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"Após descobrir câncer aos 20 anos, deixei a física para ser sexóloga"

Nany Maravilha sente que passou a valorizar mais o toque depois de fazer quimioterapia Imagem: Acervo pessoal

Nany Maravilha em depoimento Ana Bardella

De Universa

12/07/2021 04h00

"Desde pequena, tenho muita sede de conhecimento. Explorei e continuo explorando muitas áreas de estudo, mas a sexualidade ganhou grande força na minha vida, em especial depois de ser diagnosticada com um câncer.

Era uma criança que já me interessava por muitos assuntos. Um exemplo disso? Quando tinha 12 anos, estudava em um colégio de freiras, que ficava do lado de uma sex shop. Naquela época, livros sobre sexualidade não eram vendidos em livrarias comuns — apenas em lojas eróticas, como esta. Quando soube disso, juntei dinheiro e pedi a uma amiga mais velha que comprasse um deles para mim. Foi assim que iniciei meus estudos sobre o tema, ainda na adolescência.

No entanto, achava que a minha maior aptidão estava na área de exatas. Tanto que, aos 19 anos, ingressei em uma faculdade de matemática e física. Uma descoberta, porém, veio para revolucionar a maneira como eu enxergava a vida. Sempre fui conectada com meu corpo e percebi, aos 20 anos, que um dos meus ombros estava levemente maior do que o outro. Era algo quase imperceptível — menos de um centímetro — porém, ciente do histórico de câncer na minha família, fiquei muito cismada e fui ao médico.

Após uma biópsia da região, descobri que minhas desconfianças estavam certas: fui diagnosticada com tumores entre o coração e pulmão, embaixo do braço e em volta do pescoço.

Mesmo fazendo quimio e radioterapia, não abandonei os estudos

Nany começou a falar sobre sexualidade há 12 anos, através do YouTube Imagem: Acervo pessoal

Foi um choque enorme para a minha família, que tinha acabado de me ver entrar na faculdade. Mas tentei levar da forma mais leve possível. Uma vez que iniciei o tratamento, avisei aos professores, colegas e recebi muita ajuda. Sempre que eu fazia uma sessão de quimioterapia, tinha que faltar nos próximos três dias, porque passava muito mal. Minhas amigas, no entanto, levavam a matéria até minha casa, para que eu pudesse continuar estudando.

Graças a estas gentilezas, não desisti do curso. No ano seguinte, havia terminado o tratamento, então meus cabelos cresceram e a vida voltou ao normal. Eu, entretanto, me sentia diferente. Quando fazia quimioterapia, namorava, mas percebi que o rapaz com quem eu estava não era atento às minhas necessidades e decidi encerrar a relação. Além disso, passei a dar muito mais valor ao toque, já que, na época em que fazia o tratamento, sentia muitas dores só de receber um abraço.

Senti que meu interesse pela área da sexualidade estava aumentado cada vez mais, porém, ainda assim completei a graduação. O diploma é algo de que me orgulho muito: como o curso exige muitos dos alunos, houve 64 desistências ao longo dos anos. Ao final, permanecemos apenas eu e mais cinco colegas.

"Tive que vencer a vergonha para começar a falar sobre sexualidade"

Logo ingressei no mercado de trabalho e passei a dar aulas sobre o assunto. Depois de alguns meses, fui trabalhar em um porto, na área de estatística, e meu salário subiu consideravelmente. Animada com a possibilidade de estudar mais, comecei a fazer minha segunda graduação, comércio exterior, e, simultaneamente, um curso de sexologia — o primeiro de muitos que já fiz na área.

Aos 24 anos, reencontrei o menino com quem havia dado meu primeiro beijo, que àquela altura já era um homem. Começamos a namorar e estamos casados até hoje.

Ele foi quem mais me incentivou a falar sobre sexualidade na internet. Apesar de já ter estudado tanto sobre o assunto, morria de vergonha de me expor. Aos poucos, ele foi me convencendo do contrário, de que mesmo as pessoas mais instruídas eram carentes desse tipo de informação. E assim, há 12 anos, lancei meu primeiro vídeo no YouTube, falando sobre pompoarismo. O assunto foi tomando tamanha proporção que deixei a matemática e a física e hoje me dedico só a ele.

Aos 40 anos e grávida de um menino, ainda tenho muitos planos para a o futuro: pretendo abrir um espaço no campo, voltado para terapia de casais, a fim de facilitar com que eles se reconectem. E sei que jamais vou me esquecer da maior lição que o câncer me ensinou: agradecer à vida todos os dias pela oportunidade de continuar desfrutando dela"

Nany Maravilha, de Curitiba (PR), tem 40 anos, é formada em "matemática e física" e "comércio exterior". É pós-graduada em "neurociência e comportamento" e mestre em "engenharia de produção". Especialista em "sexualidade e saúde da mulher e do homem", além de "fisioterapia e uroginecologia".

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