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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Erisipela é infecção bacteriana na pele que requer antibióticos específicos

Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

31/05/2022 04h00

Quando alguém lhe pedir um exemplo de doença que teve seus números reduzidos ao longo dos anos graças ao avanço da ciência e das condições sanitárias, lembre-se de citar a erisipela, uma enfermidade que decorre da infecção por bactérias nas áreas mais superficiais da pele. Desde a descoberta do antibiótico e da melhora da saúde pública, ela teve sua incidência diminuída.

Essa doença pode acometer pessoas de todas as idades, especialmente os idosos, e é ligeiramente mais frequente entre as mulheres. A razão para isso é que esses grupos são mais afetados por doenças venosas.

Em geral, para se instalar, ela precisa de uma porta de entrada —que pode ser uma ferida ou mesmo uma frieira entre os dedos dos pés. No entanto, em algumas situações, ela se manifesta sem causa aparente.

Uma vez que esteja presente algum de seus sintomas, o conselho médico é não esperar para buscar ajuda especializada. Isso porque o tratamento deve ser imediato, o que se faz por meio do uso de antibiótico.

A depender das condições gerais de saúde do paciente e da gravidade do quadro, o medicamento pode ser administrado pela via oral ou endovenosa. Embora a resposta e a recuperação sejam relativamente rápidas, a erisipela é uma doença que pode se repetir ao longo do tempo. Nesses casos, pode ser indicada uma terapia preventiva.

Entenda o que é erisipela

Trata-se de um quadro infeccioso que acomete a pele e os tecidos superficiais da pele (derme e epiderme).
Em geral, não é possível diferenciar a erisipela da celulite, que também é uma infecção bacteriana. A diferença é que esta se instala na parte mais profunda da pele, alcançando até a gordura subcutânea, aquela que vem logo abaixo da pele.

Importante saber que celulite relacionada à erisipela não se confunde com o que popularmente chamamos de celulite, cujo incômodo é o estético. Assim, alguns médicos poderão se referir à doença como complexo erisipela-celulite.

Por que isso acontece?

A erisipela decorre de uma infecção por bactérias, especialmente um grupo delas denominado Streptococcus, embora outras também possam estar relacionadas, como o Staphylococcus aureus.

Em geral, a pele é uma barreira eficaz contra esses microrganismos, mas eles podem se propagar rapidamente quando encontram alguma "porta de entrada", como um machucado, por exemplo.

Além de um ferimento na pele, outros fatores podem facilitar esse processo:

  • Ter tido erisipela anteriormente
  • Cortes cirúrgicos
  • Frieiras e micoses
  • Picada de inseto
  • Alergias (como o eczema)
  • Situações que reduzem a imunidade (diabetes descontrolado, HIV, uso de determinados medicamentos)
  • Varizes e outros problemas venosos (insuficiência venosa crônica)
  • Edema ou obstrução linfática
  • Síndrome nefrótica
  • Obesidade
  • Abuso de drogas intravenosas
  • Doenças do fígado
  • Gravidez

A erisipela é contagiosa?

De acordo com os especialistas consultados, a erisipela é causada por bactérias e, portanto, é considerada uma doença contagiosa. Apesar disso, em geral, as bactérias associadas a ela, sozinhas, não são capazes de causar a doença.

Na maioria das vezes, para que a erisipela se instale, é preciso que estejam presentes um ou mais fatores predisponentes, como os acima listados.

Quem precisa ficar mais atento?

A erisipela pode acometer homens, mulheres e até crianças, mas é um pouco mais frequente no grupo feminino —possivelmente por fatores hormonais que predispõem a problemas como as varizes— e os idosos, que acumulam fatores de risco como a fragilidade da pele, o diabetes, problemas venosos e obesidade.

Saiba como reconhecer os sintomas

Em geral, a erisipela se manifesta nas pernas, mas ela também pode aparecer em outras partes do corpo, como a face, os braços ou o tronco. As apresentações típicas da doença são as seguintes:

Sintomas sistêmicos (acometem o corpo geralmente 48 horas antes da manifestação da pele)

  • Mal-estar geral
  • Febre moderada a alta
  • Calafrios
  • Aumento dos gânglios linfáticos (ínguas)

Sintomas locais

  • Mancha vermelha na pele (começa pequena, é delimitada e unilateral)
  • Calor
  • Dor
  • Inchaço
  • Coceira e queimação locais
  • Bolhas e vesículas (embora em alguns casos elas não apareçam))

Quando procurar ajuda médica?

O conselho dos especialistas é que, ao observar mudanças na pele, como o aparecimento de uma cor avermelhada e brilhante, que é acompanhada por calor ou dor locais, você esteja atento à possível evolução do quadro.

Se essas condições persistem e ou se agravam, é preciso buscar atendimento médico. Quando somam-se febre e mal-estar geral, a providência deve ser imediata.

