Pesquisador da USP usa bactéria para criar tomates sem sementes

Você é do tipo que tira as sementes do tomate para fazer um molho liso e gostoso? Um biólogo brasileiro encontrou a maneira de criar tomates sem sementes, o que pode facilitar as receitas e beneficiar pessoas com restrições intestinais para o consumo de sementes.
Para isso, Eder Marques, doutorando da USP (Universidade de São Paulo), coloca o tomateiro em contato com uma bactéria durante 45 dias. Após o prazo, a bactéria agrobacterium é eliminada com o uso de antibiótico.
O biólogo descobriu que o aumento da presença de uma molécula no DNA, a microRNA159, tinha como resultado frutos com mesmo tamanho e sabor, mas sem sementes.
“Essa bactéria tem a capacidade de infectar plantas com o DNA dela mesma. O que a biologia molecular faz é utilizá-la como ferramenta para inserir o gene de interesse. Neste caso, introduzimos mais cotas da moléculaRNA159”, explica Marques.
Todo o processo leva cerca de dois meses, o equivalente ao ciclo natural do tomate Micro-Tom, espécie utilizada no estudo que é semelhante ao tomate cereja. A pesquisa foi publicada na conceituada revista científica "The Plant Journal".
No Brasil, já são comercializados uvas, melancias e frutas cítricas (laranja, tangerina e limão) sem semente, obtidas por meio de cruzamento genético clássico.
E como se reproduz?
Já que frutos sem sementes são estéreis, o novo tomate é reproduzido por propagação vegetativa, ou seja, gerado a partir do plantio de um ramo ou folha.
Esse tipo de reprodução, que não depende de semente, pode oferecer vantagens de produtividade, segundo o engenheiro agrônomo Leonardo Boiteux, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças da Embrapa, que atua na área de melhoramento genético de tomateiros.
“O pólen do tomate é muito sensível. Em temperaturas acima de 32ºC ele se torna inviável. Então, se tivéssemos plantas partenocárpicas [que não necessitam da fecundação para produzir frutos], poderíamos ter frutos em condições ambientais adversas, principalmente levando em conta o aquecimento global”, afirma.
Boiteux afirma que antes dessa pesquisa, outros estudos tinham obtido tomates que produzem frutos com problemas de tamanho e má formação, além de serem considerados instáveis – se desenvolvem apenas em ambientes específicos.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, os melhoramentos genéticos hoje aplicados no tomate visam adaptá-lo ao clima do Brasil. “O tomate é uma planta nativa de regiões de clima mais ameno então o foco é tropicalizá-lo. O melhoramento genético é feito a partir do cruzamento de grãos de pólen entre variedades de plantas que se complementam”, explica.
No cruzamento de genética clássica, o genoma inteiro de uma planta é transferido para outra através do pólen. Já na transgenia, técnica utilizada na pesquisa da USP, apenas um ou mais genes específicos são transferidos via agrobacterium ou por meio de métodos físicos, como explica Boiteux.
De acordo com Marques, a próxima etapa do trabalho é obter a molécula microRNA159 sintética.
“A ideia agora é desenvolver essa molécula de maneira que possa ser aplicada diretamente nas folhas em desenvolvimento sem a necessidade de alterar o DNA da planta. Assim será possível controlar quando a planta vai ou não desenvolver semente”, afirma.
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