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'Meu noivo gringo me abandonou após mentir que se mudaria para o Brasil'

Gabriela se casaria em abril e descobriu há menos de duas semanas que seu noivo, um austríaco, não poderia deixar o país Imagem: Acervo pessoal

De Universa, em São Paulo

27/03/2024 04h05

Gabriela Brandini, 28, se casaria daqui a um mês, mas tudo mudou após descobrir uma série de mentiras do então noivo. Ele, que é austríaco, a fez acreditar estar de mudança para o Brasil, quando, na verdade, não podia sair do país de origem, por responder a um processo de roubo. À Universa, a empresária conta sua história e o sentimento ao descobrir a verdade:

"Conheci meu noivo em um aplicativo de relacionamentos no começo do ano passado. Ele é austríaco e ambos configuramos o app para vermos pessoas de São Paulo. Em uma semana decidimos nos levar a sério e combinamos de ficar exclusivos.

Nosso primeiro encontro presencial foi no começo de maio de 2023, na Áustria, quatro meses depois de nos conhecermos. Já fizemos planos de casar sem nem nos vermos pessoalmente, porque tínhamos os mesmos objetivos de vida: ter filhos e construir uma família. Por isso, o pedi em casamento naquele mesmo mês, em maio, no dia do aniversário dele.

O pedido foi algo mais simbólico. Falei que era uma demonstração de como eu estava levando o nosso relacionamento a sério. Ele entendeu, aceitou e nos identificamos como noivos a partir de então.

Primeiro, a gente combinou de casar no civil e fazer uma comemoração pequena, coisa de família. Mas eu sou doida e falei que queria com tudo o que tivesse direito. Cogitei até fazer um empréstimo, mas um familiar falou que me emprestaria o dinheiro e eu pagaria mensalmente depois de ajustar as minhas contas.

Fui para a Áustria de novo em agosto. Toda a família dele me adorou e ficou muito feliz com os nossos planos. Desde o começo, concordamos que ele viria morar aqui. Sou filha única, disse que não deixaria as minhas coisas, e ele topou.

Meu noivo fazia faculdade e recebia uma bolsa do governo. Ele trancou o curso em setembro, falando que ia começar a trabalhar, porque planejava guardar uns 5 mil euros até chegar aqui. Eu fui contra, falei para manter o dinheiro do auxílio. Mas ele disse que ia, e eu confiei. Aí, começou a trabalhar em uma loja.

A ideia era ele vir para cá no final no ano, só que eu tenho uma loja de roupas e fica uma loucura em dezembro. Começava a trabalhar às 8h e parava depois da meia-noite. Falei que se ele viesse, ficaria sozinho em casa e combinamos dele vir só em janeiro de 2024.

Foi quando algo estranho começou a acontecer. Desde o começo de dezembro percebi que ele não comprava a passagem, só dizia que ia ver. E a data do casamento já estava marcada para abril.

No dia 2 de janeiro, meu então noivo descobriu uma trombose e não poderia viajar de avião por seis semanas. Essa parte é verdade, porque ele já teve esse problema outras vezes. Por aqui, fiquei angustiada se ele poderia vir ao casamento.

O médico o liberou para viajar no início de março, e eu falei: 'Perfeito, compra a passagem e vem'. Foi o que ele fez. Quer dizer, a parte de comprar a passagem.

Preciso dizer que nunca notei nenhum comportamento estranho nele antes de dezembro. Desconfiei, porque era para ele estar aqui na primeira semana de janeiro e nada de vir. Também começou a evitar falar da família e, nas últimas cinco, seis semanas, não fazia questão de conversar por chamada de vídeo. Sabia que ele tinha depressão e achei que estava bem forte naquele momento.

Até que tudo mudou há duas semanas. Ele chegaria em 21 de março, mas no dia 15 simplesmente me mandou uma mensagem falando que não ia conseguir vir, porque não tinha dinheiro.

Liguei para ele e falei para ter calma, para vir, porque eu tenho uma loja de roupa, a gente daria um jeito, tentaria abrir um site. Moro em uma casa grande, podíamos ficar por lá um tempo, mas ele repetia que não conseguiria.

