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Vírus do herpes pode aumentar risco de desenvolver diabetes, aponta estudo

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Imagem: iStock

Luiza Vidal

De VivaBem, em São Paulo

12/05/2022 09h35

O vírus do herpes é extremamente comum na população, pois é facilmente transmitido. Com diferentes tipos, ele fica latente (adormecido) após a primeira infecção e pode se manifestar em qualquer momento da vida, principalmente quando há algum impacto na imunidade da pessoa.

De acordo com um novo estudo publicado pelo periódico Diabetologia, da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, nesta quarta-feira (11), esses vírus podem contribuir para o desenvolvimento de pré-diabetes e diabetes tipo 2.

Os mecanismos ainda não estão claros, segundo os autores do estudo. No entanto, eles explicam que o vírus do herpes pode afetar o metabolismo, principalmente a glicose —o que resultaria no diabetes. Mas isso tudo sem concluir causalidade e, sim, uma associação.

Como o estudo foi feito

A pesquisa foi baseada em dados de saúde de 1.967 indivíduos do sul da Alemanha, pela plataforma de pesquisa chamada Kora (Cooperative Health Research in the Augsburg Region).

Os participantes foram submetidos a exames de saúde detalhados entre 2006 e 2008 e, 7 anos depois, a um acompanhamento médico entre 2013 e 2014.

Isso incluiu exames de tolerância oral à glicose e medição da hemoglobina glicada, que mostra o controle do açúcar no sangue nos últimos três meses, além de testes para detectar a presença de 7 tipos de vírus da herpes:

O grupo de estudo tinha uma idade média de 54 anos no início do estudo: 962 (49%) eram homens e 999 (51%) eram mulheres.

Entre os participantes, 1.257 apresentavam tolerância normal à glicose no início do estudo, com possível risco para pré-diabetes.

As variáveis associadas ao risco de diabetes também foram avaliadas no início do estudo, como gênero, idade, IMC (índice de massa corporal), anos de escolaridade, tabagismo (sim/não), atividade física no lazer (ativo/inativo), diabetes dos pais (sim /não) e hipertensão (sim/não, definida como pressão arterial maior que 140/90 mmHg).

Importante citar que o pré-diabetes é um estado em que o nível de glicose já está alterado, mas ainda não preenche os critérios para o diabetes tipo 2 (DM2). E, segundo os autores do estudo, pesquisas anteriores descobriram que a taxa de incidência do diabetes tipo 2 é muito maior em pessoas com pré-diabetes do que entre indivíduos com tolerância normal à glicose.

Os principais achados do estudo

A prevalência de pré-diabetes foi de 27,5% no início e 36,2% no acompanhamento, enquanto o diabetes tipo 2 estava presente em 8,5% dos participantes no início e 14,6% no acompanhamento.

Dos 1.257 voluntários com tolerância normal à glicose no início do estudo, 364 desenvolveram pré-diabetes e 17 desenvolveram DM2 durante o período médio de acompanhamento de 6,5 anos.

Os autores descobriram que idade, IMC, tabagismo e anos de escolaridade estavam associados ao risco de um indivíduo desenvolver pré-diabetes e DM2.

Os exames de sangue no início do estudo descobriram que o Epstein-Barr vírus (EBV) era o tipo de herpes mais prevalente, com 98% do grupo soropositivo, seguido por HSV1 (88%), HHV7 (85%), VZV (79%), CMV (46%), HHV6 (39%) e HSV2 (11%).

Cerca de um terço (34%) testou positivo para mais vírus no final do período de acompanhamento, 54% tiveram o mesmo número e apenas 12% foram positivos para menos vírus do que no início.

Entre os sete tipos de herpes examinados, o HSV2 e o CMV foram mais associados à incidência de pré-diabetes entre indivíduos com tolerância normal à glicose no início do estudo.

Indivíduos com HSV2 foram 59% mais propensos a desenvolver pré-diabetes do que aqueles que eram soronegativos, enquanto a infecção por CMV foi associada a um aumento de 33% na incidência de pré-diabetes.

O estudo descobriu que tanto o herpes do tipo 2 quanto o citomegalovírus contribuíram de forma consistente e complementar para o desenvolvimento de pré-diabetes, mesmo considerando gênero, idade, IMC, escolaridade, tabagismo, atividade física, diabetes dos pais, hipertensão, níveis lipídicos, resistência à insulina e glicose em jejum.

Herpes nem sempre são detectados por anticorpos no sangue

De acordo com os autores, a infecção pelo vírus geralmente ocorre na primeira infância, mas pode ocorrer mais tarde na vida. Por isso, uma das barreiras do levantamento é que, embora as soroconversões observadas possam ser casos novos, é mais provável que ocorram devido à resposta imune a um vírus não detectado anteriormente.

Da mesma forma, concluem, uma pessoa que perde a soropositividade não pode ser considerada livre do vírus e é muito mais provável que esteja em estado de latência indetectável.

Importância do estudo

Os mecanismos pelos quais esses vírus podem contribuir para o desenvolvimento de pré-diabetes ou diabetes tipo 2 ainda precisam ser descobertos. Segundo os autores, tanto o herpes tipo 2 quanto o citomegalovírus causam infecções crônicas que podem modular o sistema imunológico, estimulando ou suprimindo sua atividade —o que, por sua vez, pode influenciar a função do sistema endócrino (hormonal).

Por fim, os autores concluem que mais pesquisas são necessárias para entender a relação entre o herpes e o diabetes. No entanto, o resultado é importante para avaliar estratégias de prevenção viral de saúde pública, possivelmente incluindo o desenvolvimento de vacinas eficazes contra o herpes.