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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


O que fazer para o tempo livre não se tornar um peso na maturidade

Imagem: iStock

Marcia Di Domenico

Colaboração para VivaBem

13/11/2020 04h00

A transição da vida profissional ativa para a aposentadoria é um momento marcado por emoções e expectativas conflitantes para muita gente. Se por um lado a entrada na nova fase traz sensação de missão cumprida, libertação de algumas obrigações e satisfação por finalmente ter tempo para fazer o que gosta, por outro pode vir carregada de angústias.

Com as mudanças na rotina e a quebra do círculo de relacionamentos ligados ao trabalho, o excesso de tempo livre pode resultar em uma sensação de vazio capaz de afetar o bem-estar psicológico e até a saúde física dos mais velhos.

Um levantamento de 2013 do Institute of Economic Affairs, no Reino Unido, demonstrou que a transição para a aposentadoria eleva em 40% o risco de desenvolver depressão e em até 60% o de ficar fisicamente doente. No Brasil, não há pesquisas que comprovem o impacto que se aposentar tem sobre a saúde mental, embora muitos especialistas garantam que ele existe mais ou menos na mesma proporção.

Com o aumento da expectativa de vida, os brasileiros devem estar preparados para viver pelo menos mais 22 anos quando chegarem aos 60, de acordo com as estimativas do IBGE. Saber o que fazer com tanto tempo disponível pode ser um desafio que homens e mulheres tendem a viver de modo diferente.

"Elas tendem a sentir menos o impacto negativo do rompimento com a rotina de trabalho por estarem acostumadas a se dividir em vários papéis ao longo da vida, além de se interessarem mais por se conhecer e se cuidar", fala Candice Pomi, psicóloga com especialização em gerontologia pelo Hospital Albert Einstein e mentora em longevidade.

Foco nas habilidades e interesses

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Planejar como se deseja desfrutar os anos pós-aposentadoria não é uma questão apenas de pensar em como ocupar o tempo, dizem os especialistas, mas de que forma fazer isso aproveitando as capacidades que desenvolveu ao longo da vida e pensando naquilo que traz prazer e realização.

"Quando demandas externas como trabalho e criação de filhos já não consomem a maior parte da rotina, é importante buscar dentro de si coisas que deem sentido à vida. Quem consegue fazer isso tende a envelhecer melhor", sugere Ana Maria Caramujo Pires de Campos, professora do curso de psicologia da Escola de Ciências da Saúde da FMU.

"Fazer planos, definir metas para realizá-los e participar de cada etapa até a concretização é uma forma de ocupar o tempo agora com algo que vai trazer satisfação mais adiante", comenta Irani Argimon, psicóloga e professora da pós-graduação em gerontologia biomédica da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Pode ser planejar uma viagem, fazer uma reforma em casa, iniciar um negócio, não importa.

Parar de trabalhar, aliás, é cada vez menos uma escolha de quem passa dos 60 anos, seja por necessidade de complementar a renda, seja por ter disposição para se manter ativo e querer tocar um projeto pessoal ou tentar uma nova carreira. Mas há outras formas de preencher os dias quando se tem mais tempo do que obrigações.

Cuidar dos relacionamentos

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Uma vida social e familiar feliz tem efeito protetor na saúde física e mental, enquanto a solidão é um fator prejudicial —pessoas que vivem sozinhas tendem a se cuidar menos e apresentar níveis mais altos de estresse e inflamação no organismo, além de mais risco de desenvolver doenças cardíacas e demência. Ainda assim, é comum priorizar as obrigações do dia a dia e deixar as pessoas para depois.

Uma pesquisa feita com adultos acima de 65 anos por mais de uma década e publicada no International Journal of Geriatric Psychiatry demonstrou que aqueles que relataram viver rotinas solitárias tiveram mais perdas cognitivas ao longo do tempo.

Em meio às recomendações de distanciamento social, é especialmente importante manter-se conectado com filhos, netos e amigos de forma virtual. Pense em criar horários fixos na semana para conversarem, o que pode ser positivo tanto para ajudar a compor uma rotina de hábitos saudáveis como para não deixar o vínculo se perder.

Movimentar o corpo

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É a melhor forma de cuidar da saúde física e mental, evitar doenças e regular o estresse e a ansiedade. Fazer atividade física, não importa a modalidade, também estimula a formação de novos neurônios no hipocampo, região cerebral responsável pela memória e pelo aprendizado. Quanto maior a variedade de estímulos, aliás, melhor para desenvolver mais capacidades físicas e cognitivas.

Vale lembrar que se exercitar não é sinônimo de ir para a academia nem subentende que você precisa suar em bicas. Caminhar pelo bairro, ir às compras a pé, subir e descer as escadas de casa ou do prédio e realizar tarefas domésticas, como arrumar a casa, também contam.

Tente se comprometer apenas com a regularidade, ou seja, mexer-se um pouco todos os dias, e procure passar o mínimo de tempo possível sentado.

Continuar aprendendo

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Quase todo mundo tem alguma habilidade que sempre quis desenvolver, mas acabou adiando por causa da vida corrida: um instrumento musical que gostaria de tocar, um idioma que queria falar com fluência, um trabalho manual que desejaria aprender.

Talvez seja a hora de se dedicar a isso seja agora. O bom é que o cérebro segue sendo moldado pelas nossas experiências até o fim da vida, ou seja, nunca será tarde para buscar conhecimento e se desenvolver. E quando não há a cobrança por desempenho ou resultado, isto é, você faz porque quer e não porque precisa, a atividade se torna ainda mais prazerosa

Relaxar

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Cada vez mais falamos sobre descansar não como algo para fazer quando se tem tempo sobrando, mas como um compromisso a assumir com o próprio bem-estar e que merece, sim, ser colocado na agenda. Defina o que é relaxamento para você —cozinhar, ler um livro deitado no sofá, receber uma massagem, movimentar o corpo, cuidar das plantas— e faça mais disso todos os dias.

Exercer seu potencial

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O trabalho tem, entre tantas funções, a de nos conferir uma identidade social e nos permitir exercer nosso potencial de várias formas. Encerrada a vida profissional, é natural se sentir aliviado inicialmente, mas começar a experimentar o tempo livre como um fardo e um desperdício de vida depois de alguns meses ou anos.

Dedicar-se a um trabalho voluntário, engajar-se em atividades comunitárias, transformar um hobby em ganha-pão, arranjar um emprego de meio período em uma área de interesse ou seguir praticando a mesma profissão de antes não só preenche o tempo como devolve a sensação de se sentir produtivo e relevante.

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