Topo

Luiza Sahd

Contra chantagem emocional, testei a comunicação não defensiva

Só quem vive de armadura sabe o quanto ela pesa no dia a dia - Nik Shuliahin/ Unsplash
Só quem vive de armadura sabe o quanto ela pesa no dia a dia Imagem: Nik Shuliahin/ Unsplash

Colunista do UOL

21/10/2020 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Eu nem sabia que precisava assistir a um vídeo sobre chantagem emocional até assistir a um vídeo sobre chantagem emocional. Tudo começou quando descobri o trabalho da psicanalista Elisama Santos. Fui passear pelo Instagram dela e cliquei aleatoriamente no vídeo abaixo, que faz parte de uma série de três conteúdos sobre chantagistas emocionais.

Todo mundo é ou conhece esse tipo de pessoa. Às vezes, os dois. "Não tem erro, vou assistir", pensei.

E não tinha erro mesmo. Vivemos na era da culpa — agravada, agora, pela pandemia e pela hipótese de que a gente vire vetor de uma doença letal, matando velhinhos pela rua, acidentalmente. Sentimos culpa por trabalhar muito, por não trabalhar, por não cuidar do corpo, por ter vaidade, por dormir até tarde ou pela insônia. A culpa gruda feito piche em todo mundo que tente corresponder satisfatoriamente ao que o mundo demanda de nós. Nesse caso, nada é mais natural do que virar presa fácil para os chantagistas emocionais: eles conseguem o que querem insinuando que somos pessoas más quando dizemos "não". Assim se fazem sabe Deus quantas arapucas chantagistas todos os dias.

Nos vídeos de Elisama, o conceito de comunicação não defensiva chama a atenção. Se trata, basicamente, de não se defender quando alguém diz algo injusto sobre nós. Faz todo sentido: não existe maneira mais eficiente de inflamar uma briga do que começar a explicar por que alguém que não está disposto a ser justo está sendo injusto conosco — ato conhecido popularmente como "bater palma pra doido dançar". Existem situações em que o melhor a fazer é não se justificar, e Elisama pode provar essa teoria.

Em seu canal, ela recomenda estratégias simples para escapar de chantagem emocional, que vão desde ganhar tempo para tomar uma decisão — dizendo algo como "não consigo te responder agora, preciso pensar" — até formas de responder à pessoa que faça ameaças quando não consegue o que quer. Na comunicação não defensiva, a gente diz "não queria que você fizesse isso, mas a decisão é sua" ou "sinto muito que você pense isso sobre mim, mas não vou te convencer" no lugar de "você é um p%&a injusto do c$r"lh%" ou "já expliquei mil vezes que etc".

Testei e funciona mesmo: mais do que convencer a pessoa que discute com a gente de forma desleal, não se defender de acusações infundadas e recorrentes faz qualquer sujeito se sentir mais leve por tirar uma armadura pesada demais para usar no dia a dia. Quando eu entendo que não preciso desmentir outra pessoa, estou também contando a mim mesma que não sou culpada, um monstro ou uma fraude. Outra novidade boa é que não posso ter controle de tudo o que vão pensar sobre mim. Nesse caso, não adianta nem tentar — apesar de a gente viver tentando.

Suportar a dor de dizer "não" pode ser extremamente difícil para algumas pessoas. Somos seres gregários e usamos o olhar do outro como referência para decidir o que achamos de nós mesmos. O equilíbrio entre o que a gente sabe sobre si e o que nos contam da gente é um desafio para o qual nenhum especialista tem resposta conclusiva, mas o sofrimento físico e psíquico ao dizer "não" é uma boa pista para indicar quando não estamos no balanço ideal. Se livrar daquele aperto no peito ou da tensão nos ombros que acomete quem sempre está se defendendo de chantagem emocional é gostoso demais. Recomendo.

Além de evitar discussões improdutivas e vínculos abusivos, experimentar a comunicação não defensiva acaba induzindo uma prática de amor próprio muito bonita. Quando não nos defendemos de ameaças injustas, ganhamos nosso próprio apoio e acolhimento.

Para aprender mais sobre comunicação não defensiva, Elisama recomenda em seus vídeos o livro "Chantagem Emocional", da autora norte-americana Susan Forward.