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Técnica apaga apenas memórias indesejáveis do cérebro de ratos

Do UOL, em São Paulo

20/09/2013 06h00

Pode parecer enredo de filme hollywoodiano, mas é a vida real: cientistas do Instituto de Pesquisas The Scripps, nos Estados Unidos, descobriram como apagar memórias indesejáveis do cérebro de ratos, sem afetar memórias benignas. A técnica deve ser usada no período de manutenção da memória.

A descoberta é destaque da mais recente edição do periódico Biological Psychiatry e promete auxiliar no tratamento de usuários de drogas altamente viciantes, como a metanfetamina.

A técnica livra o cérebro de certas lembranças, o que poderia fazer com que viciados deixassem de associar atos corriqueiros do dia-a-dia ao consumo das substâncias ilícitas - usuários de metanfetaminas tendem a ligar até mesmo o mascar de um chiclete aos efeitos do narcótico, despertando a vontade de estar sob efeito da droga. Ao apagar essas memórias de seus cérebros, a ligação deixaria de acontecer.

Para realizar a descoberta, os cientistas usaram ratos viciados em metanfetamina e inibiram neles a atuação da proteína actina, essencial para a criação de memórias no cérebro.

Para formar uma memória, é preciso modificar a estrutura das células nervosas por meio de alterações nas espinhas dendríticas - pequenos bulbos que recebem sinais eletroquímicos de outros neurônios. Estas alterações ocorrem pela actina, proteína que constitui a infra-estrutura de todas as células.

No estudo, os cientistas inibiram a criação de grandes cadeias de moléculas de actina durante a fase de manutenção da memória. Assim, ratos treinados para ligar os efeitos da metanfetamina a um grupo de amostras visuais, táteis e olfativas, demonstraram total falta de interesse quando expostos às mesmas amostras após receberem uma injeção que inibiu a actina em seus cérebros dias depois.

Testes comportamentais posteriormente realizados nos animais relacionaram a privação da actina à perda imediata das memórias associadas à droga, com preservação de outras lembranças dissociadas dela.

"Nossas memórias são parte de quem somos, mas algumas podem tornar a vida muito difícil", diz, na divulgação do estudo, a pesquisadora Courtney Miller.

"De forma similar à mostrada no filme Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, buscamos uma forma de selecionar e eliminar evidências de experiências relacionadas ao uso de drogas e eventos traumáticos. O estudo prova que é possível fazer isso em ratos, livrando o cérebro de memórias ligadas a drogas e mantendo intactas outras lembranças."

Agora, adianta o estudo, testes adicionais devem ser realizados para verificar a validade da técnica em cérebros humanos.

O filme Brilho Eterno, dirigido por Michel Gondry, traz os atores Jim Carrey e Kate Winslet no papel de ex-namorados que passam por tratamento em um laboratório para apagar memórias do romance vivido pelos dois. O filme foi lançado em 2004.