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Descobertos na Antártica vestígios de réptil de 150 milhões de anos

21/12/2017 17h41

Buenos Aires, 21 dez 2017 (AFP) - Cientistas argentinos encontraram na Antártica restos de um réptil carnívoro marinho que existiu há 150 milhões de anos, o que situa o registro de vida desse canto do planeta cerca de 80 milhões de anos antes do que se pensava.

"Ao caminhar pelo sítio arqueológico encontra-se uma grande diversidade de peixes, amonites (moluscos já extintos), alguns bivalves, mas não esperávamos encontrar um plesiossauro de tal antiguidade", disse Soledad Cavalli, paleontóloga do Conicet (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina) e especialista no período Jurássico (entre 200 e 145 milhões de anos atrás).

Trata-se de uma descoberta "surpreendente", segundo publica nesta quinta-feira a Agência de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de La Matanza, perto de Buenos Aires.

"A descoberta é bastante extraordinária, porque o sítio não possui o tipo de rochas nas que se pode encontrar materiais preservados em três dimensões, como é o caso das vértebras deste réptil marinho", explicou a pesquisadora.

Trata-se de uma zona explorada pela primeira vez por cientistas argentinos em busca de fósseis.

"Foi a primeira campanha paleontológica que realizamos neste afloramento, que é como um mar congelado de 150 milhões de anos em excelente estado de conservação", disse o paleontólogo José O'Gorman, pesquisador do centro científico argentino Conicet.

Os cientistas não forneceram dados sobre as dimensões do exemplar dessa espécie, que podia atingir cerca de 12 metros, tinha o pescoço longo e adaptado para a caça marinha e possuía quatro aletas.

O sítio está a duas horas de voo de helicóptero a partir da base argentina de Marambio.

"É o lugar mais afastado aonde chegamos com as campanhas de paleontologia de vertebrados na Antártica", relatou Cavalli.

Em 8 de janeiro partirá uma nova expedição.

"Iremos com instrumentos para obter uma quantidade ainda maior de exemplares", afirmou Marcelo Reguero, pesquisador e diretor das campanhas paleontológicas do Instituto Antártico Argentino.

Há 150 milhões de anos o lugar era uma área com imensa riqueza de peixes.

"É lógico pensar que o plesiossauro que descobrimos se alimentava deles porque é um réptil marinho grande e encontramos peixes de tamanho médio, alguns pequenos e alguns bastante grandes também", explica Cavalli.

A boa conservação dos restos fósseis ajudará a estabelecer dados sobre este réptil e sobre o meio onde habitava.

"Foram conservados assim porque o fundo daquele mar tinha muito pouco oxigênio, de modo que não se desenvolviam organismos que pudessem desarticular esses exemplares e também não ocorriam os fenômenos de putrefação", explicou.

O estudo, que segundo seus autores foi aceito para publicação na revista científica Comptes Rendus Palevol, também ajuda a explicar a dispersão das espécies há 150 milhões de anos.

"Estes depósitos ricos e únicos em vertebrados do Jurássico marinho pertencem à época em que a Antártica fazia parte do continente Gondwana e estava junto com Austrália, Nova Zelândia, Índia, Madagascar, África e América do Sul", explicou Marcelo Reguero.