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Delirium em idosos: confusão mental repentina pode indicar doenças

Imagem: iStock

Samantha Cerquetani

Colaboração para VivaBem

16/07/2021 04h00

De repente, o idoso fica confuso, desorientado, não consegue mais se concentrar ou prestar atenção no que está acontecendo ao seu redor.

Essa mudança de comportamento repentina pode indicar uma condição chamada delirium. Conhecida também como estado confusional agudo, estima-se que 50% dos idosos hospitalizados apresentem essa confusão mental em algum momento.

"A pessoa fica confusa de uma hora para outra de forma temporária. Trata-se de uma agressão ao sistema nervoso central e acontece por diferentes motivos. É mais comum em quem tem demência. Basta apenas uma infecção urinária para a pessoa apresentar o delirium, já que eles têm uma predisposição maior", destaca Paulo Camiz, geriatra e professor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Além da confusão mental, a pessoa costuma dormir demais ou ficar retraída, falar frases sem nexo, apresentar agressividade ou agitação.

Também são comuns as mudanças repentinas de humor e as alucinações. Essa situação pode durar horas ou dias, no entanto é reversível com tratamento, na maioria das vezes.

Delirium x demência x delírio

Para Marco Túlio Aguiar Mourão Ribeiro, geriatra de uma UBS no Ceará e vice-presidente da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade), é muito importante diferenciar o delirium de um quadro de demência e buscar ajuda o quanto antes.

"O idoso está bem e do nada passa a ter alucinações e ficar agitado. Nesses casos, é comum a família se assustar com a mudança de comportamento. Já a demência tem uma evolução lenta e gradual e é algo permanente. O delirium pode indicar alguma emergência médica", explica.

Também é necessário diferenciar a condição do delírio, ou seja, uma alteração mental que traz uma distorção da realidade por causa de um transtorno psiquiátrico como esquizofrenia.

O que causa?

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Há diversas situações que ocasionam o delirium e é preciso que se descubram as causas para iniciar o tratamento adequado. Vale destacar que o delirium não é uma doença e também afeta os mais jovens, apesar de raro. A condição é mais frequente em idosos acima de 75 anos.

Além da demência e idade avançada, pessoas que tiveram problemas cerebrais como AVC (acidente vascular cerebral), doenças crônicas degenerativas e déficits sensoriais (audição ou visão) estão mais suscetíveis ao delirium. Algumas causas:

  • Reação de alguns medicamentos;
  • Infecções como urinária ou pneumonia;
  • Insuficiência renal ou hepática;
  • Uso de cateteres e sondas;
  • Imobilidade;
  • Distúrbios metabólicos;
  • Desidratação.

Tipos de delirium

O delirium é classificado em hipoativo, hiperativo ou misto (quando mistura sintomas das duas condições). O hipoativo é mais difícil de ser identificado, pois a pessoa fica apática, com muito sono e lentidão.

Já em casos de delirium hiperativo, como o próprio nome já diz, o idoso fica inquieto e irritado. Também é comum ter alucinações visuais. Por fim, o delirium misto alterna os dois estados: geralmente há sonolência durante o dia e agitação no final da tarde e noite.

Internações pioram problema

Idosos que são internados apresentam com mais frequência o delirium. De acordo Ribeiro, as causas para essa situação variam.

"O simples fato de mudar bruscamente de local [da casa para o hospital] pode provocar o delirium em idosos fragilizados. Há uma mudança de rotina e o idoso se sente sozinho, sem alguém conhecido e apresenta a alteração de comportamento", destaca o geriatra.

Pesquisas apontam que o delirium está associado a maior tempo de internação e maior mortalidade em idosos hospitalizados.

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"Eles são tirados da sua zona de conforto e isso agride muito o cérebro da pessoa. Imagine ficar o dia todo com luz artificial, conviver com estranhos entrando e saindo do quarto. Muitas vezes, os pacientes ficam sem os óculos ou o aparelho auditivo. A pessoa se perde no tempo. Na UTI isso se agrava, há muita movimentação, visitas diferentes e medo", resume Gabriel Batistella, neurologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Mas é possível prevenir que a condição aconteça ou que seja minimizada com algumas medidas simples no hospital. Há diversos protocolos estabelecidos com o intuito de controlar e diagnosticar precocemente o delirium.

O primeiro passo é promover a sensação de familiaridade no hospital. Por isso, a indicação é deixar o ambiente hospitalar bem iluminado, com objetos pessoais por perto, diminuir o ruído durante a noite e deixar a temperatura agradável.

Outra questão fundamental apontada pelos especialistas é a presença de familiares ou acompanhantes durante a internação. É importante também estabelecer atividades que estimulem a função cognitiva: ler, conversar e ouvir música são consideradas ações eficazes.

Outras medidas preventivas que podem ser colocadas em prática:

  • Diminuir a rotatividade de funcionários para aumentar o vínculo com os pacientes;
  • Evitar o uso de sondas e cateteres sempre que possível;
  • Ficar de olho na hidratação do idoso;
  • Permitir relógios e calendários no quarto para evitar que ele perca a noção de tempo;
  • Estimular os movimentos e os exercícios.

Diagnóstico e tratamento

O delirium ainda é subdiagnosticado, uma vez que o diagnóstico é basicamente clínico. Há ainda uma escala de avaliação da confusão mental conhecida pela sigla CAM-ICU (Confusion Assessment Method in Intensive Care Unit) que pode ajudar na identificação do delirium.

Para os especialistas consultados por VivaBem ainda há um desconhecimento da condição por alguns profissionais de saúde.

"Exames de imagem ou de sangue não vão indicar o problema, apenas apontar uma doença que gerou o delirium. O diagnóstico segue critérios internacionais e avaliam-se aspectos como atenção, hesitação ao longo do dia, acometimento cognitivo e alterações comportamentais e de sono", completa Batistella.

O neurologista reforça que boa parte dos pacientes, quando bem conduzidos, vão se recuperar do quadro, mas existem casos nos quais a pessoa oferece risco para ela mesma ou para alguém mais próximo.

"O tratamento deve ser individualizado de acordo com a condição de saúde de cada idoso e o acompanhamento com geriatras e neurologistas é necessário para controlar ou reverter o delirium. E também direcionar a doença que causou a condição, evitando que ocorra novamente no futuro", afirma.

Embora, na maioria das vezes, o delirium seja considerado uma condição reversível, estudos apontam que cerca de 45% das pessoas internadas com delirium saíram do hospital ainda com a condição. E os sintomas podem permanecer por vários meses.

Apoio da família é fundamental

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Por ser uma alteração brusca de comportamento, a família pode se assustar com o delirium. Os idosos ficam violentos e gritam sem motivo aparente e isso causa muito sofrimento e incompreensão. No entanto, ter alguém conhecido por perto ajuda no controle dos sintomas.

"O primeiro passo é conhecer, ter informação sobre o delirium. Assim, o familiar consegue não apenas prevenir, mas também identificar um possível quadro e direcionar para um tratamento precoce", afirma Juliana Yokomizo, psicóloga do Programa Terceira Idade do IPQ (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).

Além disso, de acordo com a especialista, o familiar que entende melhor a condição lida de uma maneira mais tranquila. "Saber o que esperar e alinhar as expectativas em termos de evolução do delirium ajuda o cuidador a se manter com níveis menores de estresse e possível sobrecarga", finaliza.

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