Por que transmissão por objetos voltou a ser citada? Acredite, nada mudou
Gabriela Ingrid
Do VivaBem, em São Paulo
28/05/2020 15h47
As diretrizes do CDC (Centro de Controle de Doenças), dos Estados Unidos, para prevenção do novo coronavírus se tornaram alvo de interpretações equivocadas nas últimas semanas.
Com frequência, o conteúdo publicado no site é revisado, segundo eles, "para garantir que o conteúdo seja acessível e claro para todos os tipos de público". Entretanto, uma alteração feita no dia 20 de maio deu a entender que o posicionamento em relação à contaminação por superfícies havia mudado.
Desde março, o CDC dizia que "era possível" a transmissão do vírus por tocar em objetos e superfícies contaminados, e na alteração recente separou um item só para "superfícies ou objetos", em uma seção que detalha formas pelas quais o coronavírus não é transmitido diretamente. O que mudou no posicionamento do órgão? Absolutamente nada.
O CDC segue com a mesma diretriz de sempre, alertando que o contato com superfícies e objetos contaminados pode transmitir o vírus, mas que não é a forma principal de transmissão. No texto editado do órgão, eles explicam: "Pode ser possível que uma pessoa adquira a covid-19 tocando em uma superfície ou objeto com o vírus e, em seguida, tocando sua própria boca, nariz ou possivelmente seus olhos. Não se acredita que essa seja a principal maneira de o vírus se espalhar, mas ainda estamos aprendendo mais sobre como esse vírus se espalha."
Segundo Carlos Magno Fortaleza, médico infectologista e membro da diretoria da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia), foi uma mudança de ênfase na diretriz e não de sentido. "O documento anterior dava a mesma importância a esse tipo de transmissão. Não é que você encosta no objeto e já 'pega' o vírus. Você contamina a mão e acaba levando ao nariz, aos olhos ou à boca", diz.
Fortaleza afirma que essa transmissão pode até acontecer, mas não é ela que mantém a epidemia, ou seja, não é a mais comum. O principal meio de transmissão do Sars-CoV-2 é através do contato próximo entre pessoas, normalmente por meio de gotículas espalhadas no ar quando uma pessoa infectada fala perto, espirra ou tosse.
Para esclarecer a confusão, o próprio CDC publicou uma nota no dia 22, explicando por que fizeram a polêmica alteração no texto: "Foram feitas edições na organização da página de transmissão da covid-19, incluindo a adição de um título na tentativa de esclarecer outros tipos de propagação além de pessoa para pessoa. Essa mudança pretendia facilitar a leitura e não era resultado de nenhuma ciência nova".
Ele continua: "Depois que surgiram relatos da mídia que sugeriam uma mudança na visão do CDC sobre a transmissibilidade, ficou claro que essas edições eram confusas. Portanto, mais uma vez editamos a página para fornecer clareza."
Agora, a página sobre transmissão colocou a seção de superfícies em um novo item: "O vírus pode se espalhar de outras maneiras". Parece que ficou mais claro.
Tenho que continuar a higienizar objetos?
Apesar de toda a confusão, a recomendação continua a mesma. "A gente deve, primeiro, continuar higienizando as mãos", diz Fortaleza. As mãos são o maior vetor que vai levar o vírus ao corpo.
Em segundo lugar, devemos continuar higienizando as superfícies chamadas de "alto toque". "Então, o problema não é chão, parede ou teto. O problema é maçaneta, teclado do computador, celular. São objetos que a gente toca mais e pode se contaminar", diz.
O infectologista ainda reforça que esse tipo de transmissão por superfícies de alto toque, se ocorrer (ainda é uma dúvida se ela ocorre), é algo incomum, menos importante. "A interpretação anterior do CDC dava a entender que ela era de igual importância com a contaminação por gotículas. Mas ela é predominantemente aérea".
A higiene das mãos é reconhecidamente um fator que protege das doenças respiratórias. "Há um excesso de foco na higiene das superfícies. Isso não quer dizer que não é para fazer, mas dê preferência às superfícies e objetos que tocamos muito e, claro, higienize as mãos com frequência", diz Fortaleza.
O médico pede pelo foco nas medidas simples: uso de álcool 70% para desinfetar superfícies de alto toque, manter o distanciamento social e uso de máscaras. Além disso, se possível, respeitar o distanciamento de, no mínimo, dois metros entre as pessoas.