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App liga mulheres negras a trancistas: "Ferramenta de representatividade"

"Muitas meninas pretas alisam o cabelo. As tranças vem como uma das formas de iniciar a transição capilar" Imagem: iStock

Mariana Gonzalez

De Universa

17/03/2021 04h00

"Uma das coisas que mais me motivam a falar sobre beleza, especialmente com mulheres pretas, é a capacidade que os cuidados físicos têm de se refletir em nosso bem-estar global, em nossa autoestima e motivação para mudanças mais profundas." A afirmação é da colunista de Universa Xan Ravelli, que em texto publicado na semana passada, fala sobre a importância das tranças para mulheres negras.

Mas quando uma mulher decide trançar seus cabelos, achar um profissional qualificado não é uma tarefa sempre fácil, como encontrar um salão para cortar os fios. Observando a rotina de trabalho da namorada, Giovanna, que é trancista, o desenvolvedor de aplicativos Gabriel Nogueira, 28, criou o Real Braids, uma plataforma para tentar facilitar o encontro entre as trancistas e clientes.

"Comecei a notar que havia uma deficiência no atendimento desse tipo de profissional, que acabava perdendo clientes por não ter uma forma organizada de contato", conta Nogueira. Em geral, as trancistas trabalham sozinhas, e muitas atendem na própria casa ou na casa dos clientes — ou seja, não têm uma equipe e fazem sozinhas o contato com os clientes, o agendamento e a compra dos produtos, além dos penteados em si, que levam algumas horas para ficarem prontos.

Funciona assim: o cliente cadastrado busca o trancista mais próximo de sua localização, passa as informações necessárias para o penteado — tipo de trança, cor, comprimento, materiais — e solicita o agendamento, que o profissional pode aceitar ou não. O custo do serviço é estabelecido pelo pela trancista e pode variar bastante, entre R$ 150 a R$ 400, a depender do penteado, do comprimento dos fios e do material que será usado.

Gabriel e a namorada Giovanna, que é trancista Imagem: Arquivo pessoal
Maioria dos profissionais está em SP ou no RJ Imagem: Reprodução/Real Braids

"Quando a ideia surgiu, eu estava deitado, pronto para dormir, e pensei: 'Nossa, eu tenho como resolver o problema da Giovanna. Levantei, e comecei a desenhar algumas telas. Em três meses, eu tinha um protótipo funcionando", lembra.

A primeira versão, ainda em fase de testes, ficou pronta em novembro de 2020, e foi atualizada conforme retorno dos usuários. O Real Braids está funcionando para valer há cerca de um mês e já reúne 660 clientes e trancistas cadastrados — a maioria dos profissionais está concentrada na Grande São Paulo e na zona norte do Rio de Janeiro.

"Às vezes penso: por que grandes empresas desenvolvedoras de aplicativo não criaram algo parecido antes? Vejo o Real Braids não só como um aplicativo, mas como uma ferramenta de representatividade étnica e cultural", diz Gabriel.

Tranças como fonte de autoestima

Monique Evelle, empresária e ativista, divulgou o Real Braids em suas redes sociais há pouco mais de uma semana — a partir da publicação, o app ganhou elogios também da influenciadora Rita Batista e da cantora Preta Gil.

A empresária, que já usou tranças e hoje mantém dreadlocks, disse a Universa que vê as tranças como "aliadas na construção de autoestima das mulheres negras", e concorda que o aplicativo é uma ferramenta de representatividade, mas, mais do que isso, de fonte de renda para mulheres negras.

"Muitas meninas pretas alisam o cabelo desde a infância e desconhecem seus cabelos naturais. As tranças vêm como uma das formas de iniciar a transição capilar", afirma. "O aplicativo não só traz representatividade, mas geração de renda para as mulheres negras. Quantas trancistas foram impactadas por conta da pandemia?", diz.

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