Geralmente quem faz o primeiro atendimento de pacientes com erisipela é o médico de plantão do pronto-socorro (que pode ser um clínico geral). Isso porque, em boa parte dos casos, o diagnóstico é de urgência e não dá para esperar o encaminhamento ou o agendamento com o especialista.

Apesar disso, os profissionais mais indicados para avaliar e tratar a erisipela são o dermatologista, o infectologista e o angiologista (cirurgião vascular).

Como é feito o diagnóstico?

Na hora da consulta, o médico ouvirá a sua queixa, levantará seu histórico de saúde e fará o exame físico. Este, buscará identificar não somente o local acometido, mas também a presença de alguma "porta de entrada" (como uma frieira nos pés ou ferimento na pele), quem nem sempre estará presente.

O diagnóstico se baseará nessas informações e, assim, é chamado de diagnóstico clínico.

Em quadros mais graves ou entre pacientes com doenças debilitantes, pode ser solicitado exame sanguíneo para identificar sepse (infecção generalizada) ou algo mais sério.

Como é feito o tratamento?

De acordo com o dermatologista Egon Daxbacher, coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da SBD, o objetivo do tratamento é combater a infecção e, para esse fim, utilizam-se antibióticos por via oral ou venosa (em casos mais graves).

"A escolha do fármaco varia e depende de o paciente ter ou não doenças associadas, ou se já tomou antibióticos recentemente", diz.

Em geral, o tratamento dura de 7 a 14 dias e, após 48 horas do seu início, já poderá ser observada a melhora geral do paciente. Nos 10 a 15 dias posteriores, espera-se a recuperação total.

Para aumentar o conforto do paciente, podem ser indicadas a elevação dos pés (se esta for a região afetada) e massagens. Embora essas medidas não bastem para o combate da erisipela, elas aliviam os sintomas.

Como tratar as possíveis feridas em casa?

Na maioria das vezes a erisipela não gera feridas na pele, e é mais comum que sua manifestação seja caracterizada por vermelhidão, edema (inchaço) e calor na região.

Apesar disso, algumas pessoas podem ter bolhas. Nesses casos, cabe ao médico orientar os cuidados necessários, assim como a melhor forma de higienizá-las e fazer curativos.

Saiba quais são as possíveis complicações

Elas são consideradas raras, especialmente quando há diagnóstico precoce e tratamento adequado. Nos raros quadros nos quais aparecem, elas se resumem a abcessos, pneumonia, meningite, tromboflebite e formação de bolhas.

"A mais temida delas, porém, é a sepse que, embora também seja rara, pode aparecer entre pacientes mais graves e em organismos mais debilitados", fala a dermatologista Ana Lúcia França da Costa, professora da UFPI.

A erisipela pode aparecer de novo?

Sim. A literatura sobre a doença revela que a repetição pode ocorrer em 20% a 50% dos casos, mesmo após o devido tratamento e a completa recuperação. A dermatologista Helena Barbosa Lugão, hansenóloga e preceptora do HCFMRP-USP, diz que isso acontece, na maioria das vezes, porque não há controle dos fatores de risco.

A médica acrescenta que "como a erisipela pode prejudicar o sistema linfático, outra possível sequela é o linfedema, ou seja, o acúmulo de linfa nos tecidos e que promove o inchaço. Este, por sua vez, aumenta o risco de ter uma nova erisipela, o que estabelece um ciclo vicioso".

Para pacientes com essa característica, pode ser indicado um tratamento preventivo (profilaxia) com antibiótico para evitar as repetições. A literatura sobre essa prática indica que há redução do risco de reincidência em 69%. Os dados são da Cochrane.

Dá para prevenir?

Sim, e o segredo é ter hábitos de vida saudáveis para controlar os vários fatores de risco (varizes, diabetes, obesidade, etc.) relacionados à erisipela.

Outras providências incluem adoção de boas práticas de higiene como lavar e secar muito bem os pés e a pele, evitar ferimentos ou picadas de inseto, usar sapatos confortáveis e meias que servem de proteção contra lesões.

Caso sofra algum corte na pele, lave-o com água e sabão e cubra o local com um curativo, evitando deixá-lo exposto. Além disso, evite usar sabonetes antibacterianos sem orientação médica.

Fontes: Ana Lúcia França da Costa, dermatologista e professora da UFPI (Universidade Federal do Piauí) e integrante do corpo clínico do Hospital Universitário da mesma instituição, que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Egon Daxbacher, dermatologista e coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Helena Barbosa Lugão, dermatologista especialista pela SBD, hansenóloga e preceptora do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), atuando também na Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. Revisão médica: Helena Barbosa Lugão.

Referências: SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Michael Y, Shaukat NM. Erysipelas. [Atualizado em 2021 Aug 11]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK532247/.

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