Cheguei ao ponto de implorar e dizer: 'A gente se ama e vai conseguir, não me faz passar por essa humilhação de não aparecer no casamento'.

Estava com uma amiga em casa, que disse que ele devia estar com medo, para a gente conversar no dia seguinte, porque ele voltaria ao eixo. E eu estava certa de que sim.

No outro dia, fui trabalhar. Ele avisou que estava na casa da mãe e eu falei que ia ligar para conversarmos. Foi uma ligação de 1 hora e 20 minutos. Ele chorando muito e eu sem entender. Eu já tinha falado: ou você vem, ou a gente termina. E ele pedindo mais tempo, só que a gente se casaria em 40 dias.

Até que eu falei: 'É isso, você não vem?'. Ele disse que não, e eu disse: 'Então a gente terminou'.

Gabriela em uma das provas do vestido. "Quer pôr a foto de noiva na matéria? Já chega chutando o pau da barraca", disse durante entrevista à Universa Imagem: Acervo pessoal

A descoberta

Fiquei em choque e escrevi para a mãe dele, contando a minha versão. Mandei fotos da casa que íamos alugar, tudo. Ela disse estar em choque também, porque ele já sabia desde novembro que não poderia vir ao Brasil.

Ficamos uns 40 minutos no telefone. Ela fala inglês, por isso conseguirmos conversar. Essa foi a sorte, já que não falo alemão nem ela fala português.

Descobri que ele não trabalhava desde agosto, época em que eu estava lá, inclusive. Ele roubou dinheiro da loja em que trabalhava, a patroa descobriu, ligou para ele e o demitiu.

No momento da ligação em que ele foi demitido, eu estava dormindo, devido ao fuso horário. A chefe avisou que ia mandar uma viatura para o apartamento, e ele implorou que não. Não desconfiei de nada, porque ele me acordou dizendo que tinha que ir até a loja só.

Como foi denunciado, ele precisa participar de audiências. Por isso, não podia vir para o Brasil.

Segundo a mãe, ele tem vários problemas, está bebendo bastante e é viciado em cassinos online, gasta bastante com isso. Ela disse até que emprestou 2 mil euros para ele pagar o aluguel. Ele voltou a trabalhar em novembro, mas já saiu em fevereiro.

A parte que mais me chocou foi o roubo da loja, porque ele sempre me passou valores de muito caráter e de ser trabalhador. Percebi isso quando conheci os avós, com quem ele foi criado grande parte da infância.

Eu fiquei anestesiada, honestamente. Já sentia que alguma coisa errada poderia acontecer. Sonhei que ele não viria, até contei para ele.

Tô anestesiada até agora. Uma sensação de ter sido burra misturada com a de 'por que comigo?'

Ele se internou numa clínica de saúde mental e demorou a me procurar, mas mandou vários áudios dizendo que sempre vai me amar, que estragou tudo, que vai ter que conviver com as consequências dos próprios atos.

Também perguntou quanto gastei com o casamento. Disse que assim que sair da clínica vai encontrar um emprego e me pagar. E vai ter que pagar mesmo, se não pagar, eu vou processar, vendo meu carro só para ir lá dar na cara dele.

No fundo, sei que é tudo muito triste. A minha história é sobre um homem abusado física e psicologicamente na infância e que precisava de ajuda e acompanhamento desde sempre. Ajudei, incentivei a buscar tratamento, mas precisou chegar a esse nível para procurar ajuda.

Foi um livramento? Foi. Mas também foi um abandono. E acho que isso é muito uma coisa de homem. Pode ser seu melhor amigo de infância, mas ele só sabe o que acontece da porta para fora da sua casa, dentro não. Mulher se apoia mais.

Agora, estou tentando remanejar alguns fornecedores do casamento para o meu aniversário. A banda já estava paga, então falei para eles virem tocar na minha casa e vou convidar umas 20 pessoas para a gente curtir o que era para ser a noite do meu casamento.

Também comecei a compartilhar vídeos contando essa história nas redes sociais e isso vem me ajudando a ocupar o meu tempo livre. Assim, não tenho tempo para pensar no que aconteceu.

Quero seguir a minha vida como antes. Focar em construir minha loja física de roupas femininas plus size online e ficar rica."

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