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'Dói demais': mulheres falam sobre recuperação da cirurgia de endometriose

A esteticista Carolina Camata, 36, sentiu dores por mais de 10 anos e só foi diagnosticada após tentar engravidar sem sucesso Imagem: Acervo pessoal

De Universa, em São Paulo

26/07/2022 13h36

Mulheres diagnosticadas com endometriose, uma doença onde o endométrio, mucosa que reveste a parede interna do útero, em vez de ser expelido na mentruação, acaba caindo na cavidade abdominal. Sua multiplicação na região, cria uma 'teia' que pode afetar diversos órgãos femininos, reprodutivos e digestivos, têm uma coisa em comum: as dores incapacitantes. Foi justamente esse sofrimento sem resposta que fez a cantora Anitta, que recentemente passou por um procedimento cirúrgico por causa da doença, vir a público falar sobre o assunto.

Após sua alta hospitalar, a cantora usou sua conta no Twitter para compartilhar o que passou: "Saio dessa experiência desejando que todas as mulheres do mundo tenham mais acesso ao diagnóstico e entendimento dessa doença que afeta tanta gente mas é, ao mesmo tempo, tão pouco falada", publicou. Durante a internação, ela também reclamou de dores constantes. "Que recuperação maldita, viu. Dói, senhor. Quem aqui já fez essa cirurgia, pelo amor de Deus?", perguntou aos seus seguidores.

O professor do departamento de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo Alexander Kopelman, especialista em endometriose, diz que a cirurgia é importante para a retirada completa dos focos da endometriose. "Não basta cauterizar", diz ele, em entrevista a Universa. "A melhor forma de operar, e menos invasiva, é a videolaparoscopia convencional ou por vídeo robótica. As duas opções são minimamente invasivas e permitem boa visualização para a retirada dos focos da doença", diz

Segundo o especialista, a recuperação não costuma ser muito dolorida nesses casos. O que não se pode é deixar enganar: apesar das incisões serem pequenas, de 5 a 10 milímetros, trata-se de uma cirurgia complexa. "Na recuperação de cirurgias que não são abertas, as pacientes não costumam se queixar muito de dor no pós-operatório, mas de um desconforto que se torna tolerável com o uso de remédios", diz. Se não houver necessidade de retirar pedaços do intestino, no dia seguinte, segundo ele, a paciente já pode se movimentar sozinha, tomar banho e ter alta do hospital. Quando existe a necessidade de mexer nesse órgão, a internação pode durar sete dias.

"Quem tem alta no dia seguinte, quando não há remoção de intestino, pode voltar a trabalhar, em geral, entre oito e 10 dias. Se houver remoção, a liberação para o trabalho pode levar até 14 dias. Exercícios físicos e relações sexuais costumam ser liberados entre 30 e 35 dias após a cirurgia", diz Alexander.

Por isso, dores fora do padrão devem ser comunicadas ao médico. "O que deve chamar a atenção é uma dor aguda abrupta e quando a dor, após alguns dias da cirurgia, for moderada, mas vier acompanhada de febre, mal-estar ou calafrio", alerta o médico.

'Passei 10 dias no hospital'

A publicitária Andressa Dreka, 34, fez oito cirurgias por conta da endometriose Imagem: Acervo pessoal

A publicitária Andressa Dreka, 34 anos, fez oito cirurgias por causa da endometriose —para lidar com a doença e as consequências dela. E, assim como Anitta, está há 10 anos nessa batalha. "Em 2012 eu descobri a endometriose por causa do rompimento do meu apêndice. Foi quando eu soube que a doença tinha chegado ao meu intestino", conta, em entrevista a Universa. A partir disso, ela entrou na fila do SUS para que conseguisse tratamento.

Andressa teve pedras no rim devido à obstrução do ureter, tudo por consequência da endometriose. "Ano passado tirei o útero e foi a melhor decisão que já tive. Para mim, funcionou muito bem", conta. Ela fez dois tipos de cirurgia, por videolaparoscopia e a aberta, devido à grande quantidade de tecido cicatricial.

"A recuperação da videolaparoscopia é bem dolorida. Os médicos colocam gás em sua barriga, para ela inchar e eles conseguirem ver melhor. A dor depende também da quantidade de pedaços que o médico tira. Nesse formato, eu tive alta no dia seguinte, mas a cirurgia aberta me deixou 10 dias no hospital, com bastante dor", conta.

'Demorei um mês para me recuperar'

Para Débora Maturana, 42 anos, diretora de comunicação e especialista em crises, a recuperação das três cirurgias que fez por causa da endometriose foi complicada. "Na primeira, eu retirei o útero, um ovário e as trompas. Foi dolorido demais, pois os órgãos reprodutores são muito vascularizados. Foi muito difícil, demorei um mês para me recuperar", relata a Universa. A endometriose de Débora tinha chegado aos seus nervos e ela estava perdendo o movimento das pernas.

Por conta da aderência dos tecidos cicatriciais, o ureter de Débora acabou bloqueado, então ela precisou passar por mais uma cirurgia e ainda fazer uso de um cateter durante a recuperação. Novamente sua recuperação foi demorada e dolorida. Segundo ela, apenas a terceira, quando precisou tirar um pedaço do intestino afetado pela doença, é que o pós-operatório foi mais tranquilo. "Retirei cerca de 10 a 15 centímetros do intestino e foi bem mais sossegado, não dá nem para comparar. Quando mexi nos órgãos reprodutores a recuperação foi muito mais sofrida", conta.

'Fui a mais de sete médicos'

Para Carolina, nada era pior do que as dores que sentia antes do diagnóstico Imagem: Acervo pessoal

A esteticista Carolina Camata, 36 anos, sentiu dores por mais de uma década e passou em mais de sete médicos. Mas, em entrevista a Universa, disse que só durante sua tentativa de engravidar é que o diagnóstico foi citado por um especialista. "Sempre tive cólica. Cheguei a ir a mais de sete médicos e me diziam que eram diversas coisas: amenorreia, que era normal, que quando eu engravidasse ia passar. Nunca me pediram um exame", conta.

Em agosto do ano passado ela passou por um procedimento cirúrgico. "Já estava colado em meu intestino. O médico suspeitou que eu tinha endometriose há mais de 10 anos. Fiquei sete horas no centro cirúrgico e precisei tirar 12 centímetros do intestino. Havia a possibilidade de eu ir para a UTI, mas não precisou", diz Carolina. Segundo ela, a primeira noite não foi muito fácil, mas ela não sofreu muito com o pós-cirúrgico.

"Eu tinha dores se eu ficasse muito tempo parada, mas não tive quase nada de dor. Ela vinha por conta dos gases que injetaram na barriga. Os médicos precisaram limpar meu assoalho pélvico, tinha um pouco em minha bexiga, no tórax e no fígado. Senti uma leve dor no tórax, mas fiquei bem", diz.

Para Carolina, nada era pior do que as dores que sentia antes do diagnóstico. "Perto do que eu sentia, o pós-operatório não foi nada. Eu tinha dores incapacitantes, de não conseguir trabalhar ou trabalhar só dopada com muito remédio para conseguir ficar em pé", completa.

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