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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Doença mão-pé-boca, causada por enterovírus, é muito contagiosa

Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

26/07/2022 04h00Atualizada em 26/07/2022 10h27

Imagine uma enfermidade cujos sintomas acometem várias regiões do corpo ao mesmo tempo, dificultando a prática de atividades como comer, caminhar e manusear objetos. Ao manifestar-se por meio de feridas dolorosas na boca e na língua, além de erupções nas palmas das mãos e na sola dos pés, a doença ou síndrome mão-pé-boca é um incômodo comum que pode durar por até mais de 1 semana.

Definida como altamente contagiosa, essa enfermidade pode afetar qualquer pessoa, mas é mais frequente entre crianças com idade inferior a 5 anos. Relacionada a alguns vírus da família dos enterovírus, a doença é considerada sazonal em países de clima temperado: no verão ou no começo do outono, são comuns surtos em escolas e creches.

Na maioria das vezes, a síndrome é autolimitada, isto é, se resolve sozinha, sem a necessidade de medicamentos específicos contra o vírus, mas a depender da gravidade do quadro, pode ser necessária intervenção médica para controle de suas manifestações. As maiores preocupações são eventuais complicações neurológicas e cardíacas. No entanto, elas são raras.

Entenda o que é a doença mão-pé-boca

Trata-se de uma infecção viral altamente contagiosa que acomete áreas determinadas do corpo como a mão, o pé e a boca, mas também pode afetar a região genital e as nádegas.

Por que isso acontece?

Na maioria das vezes a doença tem como causa uma infecção por vírus do gênero dos enterovírus, como o Coxsackie, também conhecido como Coxsackievírus, em especial o tipo A16 e o enterovírus A 71.

Esses vírus são encontrados em secreções respiratórias (do nariz ou da boca, como saliva, coriza ou muco nasal, etc.) e em fezes de pessoas infectadas.

O contágio se dá de forma direta ou indireta, mesmo antes da manifestação de seus característicos sintomas, ou seja, nas seguintes circunstâncias:

  • Contato de pessoa a pessoa (como por exemplo, por meio de um beijo)
  • Pelo ar (tosse ou espirro)
  • Pelas fezes (incluindo água contaminada)
  • Contato com superfícies e objetos contaminados

Saiba reconhecer os sintomas

As manifestações iniciais dessa síndrome são:

Após cerca de 2 dias, poderão ser observadas as seguintes condições:

  • Feridas dolorosas na boca e na língua (lesões vesiculares)
  • Erupções (lesões avermelhadas que se transformam em bolhas) nas palmas das mãos, nas solas dos pés, mas também nos tornozelos, cotovelos, genitais e/ou nádegas

Em alguns casos, 3 a 8 semanas após a infecção pode apresentar-se também o descolamento da unha nas mãos e/ou nos pés, o que é definido pelos médicos como onicomadese.

Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Socidade Brasileira de Pediatria, explica que apesar da descrição dessas típicas manifestações, nem sempre elas estarão presentes nas infecções pelos enterovírus.

"Algumas crianças terão somente febre. Outras, apenas um quadro intestinal", diz. "De modo geral, a doença não necessita de intervenção terapêutica, isto é, melhora sem a necessidade de medicamentos, além daqueles utilizados para aliviar sintomas [sintomáticos]. Salvo exceções, é importante saber que a evolução do quadro é favorável e benigna", conclui Sáfadi.

Após a infecção, quanto tempo leva para os sintomas aparecerem?

Na maioria das vezes, isso acontece de 3 a 6 dias após a infecção, o que é definido pelos médicos como período de incubação.

Quem precisa ficar atento?

Qualquer pessoa pode ser infectada, mas a doença é mais frequente entre crianças com idade inferior a 5 anos de idade.

Como a imunidade ao vírus não é definitiva e vários enterovírus podem levar a esse quadro, é possível ter a enfermidade mais de uma vez.

Quando procurar ajuda médica?

Os médicos afirmam que a doença pode ter solução no período de 7 a 10 dias. Apesar disso, o sinal de alerta para buscar ajuda especializada pode ser a dificuldade da ingesta de alimentos, o que pode levar à desidratação.

Além disso, "alguns quadros podem revelar um acometimento do SNC (Sistema Nervoso Central) que, para além dos sintomas comuns, poderá se manifestar por meio de tremores, fraqueza, sudorese fria e febre persistente (39°C) por mais de 48 horas", fala a pediatra Adriana Oliveira Andrade Batistella, docente da cadeira de pediatria da PUC-PR - campus Londrina.

