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Sem dormir no pós-parto, Rafa Brites queima casaco. Qual limite do cansaço?

Rafa Brites, que já é mãe de Rocco, 5 anos, teve Leon no dia 22/2 Imagem: Instagram

Rafaela Polo

De Universa, em São Paulo

05/03/2022 04h00

Que atire a primeira chupeta a mãe que não passou por situações inusitadas durante o puerpério. A partir do momento em que a criança chega ao mundo, a vida dos pais vira de cabeça para baixo. E por mais que a rede de apoio seja muito organizada, é a mulher que sofrerá os maiores impactos: a adaptação à amamentação, as poucas horas de sono para trocas e alimentações noturnas, as mudanças no corpo deste novo momento... Tudo normal, certo? Sim, mas a privação de sono pode trazer consequências graves.

A apresentadora Rafa Brites publicou essa semana em seu Instagram que estragou um casaco da Max Mara, uma marca conhecida por ter preços bem altos. Ao voltar da maternidade, ela resolveu colocar o casaco para arejar na janela por cima da penteadeira que estava com a luz acesa. Enquanto se arrumava para ir ao pediatra, a influencer, que naquela noite tinha dormido apenas 3 horas, não percebeu que o tecido em contato com a lâmpada queimou a peça — nem percebeu o cheiro. Foi o marido, o apresentador Felipe Andreoli, que foi até o quarto e fez o alerta.

Em sua conta na rede social, ela abriu uma caixinha para que as seguidoras narrassem situações semelhantes. E o resultado foi uma enxurrada de respostas de diversas mães que passaram momentos complicados e, muitas vezes, de terror. Teve quem disse que estava na rua e não lembrava mais como chegar na casa do parente porque teve um apagão, quem bateu o carro indo para o trabalho por não dormir e outras diversas situações de objetos queimados.

Rotina e rede de apoio são essenciais

Nos primeiros meses de vida da criança, a privação de sono das mães é quase inevitável. A rotina de sono de um bebê é completamente diferente da dos adultos. Enquanto temos cerca de 8 horas de sono seguidas, os pequenos podem fazer intervalos de duas em duas horas de pequenos cochilos. "É normal que o bebê durma durante o dia e acorde mais à noite. Eles ainda não têm organização do ciclo de sono e não entendem como é esse processo. Eles ainda estão acostumados com o útero da mãe e vão amadurecer com o desenvolvimento", diz o pediatra Pedro Cavalcante.

Esse comportamento é ideal para o crescimento e desenvolvimento do bebê, que está começando a descobrir o mundo, mas bastante sofrido para os pais. Os primeiros três meses são um período muito difícil, mas o pediatra afirma que algumas atitudes podem ir ajudando a se criar rotina de sono: não brincar com a criança antes de dormir, não deixar os cochilos serem longos demais no final do dia e dar um banho relaxante à meia-luz perto da hora do sono são boas opções. Deixar o recém-nascido dormir em ambiente claro e movimentado da casa durante o dia também é uma boa tática para que ele entenda que aquele é um momento de agitação.

O ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana, Fernando Prado, destaca que essa falta de sono, além de tornar possível a ocorrência de acidentes domésticos, também pode ser prejudicial à saúde da mulher. "A privação pode aumentar a chance de depressão pós-parto e o risco de doenças cardíacas como consequência da elevação de pressão da mulher. Além disso, a falta de sono pode proporcionar ainda o desenvolvimento de diabetes ou de alta glicemia de fase transitória, que acontece porque o mecanismo da melatonina, o hormônio do sono, é responsável por regular o pâncreas durante a gravidez, além de atrapalhar a produção natural de insulina no corpo", explica. A mulher também pode apresentar altos níveis de estresse, nervosismo e, como no caso da Rafa Brites, esquecimento.

E por se tratar de um momento de amamentação, não há remédios para "curar" essa privação, apenas o sono mesmo. "A melatonina, quando usada por receita médica, pode ser uma opção. A mulher também pode tomar chás de maracujá ou hortelã para ajudar a ter um sono mais natural, pois eles não chegam ao leite em quantidade que seja prejudicial ao bebê", explica Fernando. Ter uma rede de apoio também é essencial. "A amamentação desgasta muito a mulher e não é tão lindo e maravilhoso como falam. Há também os momentos que o bebê precisa do cheiro e calor só da mãe. Mas não é para sempre", completa Pedro.

Também aconteceu com elas

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"Deixei o apartamento cheirando queimado por dois dias"

Ana Carolina pegou no sono enquanto colocava a chupeta do filho para esterilizar Imagem: arquivo pessoal

"Eu tenho muita sorte e enxergo meu privilégio. Eu sempre tive uma rede de apoio muito forte. Tinha minha mãe, minhas irmãs, minhas tias, minha sogra, meu marido... Todos ajudaram muito porque sabiam da necessidade de apoiar a mulher nesse momento. Mas tem a amamentação, que é algo só seu, mesmo que tenha alguém que te ajude.

