cérebro com estruturas adequadas para compreender a fala e articular os músculos da face e da boca não iríamos desenvolver essa linguagem", diz.

E a questão psicológica dentro desse conjunto de aspectos integrados? Souza afirma que o caráter psicológico é a capacidade de interação com o ambiente e se mostra a partir do próprio comportamento do indivíduo. Novamente, decorrente da integração entre fatores biológicos e culturais, a história de vida de cada pessoa e elementos presentes no contexto.

Desde os tempos da caverna

Em linha com essa explicação, a professora do IP-USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo) Leila Salomão Tardivo acrescenta que o instinto é uma força motriz que se desenvolve com outras situações que criam necessidades, desde as mais básicas a outras mais evoluídas.

"Faz parte do ser humano a vida instintiva. A existência do instinto é algo animal. É algo sobre o qual não se tem controle. Eu não consigo ficar sem comer, beber, dormir, sobreviver. A criança, por exemplo, já sabe mamar sem nunca ter mamado. A sucção é um instinto", ilustra Tardivo.

Portanto, o instinto são reações comportamentais. Uma resposta automática e não aprendida, em função de uma situação específica. Normalmente, destinada à sobrevivência ou reprodução. A professora volta aos primórdios para explicar a importância dele na preservação da espécie.

Intuição é completamente diferente do instinto Imagem: iStock

"Duas características nos fizeram sobreviver. A união, porque os humanos viviam em grupo, o que dava força para caçar, comer, se defender dos predadores se escondendo nas cavernas, e a inteligência, com o desenvolvimento do córtex cerebral. Essas conquistas estão calcadas em vida instintiva", conta Tardivo.

Com o passar da evolução, outras conquistas foram se sobrepondo e se integrando ao instinto, o que gerou o desenvolvimento de outras características, como responsabilidade e preocupação consigo mesmo e com o outro.

O instinto também está relacionado ao medo e à insegurança, pois são sentimentos ligados a uma ameaça à sobrevivência ou ao bem-estar. Quando um cachorro produz medo em uma pessoa, por exemplo, provoca uma resposta instintiva, que pode ser fugir, se esconder, se defender. A possibilidade do ataque, que representa um estímulo, gera tal reação pronta e não aprendida. Mas atenção: às vezes esse medo é descabido, fantasioso e criado, e o excesso pode paralisar.

Intuição vai além do racional

Diferentemente de vida instintiva, a intuição é uma sensação e introspecção, vai além do racional, apesar de também conter tanto a participação de elementos biológicos quanto culturais.

Segundo o professor da UFBA, intuição é a capacidade de perceber determinadas nuances do ambiente no momento em que estamos interagindo, mas que não somos conscientes dessa percepção. "É completamente diferente do instinto, pois é uma habilidade que conseguimos desenvolver; é aprendida a depender das condições que a pessoa tenha", diz.

João Ilo Coelho Barbosa, professor do Departamento de Psicologia da UFC (Universidade Federal do Ceará), define a intuição como uma resposta a estímulos ambientais muito sutis. "Às vezes não conseguimos identificar aquilo que está sendo dito. Está sob controle de algum estímulo externo, como 'vou mais com a cara daquela pessoa do que com essa, mas não sei o porquê'. Ou interno, quando se tem uma sensação agradável de fazer algo."

Outros exemplos práticos são as situações em que uma sensação de estranhamento nos leva à dúvida se vamos por este caminho ou aquele, se viajamos ou ficamos em casa, se determinado indivíduo é confiável ou não. No caso da intuição, não sabemos dizer a razão de ter escolhido uma resposta e não a outra.

Questão de confiança

Na dúvida do que fazer e de qual decisão tomar, sempre ficamos com o pé atrás, como se a intuição fosse um aviso de que algo pode acontecer. Mas nem sempre a primeira impressão é a que fica. Quantas vezes tivemos uma sensação de estranhamento sobre uma pessoa que acabamos de conhecer e, depois, reconhecemos que era errada. Ou ao contrário, as afinidades pareciam aflorar em um primeiro instante e, em seguida, tudo não passou de um engano.

Confiar na intuição, segundo os especialistas, é a resposta que não consegue ser verbalizada, mas que a pessoa sente e, graças a esta sensação, define uma escolha. Mas nestes momentos de incerteza, devemos sempre acreditar nesta "voz interior" que parece nos antecipar algo?

"Difícil afirmar, porque a intuição é um conceito falho, não é preciso. Se é interessante confiar nisso ou não, é muito complicado, porque pode dar certo ou errado. Ter intuição não é garantia de sucesso", afirma o professor da UFC.

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