Outra hipótese é uma febre persistente que pode indicar a presença de infecções secundárias que precisam ser combatidas com antibióticos. É importante estar atento ainda a sinais de complicações, como a persistência de sintomas por muitos dias sem que ocorra alguma melhora.

Crianças com vulnerabilidade imunológica ou bebês com menos de 6 meses de idade também devem ser observadas com atenção, especialmente se seus sintomas sugiram maior gravidade.

Em todas essas situações, é preciso que o paciente seja avaliado por um pediatra ou um generalista (clínico geral) o mais rápido possível.

Como é feito o diagnóstico?

Na hora da consulta, o médico ouvirá sua queixa, levantará seu histórico de saúde e familiar e fará o exame físico. Ele também considerará a presença de algum surto local ou sazonal.

Fabiana Aiston Filgueira, pediatra e infectologista da UFRN, esclarece que existem exames de laboratório que podem ser realizados, como o de sorologia, e provas moleculares (PCR), mas na prática eles são solicitados em situações específicas porque, na maioria das vezes, o diagnóstico se baseia nas informações trazidas pelo paciente e as colhidas pelos médicos, além do exame físico, ou seja, ele é clínico.

Como é feito o tratamento?

O tratamento da síndrome tem como objetivo aliviar os sintomas como dor e febre, o que se faz por meio do uso de analgésicos, bem como outras medicações que reduzam o desconforto causado pelas lesões.

Além disso, indica-se manter o paciente hidratado para prevenir a desidratação, já que pode ser difícil alimentá-lo de forma adequada.

Quando a internação é necessária?

Acometimento de áreas extensas e muitas lesões na cavidade bucal (garganta, boca e língua) podem requerer internação quando haja dificuldade de ingerir alimentos. Nesses quadros pode ser necessária a alimentação via sonda.

Além disso, caso haja suspeita de comprometimento do SNC, o paciente deverá ser internado para observação.

O que esperar do tratamento?

A maioria das pessoas se recupera totalmente no prazo de cerca de 1 semana —e no máximo em 21 dias. A infecção não confere imunidade definitiva e novos quadros podem ser repetir.

Possíveis complicações

Embora raros, quadros mais graves podem levar a complicações como a persistência da estomatite e das feridas na cavidade bucal, o que dificulta a alimentação, principalmente se a criança é muito pequena.

Quando a síndrome se relaciona a um tipo específico do vírus, o enterovírus 71, pode haver maior risco de comprometimento neurológico, o que potencializa o aparecimento de encefalite, meningite, etc.

Mais raramente ainda, o coxsackievírus pode levar à pneumonia, pericardite, miocardite e edema pulmonar. Há ainda evidências de que ele também pode estar envolvido em abortos espontâneos.

Quem tem essa doença deve deixar de ir à escola ou creche?

A orientação dos especialistas é de que é melhor manter crianças com a doença em casa. O retorno às atividades só deve acontecer após o decurso de 24 horas sem febre, e com todas as feridas cicatrizadas.

Outro bom parâmetro é manter o pequeno em casa por 1 semana após o início do quadro. É importante avisar a escola ou a creche para que os responsáveis estejam atentos a eventuais surtos e também à melhor higienização local.

Dá para prevenir?

Sim. Para proteger-se desses vírus, adote medidas de higiene como as descritas a seguir:

  • Lave as mãos frequentemente com sabão e pelo tempo de, ao menos, 20 segundos;
  • Mantenha superfícies, brinquedos e as áreas em que as crianças brincam limpas e desinfetadas;
  • Evite contato pessoal com pessoas que estão infectadas.

Na China, que registrou aumento de casos da síndrome nos últimos anos, já existe uma vacina aprovada desde 2015, que previne a doença. No entanto, até o momento, não existe experiência de uso do imunizante fora desse território.

Fontes: Adriana Oliveira Andrade Batistella, médica pediatra com especialização em infectologia e docente da cadeira de pediatria da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) - campus Londrina; Fabiana Aiston Filgueira, médica pediatra e infectologista da MEJC-UFRN (Maternidade Januário Cicco da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), vinculada à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), e professora do Departamento de Pediatria da mesma universidade; Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, professor de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e presidente do Departamento de Infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). Revisão médica: Marco Aurélio Palazzi Sáfadi.

Referências: SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria); Guerra AM, Orille E, Waseem M. Hand Foot And Mouth Disease. [Atualizado em 2022 Mai 10]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK431082/.

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