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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Quais brinquedos podem realmente fazer mal à saúde das crianças?

Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

07/10/2021 04h00

Esqueça os bonecos do Fofão e da Xuxa, que entre os anos 1980 e 1990 viraram manchetes de jornal devido às polêmicas que se envolveram. Quem havia ganhado de presente o Fofão dizia que ele era amaldiçoado e que continha uma faca preta e afiada no seu interior (na verdade, a estrutura que sustentava seu corpo). Já a boneca Xuxa foi alvo de uma lenda urbana sobre um de seus exemplares ter sido trancafiado dentro de uma igreja após ter atacado uma menina.

Mas, segundo médicos ouvidos por VivaBem, os brinquedos apresentados a seguir é que podem ser considerados os verdadeiros vilões. Muito mais perigosos, eles sufocam, derrubam, intoxicam e oferecem outros perigos reais que os pais, desejosos em satisfazer as vontades e fantasias de seus filhos, nem imaginam.

E apesar de serem milhares de casos de acidentes —e denúncias— todos os anos, parece que as grandes fabricantes ainda não aprenderam a lição.

Em agosto, o ator Sam Neill, de "Jurassic Park", chegou até a comunicar a Mattel pelo Twitter: "Recebi uma foto alarmante do modelo Alan Grant com cabeça e mãos REMOVÍVEIS! Apenas um pouco preocupado", escreveu ele sobre o boneco de seu personagem, que se consagrou herói por salvar as crianças do filme. E há motivos para se preocupar, pois, em todo o mundo, 1 milhão de crianças morrem por causas acidentais ao ano, segundo a Safe Kids Worldwide.

Sufocação é a 1ª causa de morte em bebês

Membro dessa rede global de prevenção de acidentes na infância, a ONG brasileira Criança Segura informa que sufocação é a maior causa de morte acidental entre crianças menores de 1 ano e a terceira desse tipo entre zero a 14 anos no Brasil.

Não dá para precisar o tamanho da participação dos brinquedos nisso, mas sabe-se que muitos engasgos ocorrem por causa de suas pecinhas soltas ou desmontáveis, fora miniaturas, pilhas e bolinhas, como as de gude.

Entre bebês, a falta de habilidade de levantar a cabeça coloca-os em grande risco. "Além disso, é preciso muito cuidado também com lápis pequenos, canetinhas e tampas pontudas", alerta Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e neonatologista membro da AAP (Academia Americana de Pediatria). Ele informa que as vias aéreas superiores (boca, garganta, esôfago e traqueia) de crianças são estreitas e é natural e esperado que as menorzinhas explorem objetos pela boca.

Quando não é o sufocamento, outro motivo de alarde é a ingestão acidental de brinquedos e suas partes. Baterias de lítio, redondas e presentes em ursos de pelúcia com luzinhas, podem queimar órgãos e matar.

Segundo a AAP, 2.500 crianças engolem esse tipo de bateria a cada ano nos EUA. Também podem entrar pela boca e acabar com a brincadeira, pedaços de balões de látex estourados, bichinhos de gel que crescem em água e imãs defeituosos. Causam danos que variam de vômito e desidratação a entupimento e perfuração de intestinos e até coma.

Quedas são as que mais levam a internações

Imagem: Thinkstock

Essa afirmação também é da Criança Segura. Suas estatísticas mostram que as quedas aumentam consideravelmente a partir dos 5 anos e lideram nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, com respectivamente 87 mil, 42 mil e 31 mil internações de crianças entre 2013 e 2019.

"Quando são da própria altura da criança não trazem grandes problemas, o risco são as de alturas maiores que 70 cm a um metro", informa Roberto Sapolnik, pediatra do Hospital São Rafael, da Rede D'Or, em Salvador.

Nesse sentido, atenção redobrada com camas elásticas, pula-pulas, gangorras, balanços, escorregadores, trepa-trepas e brinquedos gigantes. Em 2019, uma menina de 5 anos ficou ferida após ser arremessada de um inflável em Praia Grande, no litoral paulista, e outra, de 9 anos, em 2015, morreu em Palmeira, no Paraná, após atingir e estourar um vidro. Acidentes assim são muito comuns em parquinhos e envolvem até mesmo risco de estrangulamento.

E não pense que veículos infantis são mais inofensivos. De acordo com um estudo publicado no periódico Pediatrics, estima-se que mais de 9.000 acidentes relacionados a triciclos foram tratados nas emergências dos EUA entre 2012 e 2013.

Lacerações foram o tipo de lesão mais observado, cabeça é a parte do corpo mais frequentemente machucada e vulnerável a danos internos e cotovelos os recordistas em fraturas. Perigos que também rondam crianças que usam patinetes, segundo pesquisadores do Hospital Universitário de Helsinque, na Finlândia.

Criança deve brincar, mas do jeito certo

Seria impossível listar todos os brinquedos que ameaçam crianças. A boa notícia é que devido aos avanços médicos, muita conscientização e, infelizmente, acidentes recorrentes, muitos deles já foram descontinuados ou quase não se encontram mais à venda, como forninhos que assam de verdade, kits de experiências com elementos radioativos, bonecas que giram no ar acopladas em hélices e que mastigam e trituram ou mesmo foguetes ejetáveis e explosivos.

Em se tratando de jogos, não encorajando o suicídio, os adultos podem ficar um pouco mais tranquilos. "Jogos violentos não são preocupantes em si, mas é preciso que os pais se atentem a excessos de estímulos [sobretudo se a criança tem se isolado], compulsão e se há confusão entre fantasia e realidade. Diversificar as brincadeiras é muito importante", afirma Deborah Moss, neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo), acrescentando para se acompanhar também o que é visto no celular e na televisão.

Imagem: iStock

Os pais ainda devem fazer sua parte em não comprar brinquedos piratas, sem certificação do Inmetro, pois, embora mais baratos, as consequências ruins são muitas. Contrabandeados e sem garantias de testagem e aprovação, soltam componentes, superaquecerem, funcionam de forma inesperada e intoxicam por substâncias químicas.

Os pediatras Ejzenbaum e Sapolnik alertam para a contaminação por chumbo, em níveis acima dos permitidos por lei nas tintas usadas nesses produtos, e que causa desde dores de cabeça a danos nos rins e neurológicos.

No mais, para manter as crianças seguras, deve-se supervisioná-las; considerar idade, interesse e nível de habilidade e compreensão delas ao escolher um brinquedo; guardar tudo após a utilização, que deve ser longe de escadas, ruas, piscinas; ensinar sobre os riscos dos produtos anteriormente citados e evitar os com pontas, correntes e cordas compridas; seguir o que diz as embalagens; consertar ou manter fora do alcance dos pequenos itens com algum defeito ou problema; e não deixar que empinem pipas com cerol e em dias chuvosos e perto de fiações.

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