Nos primeiros dias, o bebê não dorme bem e você levanta muito à noite. Eu fiquei muito cansada. Minha mãe passava o dia comigo, mas à noite ia para casa e ficávamos só eu e meu marido. Eu dormia mal. No primeiro mês, fui esterilizar uma chupeta e coloquei um pouco de água para ferver. Sentei e acabei dormindo. Na minha cabeça tinham se passado 10 segundos, mas já acordei com um cheiro de fumaça muito forte. A água secou, a chama aumentou e queimou o cabo da panela. Eu só acordei pelo cheiro da fumaça, que ficou no apartamento todo e demorou uns dois dias para sair.

Meu segundo filho, o Benjamim, que tem um ano, nasceu durante a pandemia, então o cenário foi outro. Estávamos em home office, mas mesmo assim contei com muito apoio. A privação de sono é estranha, porque você acha que está bem, mas não tem muita consciência que não dormiu, quanto tempo ficou sem comer, quando tomou banho... Você se envolve tanto no cuidado com o bebê que esquece de você. Por isso o apoio é tão importante. Minha mãe e marido foram perfeitos cuidando de mim nesse período". Ana Carolina Castro, 32 anos, jornalista, de São Paulo. Mãe da Isabel, 7 anos, e Benjamim, 1 ano

"Chorei de desespero achando que tinha perdido a bebê que tinha dado para meu marido"

"Você não quer ouvir que está exausta, faz com que você se sinta incapaz e ainda tem um bebê para cuidar", diz Vanuza, mãe da Maria Cecilia, de 1 anos e 8 meses Imagem: arquivo pessoal

"Eu passei por vários apertos durante o puerpério e sei que acontece com outras mulheres. Como a Maria Cecília nasceu prematura e precisou ficar na UTI por 27 dias, nessa época não lembrava de nada: de tomar remédio, de comer direito e de ir ao banheiro. Uma das vezes, fui sair de casa no automático para visitá-la e percebi dentro do carro, quando eu já estava suja, que não tinha colocado absorvente naquele dia. Fiquei péssima, com vergonha e não sabia nem se era algo que eu teria coragem de contar para as outras mães.

Uma das cenas que mais me marcou foi quando a bebê já estava em casa. Eu morria de medo de deixá-la sozinha e acontecer alguma coisa. Uma noite ela acordou e eu não quis chamar meu marido. Amanheci com ela no colo, com os olhos queimando por não dormir. Parecia que tinha areia dentro. Quando eu já não aguentava mais ficar acordada, chamei meu marido. Ele a tirou do meu colo, saiu do quarto e foi para sala para que eu pudesse dormir.

Eu sentei na cama e fiquei, de olhos abertos, na posição de amamentação, como se a Maria Cecília estivesse no meu colo. Quando meu marido viu a cena e me chamou, entrei em desespero. Comecei a procurá-la muito. Eu não sabia onde estava e nem o que estava fazendo. Ele me acalmou e eu tive uma crise de choro. Só depois eu fui entender o que estava acontecendo. Na hora é assustador.

Você não quer ouvir que está exausta assim, isso faz com que você se sinta incapaz e ainda tem um bebê para cuidar. Minha rede de apoio era boa. Tinha minha sogra, meu marido, minhas cunhadas e até meus sobrinhos, que têm 20 e 11 anos, que pediam para ficar um pouco com a bebê enquanto eu dormia. O importante é que essa fase passa e depois a gente acaba se divertindo com as histórias", Vanuza Oliveira, 34 anos, cabeleireira, Osasco. Mãe da Maria Cecilia, de 1 anos e 8 meses

"Meu filho colocou produto de limpeza na boca antes que eu acordasse"

Débora, mãe do João Vitor, 9 anos, e Heitor 3 anos: "já comecei a dormir mal durante a gestação" Imagem: arquivo pessoal

"Quando estamos em um ponto de extrema exaustão, até as atividades mais simples ficam difíceis de lidar. Sou mãe de dois filhos, João Victor, de nove, e Heitor, de três anos. O pequeno sempre foi mais arteiro, principalmente quando começou a andar e engatinhar. Quando Heitor tinha um ano, ele chegou a colocar um produto de limpeza na boca antes que eu conseguisse acordar. Eu tinha deixado na noite anterior um vidro de água sanitária em cima da pia, porque tinha lavado o chão e esqueci de guardar, talvez justamente pelo cansaço.

Ele acordou, saiu da cama, viu que tinha algo de diferente no banheiro, subiu na pia e colocou na boca. Mas quando sentiu o gosto, vomitou. Senti falta dele na cama e, quando fui procurá-lo, senti o cheiro do vômito. Ele tinha mamado há pouco tempo, então foi encostar que voltou tudo. Por isso ele nem precisou ir ao hospital. As crianças são muito rápidas, é preciso estar atenta 100% do tempo.

Na verdade, nossa privação de sono já começa durante a gestação, né? Dor nas costas, mal-estar... Quando o bebê nasce, começam as trocas e mamadas noturnas. Aí você não tem mais aquele sono tranquilo. Para mim, você só volta a dormir bem quando eles têm uns 3 ou 5 anos. Minha mãe faleceu um mês após o nascimento do meu primeiro filho e, com meu marido trabalhando o dia todo, eu não tinha uma rede de apoio. Tive que aprender tudo sozinha" Débora Ramos, 39 anos, confeiteira, de São Paulo. Mãe do João Vitor, 9 anos, e Heitor 3 anos

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